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«Nunca condenar, nunca condenar»: Papa Francisco alerta para hipocrisia e vida cristã dominada por preceitos

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«Nunca condenar, nunca condenar»: Papa Francisco alerta para hipocrisia e vida cristã dominada por preceitos

O papa Francisco criticou hoje, no Vaticano, o «coração hipócrita» dos chefes dos sacerdotes ao tempo de Cristo, nomeadamente no que respeita ao cumprimento de preceitos religiosos que excluem a proximidade e a misericórdia, e vincou a necessidade de os cristãos se centrarem no essencial da fé.

Os chefes dos sacerdotes, afirmou Francisco, baseando-se no Evangelho proclamado nas missas desta segunda-feira, «negociavam tudo: negociavam a liberdade interior, negociavam a fé, negociavam a pátria, tudo, menos as aparências. A eles o que importava era sair bem das situações».

«Alguns de vós poderão dizer-me: “Mas padre, esta gente observava a lei”», como não caminhar mais do que determinada distância ao sábado, «“nunca iam para a mesa sem lavar as mãos e fazer as abluções; era gente muito observante, muito segura nos seus hábitos”; sim, é verdade, mas nas aparências. Eram fortes, mas exteriormente», apontou o papa, citado pela Rádio Vaticano.

A vida dos dirigentes judaicos estava «toda regulada» no que se refere aos comportamentos exteriores, mas no seu interior tinham «um coração fraco e uma pele rígida, forte, dura».

«Jesus, ao contrário, ensina-nos que o cristão deve ter o coração forte, o coração firme, o coração que cresce sobre a rocha, que é Cristo», disse o papa, antes de acentuar: «Não se negoceia o coração, não se negoceia a rocha. A rocha é Cristo, não se negoceia».

«Este é o drama da hipocrisia daquela gente. E Jesus nunca negociava o seu coração de Filho do Pai, mas estava muito aberto às pessoas, procurando caminhos para ajudar. “Mas isto não se pode fazer; a nossa disciplina, a nossa doutrina diz que não se pode fazer”, diziam eles», apontou.

Francisco lembrou um episódio bíblico, quando judeus interpelaram Jesus: «“Porque é que os teus discípulos comem espigas do campo, quando caminham, ao sábado? Não se pode fazer”. Eram muito rígidos na sua disciplina: “Não, a disciplina não se toca, é sagrada”».

A homilia prosseguiu com a memória que Francisco evocou do papa Pio XII, quando este decidiu libertar os fiéis da «cruz tão pesada que era o jejum eucarístico», que impedia a ingestão de alimentos antes do sacramento da Comunhão.

«Não se podia sequer beber um copo de água. Nem sequer isso. E para lavar os dentes, devia fazer-se de modo a que a água não fosse engolida. Eu próprio, quando era rapaz, fui confessar-me por ter comungado acreditando que tinha engolido um gole de água», referiu.

Quando o papa alterou a regra, algumas reações dentro da Igreja foram de indignação: «“Ah, heresia! Não! Tocou na disciplina da Igreja”; muitos fariseus escandalizaram-se. Muitos. Porque Pio XII fez como Jesus: viu as necessidades das pessoas. “Pobre gente, com tanto calor”. Estes padres diziam três missas, a última à uma hora, depois do meio-dia, em jejum. A disciplina da Igreja. E estes fariseus eram assim – “a nossa disciplina” –, rígidos na pela mas, como Jesus lhes disse, “putrefactos no coração”, fracos, fracos até à podridão. Tenebrosos no coração».

«Também a nossa vida pode tornar-se assim, também a nossa vida. E algumas vezes, confesso-vos uma coisa, quando vi um cristão, uma cristão assim, com coração fraco, instável, não agarrado à rocha – Jesus –, e com muita rigidez exterior, pedi ao Senhor: “Senhor, põe-lhe uma casca de banana à frente, para que tenha uma bela escorregadela e se envergonhe de ser pecador, e assim te encontre, Tu que és o Salvador», afirmou Francisco.

Todavia, continuou o papa, «a gente simples» não se deixava levar pelos doutores da lei porque tinham aquela intuição da fé».

A terminar, Francisco apresentou uma prece: «Peço ao Senhor a graça de que o nosso coração seja simples, luminoso com a verdade que Ele nos dá, e assim possamos ser amáveis, perdoadores, compreensíveis com os outros, de coração largo com as pessoas, misericordiosos».

A par da compaixão, outra recomendação: «Nunca condenar, nunca condenar. Se tu tens vontade de condenar, condena-te a ti próprio, que algum motivo deves ter», assinalou.

«Peçamos ao Senhor a graça de nos dar esta luz interior, que nos convença de que a rocha é só Ele, e não muitas histórias que fazemos coisas importantes; e que Ele nos indique – que Ele nos indique! – o caminho, Ele nos acompanhe no caminho. Ele nos alargue o coração, para que possam entrar os problemas de tanta gente, e Ele nos dê uma graça que esta gente [fariseus, doutores da lei] não tinha: a graça de nos sentirmos pecadores», concluiu Francisco.

 

Sergio Centofanti / Rádio Vaticano
Trad. / edição: Rui Jorge Martins
Publicado em 15.12.2014 | Atualizar em 21.04.2023

 

 
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«Também a nossa vida pode tornar-se assim, também a nossa vida. E algumas vezes, confesso-vos uma coisa, quando vi um cristão, uma cristão assim, com coração fraco, instável, não agarrado à rocha – Jesus –, e com muita rigidez exterior, pedi ao Senhor: “Senhor, põe-lhe uma casca de banana à frente"»
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