Faleceu hoje o grande cineasta português Manoel de Oliveira, com 106 anos. Ainda com projetos por fazer, o realizador filmou até ao ano passado, deixando como última obra "O Velho do Restelo", curta-metragem sobre uma conversa entre Luís de Camões, Fernando Pessoa e Teixeira de Pascoaes.
Manoel de Oliveira nasceu no Porto a 11 de dezembro de 1908, estuda cinema com o italiano Rino Lupo e realiza o seu primeiro filme aos 23 anos. "Douro Faina Fluvial" é um documentário – um filme sinfonia ou sinfonia urbana – de estilo vanguardista posto em prática por Walter Ruttmann e depois por Dziga Vertov, Jean Vigo e Joris Ivens – cineastas maiores da história do cinema – entre outros, mas que só terá continuidade em 1942 com "Aniki Bobo", mais neorrealista, mas com a célebre cena expressionista do sonho.
Na década de 1950, faz quatro documentários, filmando sempre de forma independente, nunca fazendo parte do grupo do “Cinema do Lumiar”.
Em 1963, realiza dois dos filmes com que será recordado : "A Caça", uma curta-metragem que a Censura o obrigou a remontar, impondo um final feliz, e "O Acto da Primavera", que documenta uma encenação popular do Auto da Paixão em que Oliveira faz uma série de analogias através da montagem numa estética que perdurará na sua obra "a posteriori".
Em 1978, começa a internacionalização da sua obra com a adaptação de "O Amor de Perdição" e a produção de Paulo Branco, que o acompanhará até à viragem para o século XXI, sempre com uma produtividade espantosamente regular para a sua idade.
Antes, em 1971, o célebre episódio que se tornou anedota sobre a longevidade de Manoel de Oliveira, quando unanimemente é apontado pelos colegas do recém-criado Centro Português de Cinema, organismo encarregue de gerir o dinheiro com que a Fundação Gulbenkian apoiou a produção cinematográfica, como o primeiro realizador que seria apoiado, no que era tido como provavelmente o seu último filme ("O Passado e o Presente") e que seria uma homenagem em vida ao realizador.
Católico confesso, defendeu sempre o cinema como arte de exprimir o religioso, questionando o mistério do mundo e a complexidade humana, por vezes, não poupando críticas a uma instituição que considerava demasiado fechada relativamente a certos assuntos e temas.
Inês Gil