O médico e especialista em Bioética Walter Osswald foi distinguido com a edição de 2016 do Prémio Árvore da Vida - Padre Manuel Antunes, atribuído pela Igreja católica para destacar um percurso ou obra que refletem o humanismo e a experiência cristã.
«Foi uma grande surpresa, porque nunca esteve nas minhas projeções vir a receber este prémio, mas também o recebo com contentamento, ainda que me pareça uma atribuição excessiva, dada a modéstia da minha contribuição», declarou ao Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura (SNPC).
Para Walter Osswald, «não é possível que exista conflito entre existência e fé, dado que se trata de realidades que estão em planos diferentes. As ciências naturais fazem-se na investigação objetiva, com uma realidade concreta, enquanto que a fé é um dom de Deus e, ao mesmo tempo, uma conquista do homem, conquista esta que não se contrapõe à razão, dado que a ultrapassa largamente».
A entrega do prémio, que desde há 12 anos consecutivos é concedido pelo SNPC, com o patrocínio da Renascença, integra-se no programa da 12.ª Jornada Nacional da Pastoral da Cultura, que a 4 de junho debate em Fátima, na Casa Domus Carmeli, o tema "Cultura e Economia: Implicações e desafios".
Na sessão pública de atribuição da distinção, agendada para as 16h30, o presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais, D. Pio Alves, bispo auxiliar do Porto, entregará a escultura "Árvore da Vida" ao premiado, que também receberá, das mãos do Conselho de Gerência da Renascença, o valor de 2 500 euros.
Nascido no Porto a 20 de Setembro de 1928, Walter Friedrich Alfred Osswald licenciou-se em Medicina, na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, com 19 valores, em 1951, concluindo o doutoramento, na mesma instituição, em 1958.
No ano seguinte foi nomeado Assistente convidado da Faculdade de Medicina da Universidade de Frankfurt e em 1968 foi indigitado Professor Extraordinário da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, passando a Professor catedrático em 1972.
As suas principais áreas de estudo são a Farmacologia, a Terapêutica (ensaios clínicos) e a Bioética, área que ligou a outros campos do saber, como a Filosofia e Direito, e no âmbito da qual foi o primeiro detentor da Cátedra Unesco em Portugal. Foi autor, em Portugal, dos primeiros manuais de Bioética e de Farmacologia e Terapêutica.
Walter Osswald presidiu ao Instituto de Bioética da Universidade Católica Portuguesa, de que é atualmente conselheiro, foi membro do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida, dirigiu o Instituto de Farmacologia e Terapêutica da Faculdade de Medicina do Porto e foi presidente da Comissão Nacional de Humanização.
Ocupou o cargo mais alto do Grupo de Trabalho sobre Proteção do Embrião e do Feto – União Europeia e dirigiu as Comissões de Ética do Hospital de S. João, Centro Hospitalar Conde de Ferreira, Hospitais de S. João de Deus e Universidade do Porto.
A par da atividade docente, onde foi professor visitante das universidades de Gand, Paris, Düsseldorf, Frankfurt, Kuwait e Valência, orientou 15 teses de doutoramento e dezenas de dissertações de mestrado, além de ter proferido centenas de palestras e conferências.
A dedicação que tem colocado às causas humanistas perpassa toda a sua vida e obra, podendo ser especialmente conhecidas nos quase 500 artigos e vários livros que assinou, a par da coordenação de cinco volumes coletivos.
"Bioética simples" (com Maria do Céu Patrão Neves, Verbo, 2014), "Da vida à morte" (Gradiva, 2014), "Sobre a morte e o morrer" (Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2013), "Cadernos do Mosteiro" (Gráfica de Coimbra, 2007) e "Um fio de ética" (Gráfica de Coimbra, 2a. ed., 2004) são alguns dos livros de Walter Osswald, a que se junta "Mosteiros cistercienses em Portugal" (Afrontamento, 2012).
Em 2008 foi agraciado com o grau Honoris Causa pela Universidade de Coimbra, pelo seu estatuto de «cientista e universitário defensor dos princípios bioéticos», e com a Grã Cruz da Ordem de Sant'Iago e Espada, atribuída pelo Presidente da República, Cavaco Silva, por ter contribuído para a introdução da Bioética em Portugal.
O júri do Prémio Árvore da Vida - Padre Manuel Antunes foi constituído por D. João Lavrador, membro da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais, e bispo coadjutor de Angra, Guilherme d'Oliveira Martins, administrador da Fundação Calouste Gulbenkian, padre Américo Aguiar, vice-presidente do Conselho de Gerência do grupo r/com (Renascença), padre António Vaz Pinto, diretor da revista Brotéria, e José Carlos Seabra Pereira, diretor do SNPC.
Rui Jorge Martins