Tradição e evolução na Igreja
Deve haver um grande cuidado na própria Igreja católica, para mantermos aquilo
que foi acreditado em toda a parte, sempre e por todos. É isto o que verdadeira e
propriamente é católico.
Os três critérios que garantem a ortodoxia são a universalidade, a antiguidade e a
aceitação unânime... (...)
Diz o Apóstolo: Ó Timóteo, guarda o depósito da fé, evita as vãs conversas profanas. Quem é hoje Timóteo senão a Igreja na sua totalidade, e de modo particular o conjunto dos seus responsáveis, os quais devem possuir em si mesmos ou fazer com que outros adquiram toda a ciência do culto divino? ... Guarda o depósito. O que é o depósito? E o que te foi confiado, não o que tu encontraste, é o que recebeste, não o que imaginaste; não é um problema de engenho, mas de ensinamento, não de propriedade privada, mas de tradição pública. Veio até ti, mas não nasceu de ti, pelo que não deves ser autor, mas guardião; não deves ser mestre, mas discípulo; não deves ser condutor, mas seguidor. Guarda o depósito, conserva inviolável e puro o talento da fé católica. O que te foi confiado deve permanecer junto de ti e ser transmitido por ti. Tu recebeste ouro, entrega ouro; não quero que me entregues outra coisa em sua substituição. Não dês desavergonhada e fraudulentamente chumbo por ouro. Não quero ouro fingido, mas autêntico.
Ò Timóteo, ó presbítero, ó comentador, ó pregador: se o ministério divino te tornou idóneo, pela capacidade, pelo trabalho, pela doutrina, constrói o tabernáculo espiritual, esculpe as pérolas preciosas do dogma divino, une fielmente, adorna com sabedoria, acrescenta esplendor, graça e encanto. Compreenda-se claramente, graças ás tuas exposições, o que se compreendia obscuramente antes de ti. Graças a ti a posteridade felicitar-se-á por compreender o que antes de ti a antiguidade venerava sem o compreender. Contudo, ensina o mesmo que aprendeste. E, quando falares de maneira nova, não digas coisas novas
Talvez alguém pergunte: Não haverá progresso algum dos conhecimentos religiosos na Igreja de Cristo? Há, sem dúvida, e muito grande. Com efeito, quem será tão malévolo para com a humanidade e tão inimigo de Deus que pretenda impedir este progresso? Mas é preciso que seja um verdadeiro progresso da fé, e não uma alteração da fé. Verifica-se um verdadeiro progresso quando uma coisa se desenvolve sem deixar de ser ela mesma; dá-se unia alteração quando deixa de ser o que é e se transforma noutra.
É necessário, portanto, que, através das idades e dos séculos, cresça e se, desenvolva continuamente a inteligência, a ciência e a sabedoria de todos e cada um, de, cada homem e de toda a Igreja. Mas este desenvolvimento na fé deve dar-se segundo a sua natureza, isto é, conservando a identidade do dogma, da doutrina e do seu significado.
S. Vicente de Lérins (séc. V)
16.01.2009
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