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Quando irrompe a violência e a calamidade, nunca esquecer o Evangelho

Quando irrompe a violência e a calamidade, nunca esquecer o Evangelho

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«Tende cuidado; não vos deixeis enganar, pois muitos virão em meu nome e dirão: “Sou eu”; e ainda: “O tempo está próximo”. Não os sigais. Quando ouvirdes falar de guerras e revoltas, não vos alarmeis: é preciso que estas coisas aconteçam primeiro, mas não será logo o fim. (…) Sereis entregues até pelos vossos pais, irmãos, parentes e amigos. Causarão a morte a alguns de vós e todos vos odiarão por causa do meu nome; mas nenhum cabelo da vossa cabeça se perderá. Pela vossa perseverança salvareis as vossas almas» (Do Evangelho do 33.º Domingo, Lucas 21, 5-19).

O Evangelho guia-nos ao longo das cordilheiras da história: de um lado, a vertente sombria da violência, o coração de treva que destrói; do outro, a vertente da ternura que salva: nem um cabelo da vossa cabeça será perdido.

O Evangelho não antecipa as coisas últimas, revela o sentido último das coisas. Após cada crise anuncia um ponto de rutura, uma inversão para novos horizontes, que abre uma brecha de esperança. Virão guerras e atentados, revoluções e desilusões cruéis, ânsias e medos, mas vós levantai a cabeça, erguei-vos de novo.

Mas… é belíssimo este “mas”: uma disjunção, uma resistência àquilo que parece vencedor hoje no mundo. Mas vós levantai a cabeça: agi, não vos resigneis, não tenhais a mesma opinião, não vos rendais.



No mundo parecem vencer os mais violentos, os mais ricos, os mais cruéis, mas com Deus há sempre um depois. Bem-aventurados os opositores: os discípulos não são nem otimistas nem pessimistas, são aqueles que sabem guardar e cultivar esperança



O Evangelho convoca para o comprometido, tenaz e humilde trabalho quotidiano a partir de baixo, que toma conta da Terra e das suas feridas, dos homens e das suas lágrimas, escolhendo sempre o humano contra o desumano (Turoldo).

É a bem-aventurança dos opositores: eles sabem que a ponta do fio condutor da história está firme nas mãos de Deus. É a bem-aventurança oculta da oposição: no mundo parecem vencer os mais violentos, os mais ricos, os mais cruéis, mas com Deus há sempre um depois. Bem-aventurados os opositores: os discípulos não são nem otimistas nem pessimistas, são aqueles que sabem guardar e cultivar esperança.

E quando também a violência surge senhora e dona da história, reerguei-vos, porque nem sequer um cabelo da vossa cabeça se perderá. Expressão extraordinária acentuada por Mateus 10, 30: os vossos cabelos estão todos contados, não tenhais medo.

Homem e natureza podem libertar todo o seu potencial destrutivo, todavia não podem nada contra o amor. Diante da ternura de Deus são impotentes. No caos da história, o seu olhar está fixo em mim. Ele é o guardião enamorado de todo o meu fragmento mais pequeno.



O que deve permanecer gravado nos olhos do coração é a última linha do Evangelho: erguei-vos, levantai a cabeça, porque a vossa libertação está próxima. De pé, de cabeça levantada, livres, corajosos: é assim que o Evangelho vê os discípulos de Jesus



A visão apocalíptica do Evangelho é a revelação de que o mundo como o conhecemos, com a sua ordem fundada sobre a força e a violência, já começa a ser derrotado pela sua própria lógica. A violência autodestruir-se-á.

Levantai a cabeça e olhai para longe, porque a realidade não é só isto que se vê: há um Libertador, o seu Reino vem, virá com o florescer da vida em todas as suas formas.

O que deve permanecer gravado nos olhos do coração é a última linha do Evangelho: erguei-vos, levantai a cabeça, porque a vossa libertação está próxima. De pé, de cabeça levantada, livres, corajosos: é assim que o Evangelho vê os discípulos de Jesus.

Levantai a cabeça e olhai para longe, porque a realidade não é só isto que se vê: há um Libertador, o seu Reino vem, virá com o florescer da vida em todas as suas formas.




 

Ermes Ronchi
In Avvenire
Trad.: Rui Jorge Martins
Publicado em 11.11.2016

 

 
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