Enfurecer-se e excitar-se ao combater alguma ideia é fácil sobretudo quando não estamos totalmente seguros da nossa posição e nos sentimos interiormente tentados a partir para cima do adversário.
É subtil mas bem fundada esta observação extraída daquela espécie de epopeia narrativa de uma família mercantil do séc. XIX que é o romance "Os Buddenbrook", publicado em 1901 pelo escritor alemão Thomas Mann.
Às vezes, com efeito, tem-se reações furiosas contra uma outra pessoa e contra as suas ideias porque se intui, com terror, que elas são muito verdadeiras do que aquilo que se pensava no início do debate.
A honestidade pediria que se reconhecesse o erro. E no entanto ou se continua de maneira capciosa e balbuciante a sustentar as próprias teses, ou se cede a um ataque insensato, talvez mesmo, se é possível, apelando a um princípio de autoridade.
Por isso é preciso suspeitar de quem parece muito convencido das suas ideias para necessitar de as defender com ferocidade, desprezo e agressividade. Muitas vezes, efetivamente, tudo isso esconde incerteza e até escassa confiança em si mesmo e nas próprias argumentações.
A raiva explosiva não é sinal de poder, mas de debilidade, tanto é verdade que a sabedoria popular cunhou, para a definir, a imagem do fogo de palha, pronto a espicaçar-se, alto a levantar-se, rápido a extinguir-se. Lê-se, todavia, no livro dos Provérbios: «Começar uma questão é como soltar as torrentes» (17,14).
P. [Card.] Gianfranco Ravasi