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Música: Oratória “Credo”, de José Tolentino Mendonça, regressa ao festival “Todos”

A oratória inter-religiosa “Credo”, com palavras e textos escritos e escolhidos pelo arcebispo D. José Tolentino Mendonça, vai voltar a ser apresentada no domingo, encerrando a 10.ª edição do festival “Todos - Caminhada de Culturas”, que começa hoje em Lisboa.

«Crer é uma condição necessária para viver. É isso que se irá cantar através das palavras escritas e escolhidas por José Tolentino de Mendonça. Será uma partitura de músicas para nove intérpretes e instrumentistas de proveniências muito diferentes», sublinhou o maestro da Orchestra di Piazza Vittorio, que interpreta a peça.

Estreada mundialmente na igreja de S. Domingos, em Lisboa, no ano de 2015, também no âmbito do festival “Todos”, a oratória utiliza músicas da orquestra italiana, de Gioachino Rossini, Benjamin Britten e Guillame de Machaut, bem como do canto sufi e harmónico.

Entre os instrumentos envolvidos na composição de uma hora de duração estão a kora, harpa-alaúde conhecida na África ocidental, o oud, árabe, da família dos alaúdes, a par do violoncelo, baixo elétrico e o órgão.



As experiências religiosas «são a consideração de que aquilo que tateamos não é o fim, mas o princípio apenas; são laboratórios para o interminável e doloroso espanto que viver significa; são epifania, relance, vislumbre, deslumbre, revelação»



A partitura de músicas para nove intérpretes e instrumentistas de múltiplas proveniências traduz-se numa «oração íntima, não ritual, para quem acredita que Deus existe, mas também para quem, observando uma estrela ou diante de um desastre, reza para que Deus exista», observou o maestro, Mario Tronco.

«O que melhor expressa a experiência de Deus, em qualquer língua e em qualquer credo, é o silêncio. A fé é uma manifestação de confiança no silêncio. Todos os livros sagrados, todas as preces que já se escreveram ou se escreverão, todas as teologias, arquiteturas ou artes que, de uma forma ou de outra, associamos ao sagrado, todas as ritualidades, tão diversas na sua morfologia, mas mantendo entre si equivalências tão flagrantes, são mapas para aproximar-se do silêncio», escreveu D. José Tolentino Mendonça na folha de sala da oratória, em 2015.

Por isso, continua, «as experiências religiosas são instrumentos para observar o enigma do mundo; são modos de habitar não apenas a pergunta radical que nós humanos transportamos, mas aquela interrogação ardentemente irremovível que somos; são estratégias de perfuração do visível; são a consideração de que aquilo que tateamos não é o fim, mas o princípio apenas; são laboratórios para o interminável e doloroso espanto que viver significa; são epifania, relance, vislumbre, deslumbre, revelação».

«Talvez por serem hermenêuticas do silêncio, as religiões mantêm com a música uma relação tão íntima, tão inesperada, tão criativa, tão verdadeira. Nietzsche escreveu que ”sem a música, a vida seria um engano". Religião e música encontram-se aí: na busca e na tradução de um sentido para a vida», salientou o poeta e teólogo.



«Às vezes mesmo sem voz/ Às vezes até sem palavras/ Silêncio que Deus me deu/ És uma forma de luz/ Tornas sagrado o que existe, centelhas da verdade/ Somos o barro, somos poeira/ O teu vento errante nos leva»



O regresso a Lisboa de “Credo” pode ser escutado a partir das 18h30, na igreja de Santa Engrácia (Panteão Nacional), com entrada livre, sujeita à lotação do espaço.

A programação do festival compreende a visita guiada ao mosteiro de S. Vicente de Fora – Museu do Patriarcado de Lisboa, que será orientada por Luís Gaivão no sábado (14h00, 16h00) e domingo (14h00). Com ponto de encontro no jardim Botto Machado (Campo de Santa Clara) e duração de 1h45, a inscrição tem o preço de 2,5 €.

A construção do mosteiro «teve início durante a união dinástica entre Portugal e Espanha, estando no trono Filipe I», tratando-se de «um dos mais belos exemplares do maneirismo em Portugal».

«Guarda uma das mais belas coleções azulejares do mundo, destacando-se as Fábulas de La Fontaine. Encontram-se também no seu interior os Panteões da Casa Real de Bragança, dos Patriarcas de Lisboa, e o Museu do Patriarcado», assinalam os organizadores.

 

“Um buraco de luz para Deus”
José Tolentino Mendonça
Composição da oratória “Credo”

Ligo o braço longe a uma estrela
A lua límpida sobe no céu
Um anel passa através de outro anel

Procuro o tempo e encontro a passagem
Procuro a morada e encontro o relento

Às vezes mesmo sem voz
Às vezes até sem palavras
Silêncio que Deus me deu
És uma forma de luz
Tornas sagrado o que existe, centelhas da verdade
Somos o barro, somos poeira
O teu vento errante nos leva

Eu sei existe em mim, mesmo no fundo de um poço
Um buraco de luz para Deus
Um nome escrito no céu

E não sei o que fazer e rezo
Rezo sem saber dizer o quê e a quem
Mas rezo
Rezo o chão e a flor, o pão e a fome, 
Rezo o branco e a dor
Nas letras do teu nome
Há um buraco de luz


 

Rui Jorge Martins
Publicado em 20.09.2018 | Atualizado em 08.10.2023

 

 

 
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