«Os falsos profetas? São aqueles que escrevem belas pregações» (Franco Fortini); «Antes de falar, é preciso ter a certeza de que o cérebro está ligado» (anónimo contemporâneo). Eis duas citações muito diferentes entre si, seja pela génese seja pela finalidade. Em comum têm uma realidade fundamental: a palavra.
Partamos, então, da primeira consideração, deveras provocatória, lida numa entrevista concedida por Franco Fortini (1917-94), poeta e crítico italiano que tive a ocasião de encontrar algumas vezes. Era agnóstico, mas com um forte interesse pelos temas religiosos (era um leitor apaixonado de Simone Weil).
A sua definição dos falsos profetas é talvez um pouco impiedosa e não quer, certamente condenar as «belas pregações» que os fiéis pedem com insistência ou esperam ouvir ao entrarem ao domingo na igreja.
Há, todavia, uma verdade indubitável que já Cristo tinha repetidamente proclamado: não bastam as palavras refinadas, os argumentos irrepreensíveis; há uma alma que deve envolver e um ardor de amor que o ouvinte perceciona sob o véu da linguagem, e há um testemunho operativo a oferecer.
Por isso S. Paulo afirmava que a sua palavra e a sua mensagem «não se baseavam em discursos persuasivos de sabedoria, mas sobre a manifestação do Espírito e do seu poder» (1 Coríntios 2, 4).
Dito isto, vem a propósito a segunda frase, que ouvi uma vez num diálogo descuidado mas eficaz entre jovens, no metropolitano. A sermos sinceros, talvez também eles devessem ser coerentes com ela, mas o princípio é válido tanto para as pregações como para qualquer comunicação entre pessoas.
Demasiadas vezes, as palavras irrompem em cascata, sem razão e sem filtro, deixando escorrer um magma sujo e insensato.
P. (Card.) Gianfranco Ravasi