Quanto tempo passei a tentar prender aquilo que não tem tempo. Quantas vezes acreditei que a dor, o mal-estar, o conflito se superariam com o tempo. Só quando parei de depender do tempo como meio, e vivi o hoje e o momento, o tempo abraçou o espaço, e deixei de me lamentar dizendo: «Enfado-me… tenho pouco tempo». Quantas vezes me enganei confiando-me ao tempo como meio através do qual podia conquistar a felicidade ou compreender a verdade ou conhecer Deus.
Só depois compreendi que é a verdade que nos torna livres, não o esforço ou a busca de uma maneira para sermos livres. Perguntava-me porque é que qualquer coisa em que eu tocasse se transformava num problema, e intuía que a minha ótica estava sempre limitada a um só ponto de vista, onde o tempo e o espaço se fechavam, em vez de seguir aquele meu desejo oculto de abertura e liberdade.
Nós pensamos sempre a partir de um centro e movemo-nos em direção à periferia, mas para muitos outros a periferia é o centro. Por isso, aproximamo-nos das coisas de maneira superficial, ao passo que a vida não é superficial, e exige que se viva de uma maneira inteira.
Após uma série de crises de egocêntrica espera, sucedeu uma crise de humilde verdade, que me fez olhar o efémero a partir do infinito, e desde então o efémero deixou de ser uma prisão.
Desde esse dia, rezo assim:
O meu tempo sou eu.
Eu que vivi e que vivo
e que desejo viver ainda mais um pouco,
eu com tudo aquilo que compreendo e não compreendo,
com tudo aquilo que sei fazer e que não sei fazer,
com as minhas qualidades boas e menos boas.
O meu tempo sou eu
com o meu grande desejo:
amar Deus com todo o coração, a alma e as forças
e o meu próximo como a mim mesmo.
Mas o meu tempo sou também eu
com o abismo de mediocridade e absurdidade que transporto em mim.
Eis-me, Deus, tal como Tu me conheces bem,
estou nas tuas mãos.
Essas mãos que Tu estendeste, dizendo
«vinde a mim, vós todos afadigados e oprimidos»,
essas mãos que curaram os doentes,
que abençoaram as crianças,
que partiram o pão para cinquenta mil,
que abraçaram a pecadora e o publicano.
Estas são as tuas mãos nas quais está o meu tempo.