Deus é um gemido, é um beijo, e a oração é a respiração da alma.
Um momento de oração solitária pode ter uma influência que nada pode substituir.
Não se consegue rezar se tivermos um rancor ou um ressentimento, porque a oração é uma expressão do amor que precisa da atenção do coração.
É preciso consagrar pelo menos um quarto de hora à nossa alma a cada manhã e a cada noite, porque cada esforço que realizamos em nós repercute-se não só à nossa volta, mas longe, longe. Um ato de amor e uma oração têm a força de reger o mundo e de tornar-se o leme da história e da nossa vida.
Gosto de uma oração breve e simples onde cada gesto corresponde a um verdadeiro sentir. Toda a oração requer, portanto, atenção, preparação, escolha do lugar, do momento, criatividade, sem a necessidade de procurar resultados. Na oração não são precisas muitas palavras, porque o amor não precisa de palavras.
A primeira fadiga da oração é a desordem da mente e da vida que fazemos. Se nunca inicias um caminho espiritual e de oração, também não te darás conta da desordem que tens dentro de ti, vives de impressões, de leituras, de rumores, de coisas em vórtice contínuo, de fantasias e imaginações. A luta contra a desordem da mente é o início do abandonar-se a Deus.
A verdadeira condição para encontrar Deus é um coração simples, desarmado, vazio, que não quer colocar Deus à prova e não procura raciocínios tortuosos.
Podemos transfigurar o nosso pequeno mundo transfigurando-nos a nós próprios; por isso, a cada acordar recito o louvor da manhã, muito breve mas muito importante para retomar o caminho para o novo dia, voltando a começar com a experiência de um Deus que manifesta a sua ternura. Um Deus que, ainda que por vezes nos parece desaparecer, devemos continuar a buscar, dado que com frequência se oculta para fazer crescer o desejo e para purificar a nossa procura e não o fazer confundir com os ídolos.
O caminhar na vida pressupõe estar parado, faz-se estrada se se é capaz de parar, chega-se ao destino se se tem a coragem de perder tempo. Num mundo como o nosso, em que predomina o falar, é preciso aprender a calar, a fazer silêncio no íntimo, um silêncio atento à escuta e humilde.
Deus desarma-se, por que não haveremos nós de o fazer também?
Temos o dever de impedir que a nossa vida se extinga por causa de uma atividade sem alma, e por isso procurar para nós um espaço de deserto, um lugar de verdade, onde se está a sós e não se pode fazer trapaça, onde te dás conta daquilo que verdadeiramente vales. O facto de, instintivamente, termos medo deste face a face, indica quanto é precioso realizá-lo. Mas é um passo necessário para reencontrar o gosto do caminho, o gosto do novo, do abandono, do compromisso, dos pés cansados, do coração que bate, do fôlego que falta, numa realidade sem pontos de referência.
Como é bela a pobreza inútil do silêncio e da oração, este desperdício amável, este espaço de perfume, de casa aberta ao mundo!