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O julgamento de Jesus ontem e hoje: Quando matar «um profeta» é cumprir Deus

Imagem Madrazo | 1803 | D.R.

O julgamento de Jesus ontem e hoje: Quando matar «um profeta» é cumprir Deus

«Cumprireis todas as ordens que eu vos prescrevo, sem nada lhes acrescentar ou suprimir. Se no meio de vós aparecer um profeta ou um visionário, mostrando-te um sinal ou um prodígio; se se realizar o sinal ou prodígio que te anunciou e ele te disser: "Sigamos os deuses estrangeiros - que não conhecias - e adoremo-los", não ouvirás as palavras desse profeta ou desse visionário, porque o Senhor, vosso Deus, vos põe à prova para verificar se realmente o amais com todo o vosso coração e com toda a vossa alma.

Seguireis ao Senhor, vosso Deus, e a Ele haveis de temer; cumprireis os seus preceitos e não obedecereis senão à sua voz; a Ele prestareis culto e só a Ele servireis. Esse profeta ou esse visionário será condenado à morte, porque pregou a revolta contra o Senhor, vosso Deus, que vos tirou da terra do Egito, que te resgatou da casa da servidão. Esse procura, assim, desviar-te do caminho que o Senhor, teu Deus, te indicou para seguires por ele. Assim, extirparás o mal do meio de ti.»

Estes primeiros versículos do capítulo 13 do Deuteronómio, o último dos cinco primeiros livros da Bíblia, conjunto de obras, designado de Pentateuco, que está no coração das Escrituras judaicas, constituem a chave para a interpretação teológica do julgamento de Jesus, tema que o sul-africano Joseph H.H. Weiler desenvolverá a 14 de março, pelas 18h00, no grande auditório da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.

Judeu observante, Weiler está convicto de que Jesus é a pessoa referida nos versículos deuteronomistas: «Há um profundo desafio teológico que o cristianismo ainda não enfrentou. Se Jesus tem de morrer inocentemente, alguém tem o matar injustamente. Isto é muito perturbador se se levar a Bíblia a sério. Deveria ofender o leitor porque significa que para Deus realizar o seu desígnio depende de alguém que vá contra a sua vontade», declarou ao National Catholic Reporter.

«Se eu estou certo quanto ao facto de que o julgamento é o resultado de Deuteronómio 13, 1-5, Jesus morre totalmente inocente, dado que Ele é o profeta enviado por Deus. Todavia os judeus estavam também a fazer exatamente o que Deus lhes disse para fazer», defendeu na entrevista publicada em janeiro de 2011.

O versículo seis do capítulo 13 do Deuteronómio determina que «esse profeta ou esse visionário será condenado à morte, porque pregou a revolta contra o Senhor» porque procura desviar o povo do «caminho que o Senhor» indicou, pelo que só há uma alternativa: «Assim, extirparás o mal do meio de ti».

«O Julgamento de Jesus é provavelmente o episódio jurídico com maiores consequências na evolução da civilização ocidental. Tem um impacto profundo no conceito de Justiça, e as suas repercussões sentem-se quer se seja crente ou não-crente. Daí que seja estranha a ausência, na vasta literatura sobre o assunto, de uma Teologia do Julgamento», refere a página da Faculdade de Direito da Universidade Católica Portuguesa, corresponsável pela iniciativa.

A narrativa do processo de Jesus coloca várias questões a que o conferencista procurará responder: «Porque é que as autoridades levaram Jesus a julgamento? Porque não preferiram a opção bíblica mais comum e simples para os cidadãos problemáticos, i.e. uma execução sumária? Qual foi o objetivo do Julgamento?».

Weiler «analisará o contexto histórico, político e jurídico do Julgamento e, em particular, a correção processual do mesmo», ao mesmo tempo que explorará a forma como aquele «moldou as noções ocidentais de Justiça».

Nascido em 1951 na cidade de Joanesburgo, filho de um rabino, Joseph H.H. Weiler foi professor de Direito na Universidade de Nova Iorque, função que suspendeu para assumir, em setembro de 2013, o cargo de reitor do Instituto Universitário Europeu, em Florença. É co-diretor do mestrado em Direito “Law in a European and Global Context” da Católica Global School of Law, em Lisboa, e doutor Honoris Causa por diversas universidades.

Investigador consagrado nos domínios do direito internacional, do direito comparado e do direito da União Europeia, tem-se também dedicado a temas políticos, culturais e religiosos. Foi advogado de vários estados perante o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem no caso Lautsi, no qual obteve a decisão de que a presença de crucifixos numa escola pública em Itália não viola a Convenção Europeia dos Direitos do Homem, revertendo juízo contrário da 1ª instância. Em 2003 foi recebido pelo papa S. João Paulo II.

Da sua autoria estão editadas em Portugal as obras "Outra vez sonâmbulos" (Universidade Católica Editora, 2015) e "Uma Europa cristã" (Principia, 2003).

A conferência, com entrada livre mas inscrições obrigatórias, será proferida em inglês, com tradução simultânea para português.

 

Rui Jorge Martins
Publicado em 23.02.2016

 

 

 
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«O Julgamento de Jesus é provavelmente o episódio jurídico com maiores consequências na evolução da civilização ocidental. Tem um impacto profundo no conceito de Justiça, e as suas repercussões sentem-se quer se seja crente ou não-crente»
Recebido em 2003 por S. João Paulo II, Weiler foi advogado de vários estados perante o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem no caso Lautsi, no qual obteve a decisão de que a presença de crucifixos numa escola pública em Itália não viola a Convenção Europeia dos Direitos do Homem, revertendo juízo contrário da 1ª instância
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