Papa Francisco | Ariccia, Itália | © L'Osservatore Romano
O papa continua a realizar até sexta-feira os seus exercícios espirituais de início da Quaresma, juntamente com colaboradores da Cúria Romana, em Ariccia, próximo do Vaticano, mas a sua voz ressoa desde ontem a partir da Alemanha, onde o semanário "Die Zeit" publicou na internet uma entrevista por ele concedida no fim de fevereiro e que está hoje nas bancas.
«Sou pecador e falível» constituem as palavras de Francisco que o jornal escolheu para título da conversa. O papa afirma que experimenta «momentos vazios», de dificuldade. «Eu rezo e Ele responde-me. Mais cedo ou mais tarde. Por vezes é preciso permanecer seguro numa crise», até porque «uma fé que não vive uma crise permanece infantil».
Para Francisco as vocações sacerdotais constituem um «problema grave» e «a Igreja terá de o resolver»: «O Senhor disse: rezai! Isto é o que falta: a oração. E falta o trabalho com o jovens, que procuram orientação».
A propósito da baixa taxa de natalidade, afirmou: «Onde não há jovens homens, também não há sacerdotes. Este é um problema que deveremos enfrentar no próximo sínodo. E não tem nada a ver com o proselitismo, o proselitismo não traz vocações».
Ainda sobre a falta de padres, o papa considerou que será necessário refletir se a ordenação de "viri probati", ou seja, homens com sólida vida familiar, na sociedade e na Igreja, é «uma possibilidade» em certas situações, e acrescentou: «Devemos também estabelecer que tarefas poderão assumir, por exemplo em comunidades particularmente longínquas».
Depois de sublinhar que tornar o celibato sacerdotal um opção «não é uma solução», Francisco recordou que em relação ao diaconado feminino criou uma comissão «para aprofundar o tema, não para abrir uma porta».
As declarações contra Francisco que foram anonimamente espalhadas em Roma receberam também mereceram um comentário: «O dialeto romano dos manifestos era maravilhoso. Não foram escritos por um homem qualquer das ruas, mas por uma cabeça inteligente».
«Desde que fui eleito papa não perdi a minha paz. Posso compreender que a minha maneira de fazer não agrade a alguns, e isso para mim é absolutamente bem. Cada um pode ter a sua opinião. É legítimo, humano e enriquece», continuou.
E sobre si, o que diz Francisco? «Não digo que sou um pobre diabo, mas sou uma pessoa normal, que faz aquilo que pode. É assim que me sinto».
«[Sinto que] não me fazem justiça com as expetativas», confessa, e diz que as pessoas «exageram»: «Não se esqueça que a idealização de uma pessoa é uma forma subtil de agressão». E acrescenta: «Quando me idealizam sinto-me agredido».
No domínio da atualidade política internacional, o papa assinalou que «o populismo é mau e acaba mal», especialmente quando é entendido, à semelhança do que acontece na América do Sul, como «usar o povo».
«Pense-se em 1933, após a queda da República de Weimar. A Alemanha estava desesperada, enfraquecida pela crise de 1929, e então chegou um homem que disse: eu posso, eu posso, eu posso! Chamava-se Adolf. Convenceu o povo de que ele podia. O populismo precisa sempre de um Messias. E também de uma justificação: nós protegemos a identidade do povo», apontou.
Pronunciando-se acerca da investigação teológica, Francisco é claro: «Os medos fecham as portas. Ao contrário, a liberdade abre as portas».
Sobre as próximas viagens internacionais, na agenda estão, além de Fátima, Índia, Bangladesh e Colômbia, com o Egito em estudo. Gostaria de ir ao Sudão do Sul mas não acredita que possa ser possível, e o mesmo diz dos dois Congos e da Rússia, porque gostava de visitar igualmente a Ucrânia.