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Papa lamenta ausência do Evangelho na política e critica clericalismo que abafa leigos

Papa lamenta ausência do Evangelho na política e critica clericalismo que abafa leigos

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O papa declarou hoje que a cultura cristã dificilmente consegue inspirar a política, criticou o aproveitamento pessoal dos políticos à custa do serviço público e reiterou que o clericalismo está a abafar a participação dos leigos na vida pública.

«É verdade que existem testemunhos de católicos exemplares na cena pública, mas podemos ver a ausência de fortes correntes que abrem o caminho para o Evangelho na vida política das nações. E isso não significa fazer proselitismo através da política, nada a ver», afirmou.

O bem comum, uma política de princípios cristãos e humanistas, a coerência exigida aos católicos, a falta de apoio da hierarquia e a convicção de que os leigos comprometidos não são aqueles que colaboram em “coisas de padres” constituíram algumas das questões abordadas por Francisco na mensagem em vídeo dirigida ao “Encontro de Católicos com Responsabilidades Políticas ao Serviço dos Povos Latino-americanos”.

Acentuando que «desde o papa Pio XII até agora, os pontífices sucessivos referiram-se à política como «alta forma de caridade», Francisco frisou que «é necessário que os leigos católicos não sejam indiferentes à coisa pública nem se retirem para dentro dos templos, nem esperem as diretrizes eclesiásticas para lutar pela justiça, por formas de vida mais humana para todos».

A Igreja «louva e estima o trabalho daqueles que, ao serviço do homem, se dedicam ao bem da coisa pública», sublinhou o papa, citando o Concílio Vaticano II, afirmando que é urgente «avançar para democracias maduras e participativas, livres dos flagelos da corrupção ou da colonização ideológica, ou pretensões autocráticas e demagogias baratas».

«Cuidemos da nossa casa comum e dos seus habitantes mais vulneráveis, evitando todo o tipo de indiferenças suicidas e explorações selvagens», disse, antes de lançar um apelo: «Não nos contentemos com a pequenez da política: precisamos de líderes políticos capazes de mobilizar vastos setores populares na busca de grandes objetivos nacionais».

A comunhão entre pessoas da mesma fé deve ser «mais determinante do que as oposições legítimas das opções políticas. Por algo e para algo participamos na Eucaristia, fonte e cume de toda comunhão».

 

Política é servir, não é servir-se

Francisco recordou aos participantes na iniciativa que decorre desde hoje até domingo em Bogotá, capital da Colômbia, que «a política é antes de tudo serviço; não é serva de ambições individuais, de prepotência de fações ou centros de interesses. Como serviço, também não é patroa, que pretende governar todas as dimensões da vida do povo, inclusive recaindo em formas de autocracia e totalitarismo».

O serviço que Cristo «exige dos seus apóstolos e discípulos é analogicamente o tipo de serviço que é pedido aos políticos. É um serviço de sacrifício e entrega, a ponto de às vezes os políticos serem considerados "mártires" de causas para o bem comum das suas nações», apontou.

«As pessoas olham com desconfiança e criticam os políticos e veem-nos como uma corporação de profissionais que tem os seus próprios interesses e denunciam-os com raiva, às vezes sem as distinções necessárias, como se estivessem tingidos de corrupção», afirmou.

 

Em favor do bem comum

Para o papa, «a referência fundamental» da política, «que exige perseverança, determinação e inteligência, é o bem comum, sem o qual os direitos e as aspirações mais nobres de indivíduos, famílias e grupos intermédios em geral não poderiam realizar-se cabalmente porque faltaria o espaço ordenado e civil em que viver e operar».

«É claro que não há necessidade de se opor ao serviço ao poder - ninguém quer um poder impotente! - mas o poder deve estar ordenado ao serviço para não se degenerar. Ou seja, todo o poder que não é ordenado para o serviço degenera. É claro que me refiro à "boa política", no seu mais nobre sentido do significado, e não às degenerações do que chamamos de "politiquice", frisou.

Segundo a visão de Francisco são «necessários líderes políticos que vivam com paixão o seu serviço aos povos, que vibrem com as fibras íntimas de seu “ethos” e cultura, solidários com os seus sofrimentos e esperanças; políticos que colocam o bem comum antes dos seus interesses privados, que não se deixem amedrontar pelos grandes poderes financeiros e mediáticos, que sejam competentes e pacientes diante de problemas complexos, que estejam abertos a ouvir e a aprender em diálogo democrático, que combinem a busca de justiça com a misericórdia e a reconciliação».

