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O quarto mandamento e as referências culturais dos adolescentes

Há uma sabedoria antiga em algumas atitudes dos “millennials” (os jovens nascidos a partir do ano 2000). Veem séries de televisão e filmes com o olhar despreocupado de quem não quer exprimir juízos, mas de quem procura apenas uma representação fenomenológica de sentimentos e estados de alma.

Longe dos anos 70, quando os jovens procuravam novos e improváveis mestres nas canções dos grandes concertos rock ao ar livre, hoje eles procuram o sistema do “mash-up” para misturar conteúdos (vídeo, música, textos) e obter, desta maneira, uma nova história, mais pessoal e, portanto, mais verdadeira, aos seus olhos.

Numa escola italiana, sob a orientação do professor de Religião, alguns adolescentes entre os 16 e 18 anos passaram alguns meses no estudo do quarto mandamento, «honrar pai e mãe». Para o efeito, foram convidados a ilustrar que filmes e espetáculos de televisão despertaram a sua atenção em relação àquela Palavra de Deus.

Foi usado o método da aula invertida, em que aos alunos são sugeridos conteúdos presentes na internet para serem analisados em casa, para que, ao chegar à escola, o docente não invista o tempo disponível a transmitir matérias, mas a discutir com os alunos aquilo que eles viram previamente.

Os excertos dos vídeos propostos pelos estudantes foram analisados na aula, um a um, e catalogados do ponto de vista dos temas mais relevantes. Antes do fim do ano escolar, a turma, após discussão, e sempre sob a orientação do professor, realizou um vídeo composto pela montagem de algumas sequências dos trechos analisados nos meses anteriores.



O imaginário da sétima arte e da televisão é um território quase completamente explorado nas aulas. Oferece, todavia, um número infinito de oportunidades, e a proposta sobre a perceção cultural do quarto mandamento é apenas um dos muitos exemplos possíveis



O resultado é um vídeo de síntese, precisamente um “mash-up”, do imaginário que os alunos desenvolvem quando são desafiados a refletir sobre a relação com os seus pais e com o mundo dos adultos. O contexto, neste caso, é o do imaginário gerado pela comunicação cinematográfica e televisiva do terceiro milénio, numa silenciosa, mas significativa, simbiose com a vivência pessoal.

Os estudantes, referem os professores, participaram com muita intensidade. Num período da adolescência durante o qual emergem os problemas mais consideráveis com os pais, os jovens tiveram a oportunidade de falar da sua vivência sem serem obrigados a revelar em público, diante da turma, as reais dinâmicas familiares.

Com efeito, a utilização de referências tão próximas da própria experiência cultural (séries de televisão, cinema, vídeos de música, publicidade), permitiu aos jovens viver aquele tempo na escola com um inédito sentimento de pertença. O instrumento do confronto com o imaginário cinematográfico e televisivo dos adolescentes é um método eficiente para superar as naturais desconfianças dos mais novos em relação ao mundo dos adultos.

Trata-se, no entanto, de um instrumento demasiado poderoso, e, por isso, deve ser utilizado com atenção e com a devida preparação. De facto, os professores podem deparar-se com propostas de filmes ou de produtos televisivos que não conhecem, e que não têm a capacidade de analisar numa perspetiva crítica adequada.

O imaginário da sétima arte e da televisão é um território quase completamente explorado nas aulas. Promove, todavia, um número infinito de oportunidades, e a proposta sobre a perceção cultural do quarto mandamento é apenas um dos muitos exemplos possíveis, oferecendo um método de escuta que permite aos jovens fazer emergir a complexidade e densidade das suas vivências.

É necessária uma revolução coperniciana do pensamento crítico católico sobre os fenómenos da cultura de massa. Durante quase um século, a preocupação de associações e de pensadores inspirados pela fé foi a de exprimir um juízo sobre a bondade, ou falta dela, dos conteúdos exprimidos por filmes ou canções. Faltou demasiadamente uma análise de tipo fenomenológico. Os jovens de hoje convidam-nos a uma atitude diferente, a da escuta crítica mas livre de preconceitos. Parece ouvir-se o eco das palavras do papa: «Quem sou eu para julgar?».








 

Andrea Piersanti
In L'Osservatore Romano
Imagem: logoff/Bigstock.com
Publicado em 24.07.2019

 

 
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