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Leitura: "Os infinitos do amor"

Imagem Capa (det.) | D.R.

Leitura: Os infinitos do amor

A Paulus Editora apresenta esta quinta-feira, em Lisboa, o novo livro de José Luís Nunes Martins, "Os infinitos do amor", obra que não oferece «soluções, fórmulas ou receitas mágicas», mas «elementos que podem funcionar como bases para sentir e pensar melhor».

O volume, enriquecido com ilustrações originais de Carlos Ribeiro, é composto por «53 reflexões tão simples quanto profundas, nas quais se assumem as grandes questões da existência humana como um problema pessoal a que cada um deve dar resposta», assinala a sinopse do livro, enviada ao Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura.

A sessão de lançamento do terceiro livro de crónicas do autor, de que adiantamos um excerto, realiza-se no Teatro Nacional de São Carlos, às 19h00. A apresentação será do P. Gonçalo Portocarrero de Almada, que também assina o prefácio.

«Não sendo, em sentido técnico, um filósofo, o José Luís Nunes Martins é, no entanto, um pensador. As suas reflexões são sempre um exercício de racionalização da natureza e do agir humanos. Não se limita, como o romancista, à mera descrição dos estados de alma das suas personagens, reais ou fictícias, porque as analisa e, até, julga de um ponto de vista racional», considera o sacerdote.

Para o P. Gonçalo Portocarrero, «cada crónica é, sem pretensiosismos, uma lição, ou seja, uma exposição conclusiva, de que decorre uma consequência vital, quase sempre imediatamente aplicável à vida real».

«Creio que boa parte do sucesso dos textos do José Luís Nunes Martins radica nesta sua magistral capacidade de tratar temas éticos sem enveredar pelo moralismo, referir sentimentos sem sentimentalismo, apelar a atitudes a imitar ou a evitar, mas sem qualquer paternalismo», sublinha.

José Luís Nunes Martins «procura que sejam as suas teses que afiram a ortodoxia católica da sua espiritualidade, mais do que uma sua confissão da matriz da religiosidade que o anima».

«De facto, as suas crónicas têm quase sempre alguma coisa de parábola evangélica, ou de sermão das bem-aventuranças, talvez pela referência habitual ao infinito do amor, que só em Deus é realidade, ou a recorrência ascética em que sempre concluem as suas análises, num empenho de superação que alude à condição de peregrino, que é tão própria da existência cristã», escreve o P. Gonçalo Portocarrero.

Os textos, prossegue o religioso, têm a «preocupação de fazer ver que o amor não se reduz apenas à satisfação imediata do prazer, mas afirma-se, paradoxalmente, no esquecimento de si próprio, não como inútil aniquilação, mas como expressão daquele amor maior de que Cristo é o arquétipo».

 

Dar o que temos é pouco
José Luís Nunes Martins
In "Os infinitos do amor"

Quem apenas dá o que tem, dá sempre pouco. Cada um de nós é muito mais do que aquilo que possui. Assim, mais do que dar o que temos, devemos dar o que somos.

Quem dá o que é, irradia o bem da sua existência, semeia-se enquanto bondade… faz-se mais e melhor.

Há quem tenha tudo e não seja nada. Julgando que o seu valor está no que possui, exibe os seus bens como se fossem condecorações... desprezando não só o que é mas, e ainda mais importante, o que poderia ser.

Quanto às coisas materiais, será melhor merecer o que não se tem do que ter o que não se merece… tal como é preferível ser credor do que devedor.

Nunca é bom depender do que não depende de nós.

Hoje confundem-se desejos com necessidades. Na verdade, não são sequer comparáveis, na medida em que os desejos buscam uma satisfação inalcançável. Pois assim que se sacia um desejo, logo outro, maior, toma o seu lugar. São vontades estranhas à nossa paz e capazes de alimentar contra nós uma guerra sem fim. É importante que atendamos às nossas verdadeiras carências, mas com o cuidado de afastar daí todos os desejos que querem passar por elas.

