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Igreja e Cultura

Igreja em Portugal «está muito longe do mundo cultural»

O que é mais importante (criar, manter, repensar) na relação da Igreja com a Cultura?

Há três aspetos positivos relativamente à maneira como a Igreja em Portugal tem encarado a cultura nos tempos recentes que importa aprofundar.

Nos últimos anos começou a falar-se de cultura no interior da Igreja. Para este dinamismo contribuiu o Concílio Vaticano II, a criação do Conselho Pontifício para a Cultura, bem como a ocorrência de mudanças em Portugal que tornaram a cultura numa referência quase irrecusável, o que fez com que a Igreja também despertasse para ela.

Outro aspeto positivo é o facto de a Igreja ter continuado a ser um espaço de acolhimento e de promoção de uma certa cultura que por vezes é pobre, mas que para determinado mundo necessitado não teria outra forma de se afirmar. A Igreja tem desempenhado um papel de abertura e acolhimento, sobretudo ao nível da juventude, oferecendo os seus espaços para o acolhimento de coros, festivais de música e iniciativas semelhantes. Há também que realçar que o ensino e a formação oferecida pela Igreja contribuem igualmente para uma certa abertura dos espíritos; penso que haveria de limar esta dimensão, que não é realizada com todo o rigor; em todo o caso é um sinal de serviço, sobretudo às classes mais necessitadas.

Um terceiro aspeto, talvez o mais relevante, tem a ver com o património, para o qual a Igreja não esteve suficientemente desperta. Há uns tempos a esta parte tem sido dada maior atenção, na generalidade do país, quer ao património artístico e monumental quer ao arquivístico. Nos últimos anos verifica-se uma atenção muito grande e muito positiva, porque além de defender e catalogar toda essa riqueza, a Igreja também tem tido o cuidado de oferecer momentos e espaços de reflexão pedagógicos bastante úteis.

Dito isto, voltava ao princípio para falar da cultura. Não há escrito nenhum, boletim paroquial, revista, diário ou semanário eclesial que não fale da cultura na Igreja. Estou convencido que se trata mais de uma palavra que se escreve com uma noção bastante abstrata, pouco concreta e, sobretudo, sem conteúdo. Se formos perguntar a muita gente da Igreja o que quer dizer com “cultura”, estou certo que a resposta é bastante dececionante. É um “flatus vocis”, uma coisa que se diz mas que não mobiliza interiormente as pessoas nem o seu pensar, e muito menos a sua ação e intervenção na sociedade.

Há falta de tempo, e também de programa e projeto, para que os cristãos assumam a cultura sob um olhar evangelizador. Há aqui todo um trabalho a fazer. Julgo que a catequese, os movimentos e a própria doutrina social da Igreja, que desde os últimos pontífices engloba já a cultura, poderiam ter um papel importante, o mesmo acontecendo com o Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura.

Passaria agora ao maior apelo relativamente à intervenção da Igreja na área da cultura em Portugal. A Igreja está muito longe do mundo cultural. Não se faz evangelização da cultura se não com os seus agentes. A missão de evangelização neste âmbito é um trabalho de grande exigência que supõe a diferenciação relativamente à natureza das diferentes formas culturais. Supõe ainda a presença da Igreja no meio artístico, literário e científico, onde se verifica uma ausência total.

Não podemos traçar um projeto evangelizador cultural mobilizador se não houver algo de muito bem organizado. Os agentes da cultura não são pessoas quaisquer: há os que sabem o que estão a fazer no mundo e conhecem a importância que têm na sociedade, enquanto outros trazem uma novidade às áreas da arte, da ciência e do pensamento. Não é fácil, exige tempo e meios. Tenho a impressão que a cultura é às vezes olhada como supérflua. E não é.

Finalmente, creio que há um horizonte onde ainda se pode fazer muito mais. Refiro-me à vida litúrgica da Igreja. Há coisas inegavelmente positivas e assiste-se a um esforço que está a ser feito no décor, na forma como decorrem as celebrações, nos conteúdos que se transmitem, na música que se toca. Há outras coisas menos boas e que são mesmo ridículas. A liturgia é a grande representação da Igreja, é uma arte em si. É uma forma de presença através de elementos eminentemente culturais, como o canto, a palavra, as vestes, entre outros elementos. Mas estamos muito longe de conseguir que a liturgia seja uma referência para o mundo da cultura – algumas pessoas do meio arrepiam--se ao referirmos esta dimensão. É preciso que o belo que somos chamados a transmitir esteja à altura do representado, que é todo o Mistério de Deus, a perfeição absoluta.

 

Este depoimento, recolhido por telefone, integra a edição de novembro de 2011 do "Observatório da Cultura" (n.º 16). Leia mais respostas à pergunta.

 

P. Jardim Gonçalves
Antigo diretor do Gabinete do Cardeal-Patriarca de Lisboa
© SNPC | 14.11.11

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Capela Árvore da Vida
Foto: Nelson Garrido


































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