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"O Evangelho e a vida": Cardeal-patriarca de Lisboa medita nos Evangelhos de domingo

Imagem Capa (det.) | D.R.

"O Evangelho e a vida": Cardeal-patriarca de Lisboa medita nos Evangelhos de domingo

Guilherme d'Oliveira Martins, Henrique Raposo e Isabel Jonet apresentam esta quarta-feira o novo livro "O Evangelho e a vida - Conversas na rádio no Dia do Senhor", de D. Manuel Clemente.

As meditações do cardeal-patriarca de Lisboa incidem sobre as leituras do Evangelho proclamadas nas missas dominicais do ano litúrgico "C", que começou no passado domingo, o primeiro do Advento.

Os textos foram extraídos das notas que D. Manuel Clemente partilhou ao longo de 12 anos, todos os domingos, no programa "Dia do Senhor", que a Renascença emitia antes da transmissão da missa.

O volume com a chancela da Lucerna, marca da editora Principia, completa a trilogia de comentários aos Evangelhos iniciada em 2013 (ano "A") e continuada em 2014, com as meditações referentes ao ano "B".

As sessões de lançamento da obra decorrem em Lisboa, às 18h30, no salão paroquial da igreja de Nossa Senhora do Carmo (Alto do Lumiar), com Guilherme d'Oliveira Martins e Henrique Raposo, e às 21h30 no auditório Senhora da Boa Nova, no Estoril, com Isabel Jonet.

O excerto que apresentamos centra-se no trecho evangélico de 6 de dezembro, segundo domingo do Advento (Lucas 3, 1-6), que narra o apelo à penitência feito por João Batista, precursor de Cristo.

 

II Domingo do Advento
D. Manuel Clemente
In "O Evangelho e a vida"

João Batista é uma grande figura do Advento porque, aquando da primeira vinda de Cristo, ele esteve ali e preparou o povo para que essa vinda fosse acolhida; e o que ele propõe é penitência, quer dizer, conversão. Se nós não tivermos estes sentimentos agora, em relação à vinda constante do Senhor, também nos vai acontecer o que, há 2000 anos, aconteceu a muita gente que não ouviu João Batista: não se preparou e não percebeu a primeira vinda de Jesus Cristo. Nós temos os Evangelhos da Infância – e, já agora, aconselho a leitura do belíssimo livro que o Papa Bento XVI ou, melhor, Joseph Ratzinger, publicou sobre a infância de Jesus; trata-se de uma extraordinária meditação sobre estes acontecimentos da primeira vinda de Cristo! Mas, dizia eu que, se não tivermos esta atitude de conversão à vinda do Senhor como Ele veio e como Ele vem, nós não captaremos tudo aquilo que em Jesus Cristo nos é oferecido, desde o seu Natal até à sua presença ressuscitada entre nós e à sua vinda constante agora.

A penitência ou a conversão têm mais a ver com o Natal do que possa parecer à primeira vista. Basta lembrar, por exemplo, que as pessoas que participam na liturgia do Advento, que vão à Missa dominical, reparam que a cor dos paramentos é o roxo. Quando chegarmos ao Natal, a cor será o branco, mas agora, exatamente como na Quaresma, a cor é o roxo e o roxo é sempre um sinal de penitência, portanto um apelo à conversão. As outras cores litúrgicas têm também um significado próprio: quando celebramos a memória dos apóstolos ou dos mártires, usa-se o vermelho; nas festas, usa-se sempre ou geralmente o branco e, no Tempo Comum, o verde. Agora, a cor que marca o Advento é o roxo, sinal do convite à penitência. Porque, se não temos esta atitude, não captamos nada… Basta ver até como vivemos cada Eucaristia dominical. Com que espírito participamos, por exemplo, na missa deste domingo? O que dá sentido a este domingo não é o facto de estar assinalado no calendário litúrgico como o II Domingo do Advento. Isso não chega! Infelizmente, há muitas coisas que estão no calendário que não são vividas; passamos pelos dias, mas não os vivemos.

A missa de hoje é uma missa de Advento se levarmos a sério, por assim dizer, o apelo de João Batista – ainda que esse apelo nos chegue hoje feito por outra pessoa, logo no início da celebração, no chamado ato penitencial. Se estamos na missa desde o princípio, se tomamos parte nela com sentimentos de conversão, dispostos a acolher aquilo que nos vai ser oferecido como Palavra e como Sacramento e, também, através da presença dos outros irmãos, que são uma oferta para nossa companhia e nós para eles, se participamos na celebração com estes sentimentos, então não deixaremos de perceber, no princípio desta missa dominical de Advento, aquele apelo de João Batista que o Evangelho refere: o apelo a fazer penitência, a nos prepararmos para aquele que vai chegar. Porque, se tivermos estes sentimentos e fizermos um profundo ato de humildade e de conversão ao rezar «Senhor tende piedade de nós», sem que as palavras desta oração sejam ditas apenas por rotina ou de qualquer modo, se nos saírem do coração, então ficaremos disponíveis para depois receber o Senhor. Ficaremos mais atentos à sua palavra, às leituras da missa, à explicação que o ministro fizer e a tudo o mais que se seguirá, na ordem sacramental, à sua vinda na Eucaristia…