Vivendo com o essencial, sobrará o suficiente para atender às privações dos outros. Mas, perguntarão alguns, não se deverá poupar para o que possamos precisar amanhã? Não. O amanhã trará mais e novas necessidades, mas, da mesma forma, também nos fará chegar mais e melhores formas de as suprir… E quem pode garantir que amanhã estará por cá?

Só quem confia se dá, dando tudo, porque a sua esperança é maior do que os seus medos. Só quem acredita constrói o amanhã como um tempo melhor. Fazendo do seu presente um presente na vida dos outros.

Alguns dão pouco do muito que têm e, ainda assim, esperam que tudo lhes seja retribuído, de uma forma qualquer... um sorriso, um obrigado, ou até uma lembrança para muito tempo. Mas quem espera algo da esmola que dá, está a trocar, não a dar. Tem uma necessidade que não se esgotará nunca através do dinheiro ou de algo que seja material… só a atenção que se consegue de forma gratuita pode superar a fome de quem precisa de atenção.

Os verdadeiros sentimentos não se compram nem se trocam. Dão-se e… aceitam-se.

Outros dão o pouco que têm. Confiam… neles próprios e nos outros (cada um de nós), acreditam mesmo que somos bons e que os ajudaremos quando precisarem. Por isso dão, por isso se dão… por isso são bons.

É preciso uma coragem enorme para pedir, para receber, para aceitar e… para viver assim… confiando na vida.

Não é fácil dar-se. Por vezes dói. Muito. A indiferença e, tantas vezes, a maldade atingem, de forma tão precisa quanto eficaz, aqueles que de braços abertos oferecem o seu coração e o seu abraço… haverá sempre quem se sinta ofendido por, dessa forma, a sua mediocridade se tornar evidente, uma vez que ser melhor é afinal… possível.

É sempre bom dar, melhor ainda se for antes que alguém o peça. Afinal, queiramos ou não, chegará o dia em que tudo quanto temos terá de ser dado.

O que sou e posso ser depende apenas das minhas ações.

Existe um infinito de sonhos que se estende diante de mim… à espera de que eu seja capaz de escolher, construir e percorrer os caminhos que me levarão ao melhor de mim. Essa é a minha missão. Dar ao mundo o melhor que sou.

Afinal, o melhor de mim não é para mim.

 

A coragem é a força do coração
José Luís Nunes Martins
In "Os infinitos do amor"

A coragem é um movimento do espírito pelo qual um coração grande se dá a conhecer. Não é uma força bruta da vontade, é uma decisão da consciência. É a capacidade de ser livre apesar do medo.

Só um bom coração reconhece o bem e tem de ser grande para lutar pelo melhor que há na vida.

O heroísmo dos grandes corações revela-se, não diante de enormes ameaças ou dos perigos mais assustadores, mas na vida comum de pessoas que nunca será reconhecida. Há muita gente que vive o seu amor ao bem de uma forma tão sublime quanto anónima. São os anjos que há na terra.

Têm carne, ossos e problemas grandes e pequenos... tal como todos nós. Podemos ser nós!

Ter coragem dói. Os corações grandes têm muitas mágoas. Carregam as suas, aquelas de que ninguém suspeita, e as de outros... que não querem ou não podem levá-las sozinhos. Os corajosos encontram sempre forma de sofrer, mesmo quando estão bem. Sabem que não se pode ser feliz sozinho, nem, tão-pouco, com alguém a sofrer ali ao lado. São felizes, mas de uma forma muito estranha: é só lá muito no fundo.

A maior bravura destes corajosos é que dão mesmo o que não têm.

São mais fortes do que os seus medos, apesar de tremerem. Na verdade, qualquer sacrifício é melhor do que a vergonhosa cobardia de poder fazer o bem e... escolher fugir.

Há gente que ousa o absoluto, apesar do absurdo. Pessoas com um coração tão grande que lá cabe a maior das esperanças, a de que, um dia, deixará de existir sofrimento e então poderemos todos ser felizes.

