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Os dois serão como um só

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Os dois serão como um só

«Naquele tempo, aproximaram-se de Jesus uns fariseus para o porem à prova e perguntaram-lhe: "Pode um homem repudiar a sua mulher?".
Jesus disse-lhes: "Que vos ordenou Moisés?".
Eles responderam: "Moisés permitiu que se passasse um certificado de divórcio, para se repudiar a mulher".
Jesus disse-lhes: "Foi por causa da dureza do vosso coração que ele vos deixou essa lei. Mas, no princípio da criação, ‘Deus fê-los homem e mulher. Por isso, o homem deixará pai e mãe para se unir à sua esposa, e os dois serão uma só carne’. Deste modo, já não são dois, mas uma só carne. Portanto, não separe o homem o que Deus uniu".
Em casa, os discípulos interrogaram-no de novo sobre este assunto.
Jesus disse-lhes então: "Quem repudiar a sua mulher e casar com outra, comete adultério contra a primeira. E se a mulher repudiar o seu marido e casar com outro, comete adultério". (Marcos 10, 2-12, Evangelho do 27.º Domingo do Tempo Comum)

O P. Javier Gafo, especialista espanhol em bioética, falecido há alguns anos, cita num dos seus livros uma bela história índia.

Um casal muito pobre ia celebrar o aniversário do seu matrimónio. Ele dava voltas e mais voltas à cabeça, sem sucesso, pensando como conseguir umas poucas moedas para presentear a mulher que tanto amava e que o tinha acompanhado durante quase toda a sua vida. Até que teve uma ideia que lhe causou calafrio: poderia vender o cachimbo, com o qual todas as tardes se sentava a fumar à porta da sua casa. Com o dinheiro, podia oferecer à sua mulher um pente, para que pudesse pentear o seu belo e longo cabelo, que cuidava com tanto esmero.

Finalmente, com o coração pesaroso e alegre ao mesmo tempo, aquele homem vendeu o seu cachimbo e aproximou-se de casa, levando envolvido num pobre papel o pente que tinha comprado. Lá o esperava a sua mulher, que tinha vendido o seu bonito cabelo negro para oferecer ao seu marido o melhor tabaco para o seu cachimbo.

O amor cristão caracteriza-se por supor entrega, dom de si, desprendimento e sacrifício de um pelo outro. Quando Inácio de Loyola fala do amor, diz que há duas coisas a ter em atenção: «a primeira é que o amor deve pôr-se mais nas obras do que nas palavras; a segunda é que o amor consiste em comunicação recíproca, a saber, em dar e comunicar a pessoa que ama à pessoa amada o que tem ou do que tem ou pode; e, vice-versa, a pessoa que é amada à pessoa que ama; de maneira que, se um tem ciência, a dê ao que a não tem, e do mesmo modo quanto a honras ou riquezas; e assim em tudo reciprocamente, um ao outro» (Exercícios Espirituais, 230-231). Não se pode amar sem entregar o melhor de nós mesmos na relação.

A Carta aos Efésios refere-se à relação matrimonial comparando-a com a relação que existe entre Cristo e a Igreja. Quando nas celebrações do Matrimónio se lê esta leitura, nota-se satisfação no rosto dos noivos durante a primeira parte do texto: «As esposas devem estar sujeitas aos seus esposos como ao Senhor» (5, 22). Mas quando se explica a segunda parte, as noivas são as que parecem mais satisfeitas: «Esposos, amem as vossas esposas como Cristo amou a Igreja e deu a sua vida por ela» (5, 25), porque do que se trata é simplesmente de um amor que está disposto à entrega até à morte, e morte de cruz...

Este amor oblativo só será possível se marido e mulher se fizerem uma só pessoa, que é o que Jesus propõe para a relação matrimonial. Convém, pois, alimentar constantemente esta decisão de amor mútuo que, combinando a dor e a alegria, se torna capaz de uma entre generosa no dia a dia da relação. Amor que se traduz em obras e amor que está disposto a dar e receber numa permanente comunicação. Amor que está disposto a vender o seu cachimbo ou o seu bonito cabelo para se encontrar com o outros, a partir do melhor de si mesmo.

 

Hermann Rodríguez Osorio, S.J.
In "Periodista Digital"
Trad. / adapt.: Rui Jorge Martins
Publicado em 02.10.2015 | Atualizado em 20.04.2023

 

 
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Convém alimentar constantemente esta decisão de amor mútuo que, combinando a dor e a alegria, se torna capaz de uma entre generosa no dia a dia da relação. Amor que se traduz em obras e amor que está disposto a dar e receber numa permanente comunicação
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