Perspetivas
Paisagens
Pedras angulares A teologia visual da belezaQuem somosIgreja e CulturaPastoral da Cultura em movimentoImpressão digitalVemos, ouvimos e lemosPerspetivasConcílio Vaticano II - 50 anosPapa FranciscoBrevesAgenda VídeosLigaçõesArquivo

Patriarca diz que desafios feitos à Igreja por crentes e não crentes são sinais dos tempos

O patriarca de Lisboa considera que os desafios colocados à Igreja por católicos e por quem não assume convicções religiosas exige resposta efetiva das estruturas eclesiais, podendo estas ser chamadas a uma «conversão» que exija a sua «reforma».

«A interpelação que tantos nos fazem, crentes e não crentes, para agirmos, para falarmos, para reavivarmos a esperança, torna-se para nós um verdadeiro “sinal dos tempos”, que só nos pode comprometer, mais e mais, nesse sentido», sublinha D. Manuel Clemente em mensagem dirigida ao conselho representativo de padres do patriarcado.

A missiva, datada de 3 de junho, 11 meses após a chegada à diocese como patriarca (6 de julho de 2013), começa por assinalar que no último ano, devido a «razões sobretudo financeiras, económicas e laborais, reduziram-se muitas possibilidades imediatas, em especial no trabalho, no rendimento e nas reformas, e esfumaram-se muitas aspirações de futuro, particularmente para jovens e desempregados de meia-idade».

«Nas instituições sociais que mantemos e no atendimento pessoal que prestamos, aparecem casos difíceis e por vezes dramáticos que têm diretamente a ver com a presente situação geral do país e as muitas frustrações que ocasiona», aponta D. Manuel Clemente na carta endereçada ao Conselho Presbiteral, publicada no site do patriarcado.

Citando os papas Bento XVI e Francisco, o patriarca elenca alguns dos elementos constitutivos da «crise», como a «economia "que mata"», o «esvaziamento cultural, que dissolve valores globais e se fica por impressões e afetos» e a «dificuldade em manter verdadeiros diálogos, em que se escutem e partilhem realmente convicções e projetos».

D. Manuel Clemente critica também a «imponderação dos juízos e das decisões que se tomam à pressa», os «grandes atentados à existência humana», o alastramento de uma conceção do ser humano que desrespeita a sua «totalidade psicofísica» no que se refere à «complementaridade homem-mulher e no envolvimento familiar básico e estrutural», a par de uma comunicação social «que mais atordoa do que comunica».

«Tudo isto nos “bate à porta” na ação pastoral diária e nos desafia fortemente enquanto Igreja. Apesar das circunstâncias específicas da “crise” atual, não é a primeira vez que os cristãos e as suas comunidades são interpelados em ser para o mundo o sinal vivo de um Deus que não desiste de sustentar a criação e de a recriar em Cristo», aponta.

A reposta da Igreja passa «pela consciência e o coração de cada um, motivados pela Palavra de Deus e sustentados pela vida sacramental e espiritual persistente», mas também a toda a Igreja, recorrendo à «colaboração específica de cada membro dum corpo eclesial múltiplo e integrado: família e laicado, consagrados e ministros ordenados».

«Todos havemos de redobrar o nosso ser Igreja, para darmos ao mundo o que Deus lhe quer proporcionar através de nós – e talvez não o faça sem nós», vinca o prelado, antes de apontar as insuficiências da atual estrutura eclesial, «que conserva virtualidades, mas apresenta grandes problemas».

A organização da Igreja «assenta numa quadrícula básica diocesano-paroquial que foi montada em tempos diferentes», «acentuadamente rurais e microlocalizados em pessoas e convivências», além de que dispunham de um «número muito maior de clérigos, especialmente sacerdotes, que acabaram por absorver a quase totalidade de ações litúrgicas e apostólicas».

«Ainda hoje se nota, aqui e ali, esta tendência do “povo” para resumir a Igreja nos padres, a quem se recorre para “dizer Missa” e outros atos sacramentais, quase em relação de oferta e procura, ou de cliente e prestador de serviços, mais ou menos episódicos», refere.

Para D. Manuel Clemente, é «óbvio» que o conjunto de padres da diocese não pode corresponder a esse modelo, mesmo que, com mais sacerdotes, tivesse possibilidade de o manter.

«De facto, nem corresponde aos desafios do tempo e da sociedade “global” que é a nossa, nem coincide com aquela forma original da Igreja que os "Atos dos Apóstolos" [livro bíblico que narra os primeiros tempos da Igreja] nos indicam», frisa.

O patriarca aponta como prioridades algumas das determinações inscritas na primeira exortação do papa Francisco, "Evangelii gaudium", quando refere que não serve «uma simples administração» e que a Igreja deve constituir-se em «estado permanente de missão», para que «os costumes, os estilos, os horários, a linguagem e toda a estrutura eclesial se tornem um canal proporcionado mais à evangelização do mundo atual que à autopreservação».

A «conversão pastoral» da Igreja exige «a reforma das estruturas», para que «todas elas se tornem missionárias» e a ação da Igreja «seja mais comunicativa e aberta», colocando ao mesmo tempo «os agentes pastorais em atitude constante de "saída"».

 

Rui Jorge Martins
© SNPC | 04.06.14

Redes sociais, e-mail, imprimir

D. Manuel Clemente
Foto de arquivo (SNPC)

 

 

Artigos relacionados

 

Página anteriorTopo da página

 


 

Receba por e-mail as novidades do site da Pastoral da Cultura


Siga-nos no Facebook

 


 

 


 

 

Secções do site


 

Procurar e encontrar


 

 

Página anteriorTopo da página