O coração corajoso que não tem medo do ridículo porque acredita mesmo que uma vida sem amor não tem valor.

É com fé no amor que se vence o medo paralisante, mas é com essa mesma fé que ficamos a saber que não podemos tudo e que sozinhos podemos ainda menos. A coragem é o ponto de equilíbrio entre os excessos do medo… e da confiança.

Por vezes, a coragem nasce do que resta da angústia e do desespero. Não há fundo de poço onde não haja um apelo à luz. Nas trevas vazias, a mais pequena das luzes ilumina muito. É uma estrela.

Os corações corajosos têm tristezas e trevas. São, aliás, os que mais as têm. Carregam-nas, mas encontram quase sempre uma forma de serem mais fortes do que elas. Quando caem e se perdem, é trágico, porque como são grandes e as mágoas que suportam são pesadas, caem ainda mais fundo e magoam-se muito. Mas é uma questão de tempo até perceberem que não são da terra, mas do céu, e sem que se perceba como, levantam-se... e seguem o seu caminho.

A coragem implica uma solidão. Profunda. Não é uma loucura momentânea que torna valoroso um homem que não o é. A coragem é uma decisão dos que sabem o que estão a fazer e conhecem os riscos que correm. Eis a raiz do seu heroísmo: a lucidez do discernimento. A presença da razão em cada passo. Seria bem mais simples que entrássemos numa euforia de emoções e que só déssemos conta depois do fim... mas isso não é coragem!

Ninguém nasce corajoso. Aprende-se a ser forte. Aprende-se a viver a verdade. Aprende-se a amar.

Enfrenta-se mil futilidades, sorri-se apesar da perda e da doença, trabalha-se no que não se gosta, chora-se... mas vive-se, inteiro, uma vida inteira.

Falhas, fraquezas, trevas e tristezas... não são o que somos. São o que não somos... nem vamos ser, nunca! Assim saibamos ser a coragem que nos falta a nós e a que falta aos outros.

 

Publicado em 25.11.2015

 

Título: Os infinitos do amor
Autor: José Luís Nunes Martins
Editora: Paulus
Páginas: 224
Preço: 16,00 €
ISBN: 978-972-301-899-8

 

 
Imagem Capa | D.R.
Creio que boa parte do sucesso dos textos do José Luís Nunes Martins radica nesta sua magistral capacidade de tratar temas éticos sem enveredar pelo moralismo, referir sentimentos sem sentimentalismo, apelar a atitudes a imitar ou a evitar, mas sem qualquer paternalismo
As suas crónicas têm quase sempre alguma coisa de parábola evangélica, ou de sermão das bem-aventuranças, talvez pela referência habitual ao infinito do amor, que só em Deus é realidade
Há quem tenha tudo e não seja nada. Julgando que o seu valor está no que possui, exibe os seus bens como se fossem condecorações... desprezando não só o que é mas, e ainda mais importante, o que poderia ser
Vivendo com o essencial, sobrará o suficiente para atender às privações dos outros. Mas, perguntarão alguns, não se deverá poupar para o que possamos precisar amanhã? Não
Não é fácil dar-se. Por vezes dói. Muito. A indiferença e, tantas vezes, a maldade atingem, de forma tão precisa quanto eficaz, aqueles que de braços abertos oferecem o seu coração e o seu abraço
Há gente que ousa o absoluto, apesar do absurdo. Pessoas com um coração tão grande que lá cabe a maior das esperanças, a de que, um dia, deixará de existir sofrimento e então poderemos todos ser felizes
É com fé no amor que se vence o medo paralisante, mas é com essa mesma fé que ficamos a saber que não podemos tudo e que sozinhos podemos ainda menos. A coragem é o ponto de equilíbrio entre os excessos do medo… e da confiança
A coragem implica uma solidão. Profunda. Não é uma loucura momentânea que torna valoroso um homem que não o é. A coragem é uma decisão dos que sabem o que estão a fazer e conhecem os riscos que correm. Eis a raiz do seu heroísmo: a lucidez do discernimento
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