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Fr. Joaquim Carreira das Neves: «Morreu o padre que vivia nos nossos corações ateus»

Fr. Joaquim Carreira das Neves: «Morreu o padre que vivia nos nossos corações ateus»

Imagem Fr. Joaquim Carreira das Neves | D.R.

«Via-o na televisão, quando assistia à eucaristia dominical, a solução de compromisso de quem queria escapar à missa ao vivo e a cores. admirava-lhe o tom e a empatia, mesmo em registo formatado para ecrã. anos depois, fé desmontada, tive o privilégio de cruzar-me com ele, confirmando a carga empática, a afabilidade, acrescentando o sentido de humor e a disponibilidade.»

Estas são algumas das palavras como que o escritor e ilustrador Pedro Vieira recordou o Fr. Joaquim Carreira das Neves na última sexta-feira, 28 de abril, dia da sua morte.

O biblista foi convidado para o programa "Inferno", no canal Q, «lugar que achou natural visitar». O último contacto ocorreu durante uma reportagem, para a mesma estação, no seminário da Luz, onde residia: «não voltámos a conviver depois, tinha imenso medo que ele me convertesse, por via do desassombro e da lucidez».

«Morreu o mais fixe, como diz o Hélder. morreu o padre que vivia nos nossos corações ateus», assinalou Pedro Vieira na sua página no Facebook.



«Nunca se ficou pela docência dentro das quatro paredes das aulas. Soube, de facto, como ninguém, trazer a reflexão teológica, sempre iluminada pela Palavra, para o espaço público»



O estudo e a competência, a par da amabilidade, simplicidade e proximidade com crentes e não crentes, são qualidades frequentemente apontadas pelos testemunhos evocativos.

O presidente da República salientou o percurso do religioso franciscano, falecido aos 83 anos: «Dotado de uma invulgar cultura teológica e humanística, o Padre Joaquim Carreira das Neves distinguiu-se pela lucidez da sua voz, pelo rigor e pela serenidade do seu pensamento e pela elevação do seu espírito».

Às «qualidades pessoais e humanas extraordinárias», Joaquim Carreira das Neves «aliava um conhecimento ímpar do mundo antigo a uma abertura notável às coordenadas da contemporaneidade, na esteira dos ensinamentos pós-conciliares e de uma conceção renovada da presença da Igreja no mundo», refere o texto publicado na página da Presidência na sexta-feira.

No mesmo dia, durante a manhã, em Coimbra, ao ser informado da morte, Marcelo Rebelo de Sousa afirmara aos jornalistas: «Tenho um grande desgosto pessoal, era amigo dele há muito tempo, era uma grande figura, um franciscano muito devotado ao ensino, à investigação da Bíblia e ao serviço dos outros».



«Era um homem com uma cultura vastíssima e de encontro com pessoas», ao mesmo tempo que foi «um amigo não só daqueles que pensam igual mas daqueles com quem se pode ter uma relação na construção de um mundo melhor»



Para o P. José Tolentino Mendonça, o religioso «foi sem dúvida aquele que no espaço público português mais e melhor falou da Bíblia», sendo «capaz de aprender com todos e ensinar a todos».

Em declarações à agência Ecclesia, o especialista em ciências bíblicas declarou que o investigador «percebia a Bíblia como um grande código de cultura, de pensamento, de procura espiritual, de interrogação, de pergunta sobre o humano e sobre o divino».

Joaquim Carreira das Neves «era ao mesmo tempo uma pessoa de grande erudição e de uma extraordinária simplicidade, capaz de aprender com todos e de ensinar a todos».

«Ele era, como estudioso, verdadeiramente exemplar, não só pelo empenho que colocava na investigação e no cuidado de a manter atual, mas também pela perceção de que a ciência precisa de ser comunicada», acrescentou.

O Fr. Isidro Lamelas, antigo responsável máximo dos Franciscanos em Portugal, retoma esta impressão: «Nunca se ficou pela docência dentro das quatro paredes das aulas. Soube, de facto, como ninguém, trazer a reflexão teológica, sempre iluminada pela Palavra, para o espaço público».



O cardeal-patriarca de Lisboa destacou a «enorme vontade de comunicar e enorme capacidade para o fazer, onde fosse preciso, dentro e fora da esfera eclesial» do Fr. Carreira das Neves, em cujo coração «todos tinham vez e cabimento», expressão da sua «vontade de fazer pontes»



Em depoimento enviado à Ecclesia, o confrade recorda que Carreira das Neves foi, na Universidade Católica, «professor de muitos dos que hoje são pastores na Igreja» e de «tantos outros que investigam e ensinam Teologia».

O investigador de Patrologia classifica o biblista como «um homem livre e um servidor da Palavra que liberta», ao mesmo tempo que manteve «uma mente atenta aos sinais do tempo e um intérprete atento do palpitar do mundo no qual viveu sempre como cidadão do infinito».

Isidro Lamelas revela que Fr. Carreira das Neves preparava uma publicação sobre o evangelista S. João e manifesta a esperança de que «boa parte do trabalho» possa ser publicado.

«De todos os biblistas era o homem que mais lia e mais informado estava sobre o que ia saindo», observa o bispo de Setúbal, D. José Ornelas, antigo aluno do Fr. Carreira das Neves que também viria a tornar-se docente de disciplinas bíblicas na Faculdade de Teologia da Universidade Católica.

O prelado, ouvido pela Ecclesia, destaca que o sacerdote «era um homem com uma cultura vastíssima e de encontro com pessoas», ao mesmo tempo que foi «um amigo não só daqueles que pensam igual mas daqueles com quem se pode ter uma relação na construção de um mundo melhor».

As exéquias foram presididas pelo cardeal-patriarca, D. Manuel Clemente, que destacou a «enorme vontade de comunicar e enorme capacidade para o fazer, onde fosse preciso, dentro e fora da esfera eclesial» do Fr. Carreira das Neves, em cujo coração «todos tinham vez e cabimento», expressão da sua «vontade de fazer pontes».



 

SNPC
Fontes: Ecclesia, Pedro Vieira
Publicado em 02.05.2017

 

 
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