Santuário de Fátima | Peek Creative Collective/Bigstock.com
Fátima, a visita do papa Francisco a Portugal e o papel da Igreja na sociedade portuguesa foram os temas escolhidos por José Pacheco Pereira e Daniel Oliveira, ateus, para as crónicas que assinam esta quinta-feira e sábado na imprensa.
Para Pacheco Pereira, a viagem de Francisco a Portugal é «importante para todos, católicos, crentes de outras religiões, agnósticos e ateus, a minha categoria», dado que o papa «é o líder religioso mais importante do mundo».
«Embora eu não me cuide dos passos da Igreja, que não é a minha casa, preciso da voz da Papa para ajudar no combate contra a ganância, a injustiça e a miséria, porque é uma voz cuja autoridade moral pode melhorar o mundo e a vida das pessoas», observa.
No artigo de opinião que escreve hoje no "Público", o colunista sublinha que «a visita é ainda mais importante pelo facto de a maioria dos portugueses serem católicos, muitos praticantes, e a Igreja portuguesa ser muito relevante em todos os planos da sociedade, um dos poucos poderes fácticos que tem sobrevivido ao crescimento do Estado».
«Hoje, em sociedades como a portuguesa, a Igreja tem um papel positivo e não custa a um não crente admitir que a sua ausência significaria um empobrecimento social muito significativo», acrescenta.
O historiador recorda que a doutrina da Igreja fez-se sentir na fundação do PSD e do CDS, «e mesmo em partidos como o PS e o PCP existe uma influência dos olhares cristãos e de vidas que assumem o papel de serem “testemunhais”».
«Acresce que “Fátima” e tudo o que este nome invoca é um lugar de crença e fé para muitos portugueses, e essa fé deve ser respeitada, mesmo que todos os lados mundanos e políticos de Fátima não mereçam o mesmo respeito, mas, pelo contrário, escrutínio e debate público», assinala Pacheco Pereira.
"Fátima", o recente filme de João Canijo, é o ponto de partida para a crónica de Daniel Oliveira, que esclarece: «Continuando tão ateu como sempre fui, há poucas coisas no meu olhar sobre o mundo e sobre Portugal que tenham mudado tanto, desde a minha juventude até hoje, como a minha relação com a religião».
«Também sou dos que acreditam que o sacrifício autoimposto nos liberta do sofrimento que nos impõem. E que esse sacrifício, com um objetivo final - o Santuário de Fátima, uma sociedade melhor ou qualquer utopia -, só ajuda a construir qualquer coisa de real se for feito em grupo. Essa coisa real é o sentido de pertença que hoje merece escárnio da cultura do individualismo egomaníaco», anota o jornalista no "Expresso".
Para Daniel Oliveira, «é difícil compreender» o povo português «sem compreender o culto mariano, a função libertadora do sacrifício e a experiência coletiva da fé».