Prémio de Cultura Árvore da Vida - Padre Manuel Antunes
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Ato de Entrega do Prémio Árvore da Vida - Padre Manuel Antunes: vídeo, imagens e textos dos prelados

“Em Portugal, qual semente desfeita na terra, o cristianismo – e especialmente o cristianismo católico, tão 'sacramental' -, é inevitavelmente cultural.”

“Viver no Espírito de Cristo, significa prosseguir em diálogo, estrada fora. A Igreja comunica o que aprendeu e vai aprendendo, experimentou e vai experimentando, na comunhão com Cristo vivo. Mas sabe que, partindo da referência iniludível ao que Cristo disse e fez há dois mil anos, a sua relação actual com Cristo o vislumbra em qualquer tempo e circunstância, nessa “Galileia” em que constantemente nos desafia e espera.”

“Assim mesmo se converte o diálogo cultural entre a Igreja e o Mundo – transformado este numa “Galileia dos Gentios”, tão obrigatória como reveladora – na primeira instância duma ‘pastoral da cultural’ que se queira tal.”

Estes são alguns excertos da alocução que o presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais, D. Manuel Clemente, proferiu no ato de entrega do Prémio Árvore da Vida – Padre Manuel Antunes, cerimónia que decorreu durante a 6.ª Jornada da Pastoral da Cultura, realizada a 25 de junho na cidade de Fátima.

Depois de receber a escultura “Árvore da Vida” e o cheque de 2500 € oferecido pelo Grupo Renascença, o bispo de Beja, D. António Vitalino, evocou o trabalho dos responsáveis pelo valorização do património daquela diocese do Baixo Alentejo.

Este artigo inclui o vídeo com extratos das palavras dos dois prelados e a entrega do prémio a D. António Vitalino, fotografias da sessão e o texto integral da intervenção de D. Manuel Clemente.

 

 

Alocução de D. Manuel Clemente

1. As razões essenciais para a atribuição do Prémio Padre Manuel Antunes 2010 à Diocese de Beja já são conhecidas e figuram na acta do respectivo júri. No entanto -  e exactamente por serem essenciais – permitem-me algum sublinhado neste momento:

Quando esteve entre nós, no passado Maio, o Santo Padre dirigiu-se expressamente ao mundo da cultura, dizendo o seguinte, entre o muito mais a reter: “Para uma sociedade composta na sua maioria por católicos e cuja cultura foi profundamente marcada pelo Cristianismo, é dramático tentar encontrar a verdade sem ser em Jesus Cristo. […] A convivência da Igreja, na sua adesão firme ao carácter perene da verdade, com o respeito por outras ‘verdades’ ou com a verdade dos outros é uma aprendizagem que a própria Igreja está a fazer. Nesse respeito dialogante, podem abrir-se novas portas para a comunicação da verdade”.

Foto Da esquerda para a direita: Cón. João Aguiar (presidente do Conselho de Gerência do Grupo Renascença), D. Manuel Clemente (presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais), D. António Vitalino (Bispo de Beja), José António Falcão (director do Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja)

Fixemo-nos neste ponto: Numa sociedade como a nossa, tão cristãmente (de)marcada, “é dramático tentar encontrar a verdade sem ser em Jesus Cristo”.

Assim o sentimos, de facto, como outros o podem ressentir. Ainda há pouco faleceu um importante vulto das letras portuguesas, para quem uma certa ideia de Cristo foi problemática e quase lancinante. Mas assim aconteceu antes com vários outros e certamente continuará a acontecer.

Não é só por conservar no seu escudo as cinco quinas interpretadas como cinco chagas, ou por se ter encontrado fora de si nas velas da cruz de Cristo, que Portugal tem nesse motivo a sua cultura mais argamassada e profunda, pronta a vir surpreendentemente ao de cima, como na última visita papal. Nem é preciso ser muito perspicaz para deparar com alusões cristãs nas mais diversas ocasiões e vicissitudes da vida pessoal ou colectiva, mesmo quando se presumem totalmente laicas e profanas.

