«Ao pássaro cego é Deus que faz o ninho.» A brevidade desta citação é causada pelo facto de se tratar de um provérbio popular, e o género supõe força expressiva e essencialidade.
O dito provém da cultura arménia, que sofreu o martírio originado por um colossal massacre, infelizmente pouco recordado. Quis evocá-lo para estimular os leitores ao conhecimento de uma cultura perseguida, mas que é capaz de manter bem alta a chama da esperança na Providência divina.
O passarinho cego não consegue procurar os fios de erva para entretecer o seu ninho; será, então, o próprio Deus que lhe preparará uma cavidade na qual pode depor os ovos e alimentar as crias.
Também no Saltério se lê que Deus «dá de comer aos animais e aos filhotes dos corvos, quando gritam» (147, 9).
É esta confiança que torna capazes certas pessoas de ultrapassar sofrimentos enormes e devastadores, como aconteceu ao povo armeno, cujo símbolo é o “khachkar”, uma estela com a cruz impressa. É o símbolo do Cristo crucificado que sofre e tem medo, mas que entrega o seu espírito nas mãos do Pai.
Nós, que muitas vezes nos abatemos ao primeiro obstáculo e em cada pequena provação, devemos redescobrir a coragem da esperança, a serenidade de um pássaro cego que sabe que não é esquecido.