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Misericórdia: da emoção à prática, do sentimento à ética

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Misericórdia: da emoção à prática, do sentimento à ética

«Tanto na Bíblia hebraica como na cristã, a misericórdia não é apenas uma emoção diante do sofrimento alheio. É verdade que ela emerge do impacto irrecusável da dor do outro em nós, mas depressa se transforma em práxis e em ética. A misericórdia deve ser feita», considera José Tolentino Mendonça.

No artigo publicado este sábado na revista do jornal "Expresso", o biblista destaca o início do "Ano Santo da Misericórdia", na próxima terça-feira, 8 de dezembro, e recorda um dos muitos apelos lançados pelo papa Francisco: "Que a chamada para experimentar a misericórdia não deixe ninguém indiferente».

Para o vice-reitor da Universidade Católica Portuguesa, «a misericórdia poderá ser, contudo, uma categoria a precisar de retradução cultural, como se passou com o termo "caridade", que ainda hoje muitos não conseguem engolir, tal o desvio e o peso caricatural que a expressão sofreu no tempo».

«Há teólogos que preferem, por exemplo, falar de uma "caridade da razão" ou de uma "caridade política", pois ela, de facto, não existe desligada do âmbito da justiça e dos direitos fundamentais que assistem a pessoa humana. A caridade não é uma vaga e eventual manifestação de piedade, mas um radical e preciso sentido do outro. Semelhante recontextualização hermenêutica dever merecer a misericórdia», sustenta.

A compaixão que move o coração, sublinha Tolentino Mendonça, convoca à ação «segundo a necessidade concreta do outro»: «A prática da misericórdia fala assim da materialidade da vida em detalhe: do comer e do vestir, da habitação e do acesso aos cuidados de saúde, da qualificação afetiva do que vivemos através do esquecido exercício da consolação, da hospitalidade e do calor do acolhimento, da reconstrução da dignidade nas vidas negadas».

Ao mesmo tempo que «refaz a qualidade da vida como imperativo», a misericórdia «ultrapassa as fronteiras da Igreja e deverá ser redescoberta como uma ponte para o diálogo inter-religioso e transcivilizacional», contribuindo para um melhor conhecimento e compreensão, acentua Tolentino Mendonça.

 

Rui Jorge Martins
Publicado em 22.04.2023

 

 
Imagem © Howgill/Fotolia
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