A Eucaristia é Ele! Mas é claro que isto implica conversão. Implica conversão no sentido de nos esvaziarmos de nós próprios para nos preenchermos com o que Deus nos oferece como Palavra e como Sacramento. Então, sim, iremos – ou melhor, estaremos com disponibilidade para – escutar realmente a Palavra de Deus. Porque Cristo veio há 2000 anos e Ele era a Palavra de Deus no Mundo, o Verbo de Deus encarnado, como se costuma dizer, mas quem é que O escutou? Na altura, quem é que tinha esse coração penitente, convertido e disponível para a ação de Deus? Poucos, realmente muito poucos.

Jesus, a este propósito, até contou a Parábola do Semeador. A Palavra é como a semente que um agricultor lança à terra: germina e cresce, ou morre sem mesmo germinar ou pouco depois de despontar, conforme a terra que encontra. Se encontrar muitas pedras, não pega; e, se vierem os pássaros e comerem a semente, também não. Agora, se encontrar terra boa que a acolha, que a absorva, então germinará, desabrochará e dará fruto!

Portanto, neste II Domingo do Advento, este trecho do Evangelho que nos recorda João Batista e o seu apelo à penitência não é uma história antiga, do passado… não! É uma história recente e muito atual! Porque ele está hoje a dizer-nos que o Senhor vem e que nós temos de nos preparar para O escutar na sua Palavra, para O receber no seu Sacramento e corresponder à sua generosidade com a nossa vida. É hoje! Neste sentido, a melhor concretização deste Evangelho é – já hoje – a Eucaristia dominical… Se nós efetivamente nos convertermos! Não há Eucaristia sem penitência! De tal modo que participar na Eucaristia e comungar implica muitas vezes o próprio sacramento da Penitência ou da Reconciliação. E o Advento é um tempo fundamental para isso: para nós acorrermos mais à graça do sacramento da Penitência e ficarmos, assim, mais livres e disponíveis para acolher o Senhor que vem. Isto alarga-se depois da missa para a vida de todos os dias, porque sabemos que a presença de Jesus se reproduz depois em cada irmão, em cada pessoa; mas, para que isso aconteça, é necessário um coração convertido às coisas de Deus – não é às coisas: é às coisas de Deus e, se quisermos, a Deus nas coisas, porque depois elas ficam preenchidas de outra intencionalidade, de outra verdade, como apelos de Deus, como dons.

Se não tivermos um coração disponível, convertido, Ele pode vir, mas não daremos por isso… E, depois, pode nascer, mas não terá lugar na hospedaria do nosso coração, como não teve lugar em Belém. Portanto, isto é qualquer coisa de dramático. Nós, hoje, devemos reproduzir as palavras de João Batista até pelo nosso comportamento, para que a nossa conversão seja efetiva e para induzirmos os outros a converterem-se também – pela nossa atitude, e não apenas pela nossa palavra! A evangelização é um movimento contínuo que se alarga neste movimento de conversão. João Batista faz apelo à penitência e cada ato penitencial vai no mesmo sentido. Possamos nós também ter o coração neste movimento de conversão, porque Deus está à espera disso para poder nascer.

 

Publicado em 02.12.2015

 

Título: O Evangelho e a vida - Conversas na rádio no Dia do Senhor - Ano C
Autor: D. Manuel Clemente
Editora: Lucerna (Principa)
Páginas: 304
Preço: 14,75 €
ISBN: 978-989-880-914-8

 

 
Imagem Capa | D.R.
Com que espírito participamos, por exemplo, na missa deste domingo? O que dá sentido a este domingo não é o facto de estar assinalado no calendário litúrgico como o II Domingo do Advento. Isso não chega! Infelizmente, há muitas coisas que estão no calendário que não são vividas; passamos pelos dias, mas não os vivemos
Não há Eucaristia sem penitência! De tal modo que participar na Eucaristia e comungar implica muitas vezes o próprio sacramento da Penitência ou da Reconciliação. E o Advento é um tempo fundamental para isso
Se não tivermos um coração disponível, convertido, Ele pode vir, mas não daremos por isso… E, depois, pode nascer, mas não terá lugar na hospedaria do nosso coração, como não teve lugar em Belém
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