O presidente do Centro Nacional de Cultura, Guilherme d'Oliveira Martins, afirmou hoje, em Fátima, que atualmente «é mais fácil a indiferença do que a compreensão da diferença».
Património, herança e memória constituíram os eixos da intervenção que proferiu na 11.ª Jornada Nacional da Pastoral da Cultura, que debate o tema "Tempo de cultura, tempo de família".
Guilherme d'Oliveira Martins preconizou o «diálogo entre culturas» e «preservação da [sua] diversidade», o que não significa nem «uma lógica informe e sem distinções» nem «um sincretismo».
A intervenção centrou-se depois na multiplicidade dos agregados familiares e das dificuldades concretas que colocam: «Nem tudo são rosas; pelo contrário; se olharmos em volta veremos que a família não é uma abstração».
«A família, para ser compreendida, tem de o ser a partir da sua realidade concreta, da conflitualidade, dos problemas, das angústias», vincou, acrescentando três questionamentos: «Por que razão chegámos à taxa de natalidade que hoje temos?»; «onde está a conciliação familiar?»; «onde está a compreensão do papel da mulher na educação?»
Após mencionar a alegria que está a viver com o nascimento, há um mês, da sua oitava neta, Guilherme d'Oliveira Martins realçou que «a família é uma realidade de geometria variável» que «coloca muitas dificuldades», nomeadamente nas injustiças que se verificam no universo laboral.
«Como contrariamos as baixas taxas de natalidade? Como contrariamos a discriminação das mulheres por causa da natalidade?», interrogou, antes de vincar que «a mulher não pode ser interrogada, na entrevista de emprego, se pretende ou não ter filhos».
A par da discriminação entre mulher em idade fértil e o homem, que é «ilegítima», coloca-se a necessidade da «conciliação de horários»: «Estamos no cerne da cultura», declarou, acrescentando que este problema «não se soluciona com declarações ou boas intenções, mas com medidas concretas».
Para Guilherme d'Oliveira Martins, muitas famílias «não assumem a sua quota-parte» na educação: «Ai de nós se não cuidarmos deste triângulo fundamental que é escola, família e comunidade».
O antigo deputado e ex-ministro da Educação, Finanças e Presidência defendeu a «maternidade e paternidade responsável»: «O princípio fundamental não é definir o número, mas ser responsável em relação aos filhos que se têm».
Guilherme d'Oliveira Martins acentuou, ainda, que «a austeridade é momentânea, enquanto que a sobriedade é permanente», salientando que «o bem fundamental de uma sociedade não são os recursos materiais, mas as capacidades humanas».
Rui Jorge Martins