 

Uma política de princípios cristãos e humanistas

Na mensagem o papa lançou linhas orientadoras para uma política de princípios cristãos: «Não se pode negligenciar uma educação abrangente, que começa na família e se desenvolve numa escola para todos e qualidade. Devemos fortalecer o tecido familiar e social».

«Uma cultura de encontro - e não de antagonismos permanentes - tem de fortalecer os laços fundamentais da humanidade e da sociabilidade e estabelecer uma base sólida para uma amizade social que deixa para trás os pináculos do individualismo e da massificação, polarização e manipulação», assinalou.

 

Aos católicos requer-se coerência

Na mensagem não faltou uma referência aos políticos «que se confessam católicos», de quem não é «permitido julgar as suas consciências, mas sim os seus atos, e que muitas vezes revelam uma falta de coerência com as convicções éticas e religiosas do magistério católico. Não sabemos o que acontece na sua consciência, não a podemos julgar, mas vemos os seus atos»

«Há outros que vivem de modo tão absorvido os seus compromissos políticos, que a sua fé vai ficando relegada para o fundo, empobrecendo-se, sem a capacidade de ser critério orientador e dar o seu selo a todas as dimensões da vida da pessoa, incluindo a sua prática política», lamentou.

 

Falta de apoio da hierarquia e clericalismo

A intervenção de Francisco lembrou que «não falta quem não se sinta reconhecido, encorajado, acompanhado e sustentado na custódia e crescimento da sua fé por parte dos pastores e das comunidades cristãs. No fim de contas, a contribuição cristã no acontecer político aparece apenas através de declarações dos episcopados, sem que se perceba a missão peculiar dos leigos católicos para ordenar, administrar e transformar a sociedade de acordo com os critérios evangélicos e o património da Doutrina Social da Igreja».

Os pastores são chamados a «procurar maneiras de encorajar, acompanhar e estimular as tentativas e esforços que já são feitos hoje para manter a esperança e a fé vivas num mundo de contradições, especialmente para os mais pobres».

 

Leigos comprometidos não são aqueles que colaboram em “coisas de padres”

Ao contrário, muitas vezes os pastores caem «na tentação de pensar que o assim chamado “leigo comprometido” é aquele que trabalha nas obras da Igreja e/ou nas coisas da paróquia ou da diocese», refletindo-se «pouco em como acompanhar um batizado na sua vida pública e diária; e como se compromete como cristão na vida pública».

«Sem nos darmos conta, gerámos uma elite laical acreditando que "leigos comprometidos" são apenas aqueles que trabalham em “coisas de padres” e esquecemos, descuidámos o crente que muitas vezes queima a sua esperança na luta diária para viver sua fé», destacou.

Trata-se de «situações que o clericalismo não pode ver, uma vez que está mais preocupado em dominar espaços do que em gerar processos».

«Devemos reconhecer que o leigo, pela sua própria realidade, pela sua própria identidade, por estar imerso no coração da vida social, pública e política, por estar no meio de novas formas culturais que se geram continuamente, tem exigências de novas formas de organização e celebração da fé».

O leigo, prosseguiu Francisco, sabe muitas vezes melhor do que a hierarquia o que é necessário a cada momento: «Nunca é o pastor quem diz ao leigo o que tem que fazer ou dizer, eles sabem-no melhor que nós… Não é o pastor que tem de determinar o que têm de dizer os fiéis nas diferentes esferas».

Como pastores, unidos ao nosso povo, faz-nos bem perguntarmo-nos como estamos a estimular e promover a caridade e a fraternidade, o desejo do bem, da verdade e da justiça. Como fazemos para que a corrupção não exista nos nossos corações». Inclusive nos nossos corações de pastores. E, ao mesmo tempo, faz-nos bem escutar com muita atenção a experiência, reflexões e inquietações que os leigos que vivem sua fé nas várias esferas da vida social e política podem compartilhar connosco», afirmou.



 

SNPC
Fonte: Sala de Imprensa da Santa Sé
Publicado em 01.12.2017 | Atualizado em 19.04.2023

 

 
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