Mais natureza e menos asfalto para se ser feliz? A paisagem, particularmente a rural, é um dos elementos constitutivos da felicidade, afirmam investigadores.
«A paisagem não é apenas o papel de parede ou o quadro que decora uma sala ou um quarto de dormir. A sua materialidade, tal como a sua perceção, podem tem uma influência direta na nossa qualidade de vida e contribuem, nesse sentido, para o bem-estar e para a felicidade», assegura o geógrafo e agrónomo Yves Michelin.
Cerca de 150 geógrafos, sociólogos, historiadores, economistas, paisagistas, urbanistas e agrónomos de mais de 20 países debateram na semana passada, em França, a interação entre qualidade de vida e qualidade das paisagens, no âmbito da 28.ª assembleia da Conferência Europeia Permanente para o Estudo da Paisagem Rural.
Ao dado largamente admitido de que uma paisagem de ambiente saudável, protegida das poluições, tem efeitos positivos para a saúde e o bem-estar das populações, a investigação chega hoje sensivelmente mais longe.
«Estudos recentes em ciências cognitivas demonstraram que se a paisagem é agredida, isso afeta a pessoa diretamente. Sofre-se quando ela é atacada. Pelo contrário, quando a paisagem está em bom estado e é acessível, as pessoas sentem-se bem psicologicamente, refere o coordenador da conferência.
Num mundo onde o espaço livre diminui, a paisagem torna-se um ponto de referência e um fator de «enraizamento»: «Não precisa forçosamente de ser grandiosa ou pitoresca», diz Yves Michelin.
«A partir do momento em que é reconhecida, torna-se um objeto de identidade. O facto de uma pessoa se sentir em casa, de fazer parte de um território, contribui para o bem estar, contrariamente ao desenraizamento, que é devastador», acrescenta.
Pode a natureza tornar-se um medicamento? Mais do que uma enésima teoria em voga sobre o desenvolvimento pessoal, estudos interdisciplinares entre médicos, arquitetos e paisagistas provaram-no cientificamente.
Na Escócia, investigadores interrogaram septuagenários sobre o seu estilo de vida e as paisagens frequentadas após a sua infância nos anos 30, testemunhos que cruzaram com dados de saúde e sócio-económicos dos inquiridos.
«Concluímos que frequentar parques públicos durante a infância e na idade adulta pode travar o declínio cognitivo das pessoas idosas. Esta descoberta é ainda mais marcada para as mulheres e pessoas vindas de meios desfavorecidos», aponta a arquiteta paisagista Catharine Ward Thompson.
A mesma constatação foi verificada para a depressão e ansiedade: «O acesso a espaços verdes pode permitir reduzir as desigualdades sociais em termos de saúde», afirma.
Na Suécia pratica-se a «terapia da paisagem» para tratar patologias ligadas ao stress e as consequências dos AVC. Desde 2002 há doentes que são acolhidos num “jardim de readaptação” de 2300 m2, próximo de Malmö, concebido por uma equipa de paisagistas, psicólogos e psicoterapeutas.
«A terapia é progressiva. No primeiro dia o paciente é levado a observar o vento nas árvores, a tomar consciência dos ruídos da natureza, no dia seguinte a prepara chá com folhas, depois a fazer trabalhos de jardinagem ou passear na floresta», diz a investigadora Helena Mellqvist. Os custos são suportados pela Segurança Social do país.
«Se há uma mensagem a fixar é a de quanto mais se está atento à paisagem, mais se está atento aos outros» e toda a criação beneficia, constata Yves Michelin.