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Padre António Vieira: Da corte à selva, da liberdade à cadeia, do estudo à ação, da diplomacia ao Evangelho

Imagem Padre António Vieira | Cândido Portinari | D.R.

Padre António Vieira: Da corte à selva, da liberdade à cadeia, do estudo à ação, da diplomacia ao Evangelho

«Mais do que um indivíduo, ele é uma multidão de heterónimos de carne e osso, tal a variedade dos seus talentos: missionário e diplomata; organizador e conselheiro de Estado; aventureiro e teólogo; réu da Inquisição e profeta. Este homem que habitou na terra e nas ondas do Atlântico, conviveu com reis, soldados, papas e escravos.»

É com estas palavras que Viriato Soromenho-Marques retrata a figura do Padre António Vieira na mais recente edição do "Jornal de Letras", em texto que assinala a publicação dos últimos volumes da coleção de 30 que compõem a "Obra completa" do pregador português.

A capacidade de adaptação do religioso jesuíta a realidades contrárias é também realçada pelo artigo de Carlos Reis, que evoca a "Palavra e utopia", filme do cineasta Manoel de Oliveira que «deu testemunho do que foi a existência, por entre luzes e sombras, do Padre António Vieira».

«Frequentou os salões da corte e devassou os mistérios da selva, conheceu a liberdade e o cárcere, os favores do poder e a sua ríspida vindicta, a incerteza das viagens e o perigo dos naufrágios, o estudo e a ação, a missionação e a diplomacia, a pregação e a aturada reflexão sobre os mistérios da mensagem bíblica», realça o professor catedrático.

«Várias personalidades em uma só», é o que se pode sintetizar sobre o sacerdote, acrescenta Carlos Reis: «A do artista da palavra que Vieira foi, sendo também homem do seu tempo e da ação que ele lhe pediu, pregador de Deus e político interventivo, cidadão do mundo e refundador do idioma».

Depois de sublinhar que Vieira é «um bálsamo para Portugal na questão judaica», Viriato Soromenho-Marques lembra, por seu lado, que uma das «facetas mais marcantes» do pregador é o «vigor missionário», acompanhado da convicção de que o Reino de Deus «não é deste mundo, mas pode (e deve) ser neste mundo».

«Ele convoca a força da sua fé, as capacidades de organizador e de líder de homens, a sua enorme resistência aos imensos obstáculos de uma Natureza imensa, a um tempo abundante e acolhedora, mas também hostil e perigosa», aponta o ensaísta.

O Padre António Vieira, «renascendo sempre, com vigor, e renovado poder de atração e influência»,  dá hoje «um exemplo de coragem e resiliência, perante todas as agressões e infortúnios» que Portugal vive, acentua o professor catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

«Defendeu sempre os povos ameríndios em nome de uma visão universalista da condição humana», integrando a «galeria das grandes figuras do universo católico, do pensamento e ação, que anteciparam a formulação das grandes cartas dos Direitos do Homem e do Cidadão», acrescenta.

Viriato Soromenho-Marques cita «imortais palavras» de Vieira, "Para nascer, Portugal. Para morrer, o mundo", para sustentar que «a essência nacional» reside na «capacidade de sair de si próprio, de se transcender num império» que, na perspetiva do pregador, «deveria ser baseado num cristianismo universalista, casa de voluntária adesão para todos os povos».

Carlos Reis frisa que «um dos grandes fascínios que o Padre António Vieira ainda hoje exerce sobre quem dele se acerca provém da revelação do que foi uma vida feita palavra».

«Servindo poderes e resistindo a eles, dando testemunho da mensagem cristã e perscrutando o tempo futuro, falando aos homens e mesmo aos peixes quando os homens pareciam surdos, o Padre António Vieira foi, para além de tudo, um servidor da palavra», sustenta o especialista em literatura portuguesa.

Para Carlos Reis, a "Obra completa" é agora porto de partida para quem quiser «transitar pelas veredas da palavra vieiriana, sejam eles investigadores, estudantes ou os simples leitores que em Vieira buscam a lição de cultura e de espiritualidade» que se estende do seu passado até ao presente.

 

Rui Jorge Martins
Publicado em 08.01.2015

 

 
Imagem Padre António Vieira | Cândido Portinari | D.R.
«Defendeu sempre os povos ameríndios em nome de uma visão universalista da condição humana», integrando a «galeria das grandes figuras do universo católico, do pensamento e ação, que anteciparam a formulação das grandes cartas dos Direitos do Homem e do Cidadão»
Servindo poderes e resistindo a eles, dando testemunho da mensagem cristã e perscrutando o tempo futuro, falando aos homens e mesmo aos peixes quando os homens pareciam surdos, o Padre António Vieira foi, para além de tudo, um servidor da palavra
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