FotoP. José Tolentino Mendonça (director do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura) lê a Justificação do Júri

As palavras disponíveis estão cristãmente referenciadas, da salvação à redenção, do sacrifício à mensagem, do pródigo ao samaritano, da terra ao céu. E os símbolos disponíveis dificilmente se esvaziam do preenchimento litúrgico que tiveram ou continuam a ter, na linha da encarnação do verbo, no lance para a eternização da circunstância: palavras ditas e cantadas, silêncio e absorção do escutado, presença do sinal causador daquela “comunhão” de amigos – do retrato de quem se lembra aos restos mortais de quem partiu -, esperança alimentada em tudo isto e apesar de tudo…

Em Portugal, qual semente desfeita na terra, o cristianismo – e especialmente o cristianismo católico, tão “sacramental” -, é inevitavelmente cultural, podendo por isso mesmo ser “dramático”, na relação que cada um tenha com ele e com as instituições que mais expressamente o assinalem, como dramáticas são todas as coisas inevitáveis. Felizmente dramático, digo eu, pois isso significa algo de questionador e vivo.

Foto D. Manuel Clemente entrega escultura "Árvore da Vida" a D. António Vitalino

2. Mas retomemos outro ponto do discurso papal: “A convivência da Igreja […] com a verdade dos outros é uma aprendizagem que a própria Igreja está a fazer. Nesse respeito dialogante, podem abrir-se novas portas para a comunicação da verdade”.

A verdade evangélica – outro modo dizer tudo quanto em Jesus Cristo nos interpela – transporta a Igreja, ainda mais do que é transportada por ela. E, como acontecia com o primeiro grupo de Jesus com os discípulos, da Galileia a Jerusalém, é uma verdade “ambulante”, que se desdobra e precisa no que encontra pelo caminho e naqueles – por vezes tão outros ou nem tanto – com que depara e se tornam motivo de actuação, descoberta e parábola.

Foto

Ora, o que começou há dois mil anos é o nosso caminho actual, quer na verdade pascal da presença de Cristo, quer no progresso histórico em que a humanidade – também dramaticamente - se evidencia. De facto, coexistem as duas afirmações do último versículo de Mateus: “Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos” (Mt 28, 20). Uma presença permanente e um destino projectado.

Viver no Espírito de Cristo, significa prosseguir em diálogo, estrada fora. A Igreja comunica o que aprendeu e vai aprendendo, experimentou e vai experimentando, na comunhão com Cristo vivo. Mas sabe que, partindo da referência iniludível ao que Cristo disse e fez há dois mil anos, a sua relação actual com Cristo o vislumbra em qualquer tempo e circunstância, nessa “Galileia” em que constantemente nos desafia e espera: “Afastando-se rapidamente do sepulcro, cheias de temor e de grande alegria, as mulheres correram a dar a notícia aos discípulos. Jesus saiu ao seu encontro e disse-lhes: ‘Salvé!’ Elas aproximaram-se, estreitaram-lhe os pés e prostraram-se diante dele. Jesus disse-lhes: ‘Não temais. Ide anunciar aos meus irmãos que partam para a Galileia. Lá me verão” (Mt 28, 8-10).

Foto D. António Vitalino com o cheque de 2500€ oferecido pelo Grupo Renascença

Assim mesmo se converte o diálogo cultural entre a Igreja e o Mundo – transformado este numa “Galileia dos Gentios”, tão obrigatória como reveladora – na primeira instância duma “pastoral da cultural” que se queira tal.

 

3. Também por isso se atribuiu o Prémio Padre Manuel Antunes 2010 à Diocese de Beja. Nas últimas décadas, a Igreja de Beja tem protagonizado um exemplaríssimo percurso de diálogo cultural.

Sob a égide e com o estímulo dos seus Bispos - D. Manuel Falcão e D. António Vitalino – ouviu,  recolheu e trabalhou musicalmente as suas tradições orais e melódicas (Padres António Marvão, António Aparício, António Cartageno…), prosseguindo com a salvaguarda e a valorização do seu património edificado, plástico e pictórico (Doutor José António Falcão e os seus colaboradores), além de sucessivas iniciativas e encomendas da exposição e composição.

FotoRancho de Cantadores de Aldeia Nova de São Bento

Com tudo isto realizou e realiza do modo mais estimulante e certeiro aquele desiderato evangélico e papal. Como não deixa de ser também evangélico o facto de tudo suceder na Diocese que menos recursos teria à partida… Não lhe faltou nem falta o essencial: inteligência, sensibilidade e vontade.

Esta a razão dos nossos sinceros parabéns e da nossa responsabilidade acrescida. – Parabéns à Diocese de Beja!

Manuel Clemente
Presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais
25 de Junho de 2010

FotoEscultura "Árvore da Vida", desenhada por Alberto Carneiro

 

Fotografia: António Monteiro
© SNPC | 01.07.10

Dom Manuel Clemente
D. Manuel Clemente










Foto
D. António Vitalino

 

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