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Ignorância é a primeira causa do ódio fundamentalista; combate exige educação e cultura

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Ignorância é a primeira causa do ódio fundamentalista; combate exige educação e cultura

Entre o atentado de 18 de março de 2015 ao Museu do Bardo, em Tunes, e o ocorrido a 15 de julho «não há nenhuma diferença», considera o diretor da instituição museológica da capital da Tunísia, Moncef Ben Moussa.

«Em primeiro lugar porque nada muda de uma margem à outra do Mediterrâneo: é sempre o mesmo mar, o mesmo mundo. Mais do que qualquer outra coisa, todavia, há o facto de o terrorismo nos ameaçar a todos, no Mediterrâneo e noutros lugares. Aqui não se trata de religião ou de área política, aqui trata-se de valores humanos universais de um lado e de inimigos daqueles valores da própria vida do outro», afirmou ao diário italiano Avvenire.

De onde extrai sustento o ódio fundamentalista?
Antes de tudo, da ignorância do passado. Hoje somos plurais e diversos, esta é a nossa riqueza, mas as nossas raízes mergulham num passado que nos é comum, tornando-nos parte de uma só humanidade. Como arqueólogo e historiador tenho o privilégio de reconhecer na diversidade entre as culturas uma herança que pertence a toda a humanidade. Esta consciência é mais que nunca determinante na construção da paz. Só a ignorância da história, só a falta de conhecimento daquilo que já nos coloca em comum impede de partilhar o presente com o outro. O outro é a parte necessária na vida de cada um de nós. De cada vez que reforçamos esta perceção distanciamo-nos dos inimigos da vida que, por ignorância, veem no outro apenas o inimigo. Bombas e mísseis não chegam para combater o terrorismo: educação e cultura são armas igualmente eficientes.

A ignorância é o perigo de que nos devemos precaver?
No ambiente estreito dos fundamentalismos vigora a regra pela qual se não estás comigo, se não pensas como eu, se não temos as mesmas convicções, então és diferentes, és um outro, e consequentemente és o inimigo, porque a verdade pertence-me e tu estás no erro. Isto já deixa de ser ignorância, é uma patologia mental, uma atitude de desequilibrados. Não acredito que uma pessoa com saúde seja capaz de provocar voluntariamente dano à vida do outro, só os fundamentalistas podem chegar a tanto.

As cidades, como os museus, são lugares da memória e da beleza. É por isso que são tão atingidas pelo terrorismo?
Na história as cidades tornaram-se símbolo de acolhimento: sempre abertas e tolerantes, são o lugar de encontro onde não se impõem limites culturais, religiosos ou políticos. As cidades promovem a diversidade e é por isso que são um alvo para os terroristas.

A Europa poderia fazer mais pelo Magreb?
Já está a fazer muito, mas muito mais poderia fazer pelo Magreb e pelo resto do mundo. Deverá ultrapassar o preconceito pelo qual o alto, enquanto tal, pode ser um perigo, porque é sobre esta base que foram sempre edificadas barreiras e muralhas. Ao mesmo tempo, estou convencido de que também o Magreb poderia fazer mais pelo mundo e pela humanidade, por exemplo, reconhecendo maior valor à educação e à cultura. É a única maneira para proteger os jovens, para combater o extremismo e participar na construção de um futuro de paz. No Magreb, como em outras regiões do mundo, a ignorância arruinou gerações e gerações, fornecendo pretextos ao extremismo, ao fundamentalismo, à intolerância. São as questões que, a par da pobreza espalhada, derivada de escolhas políticas erradas, se tornam dramaticamente evidentes no fenómeno da emigração, ao qual a Europa está a procurar reagir instituindo um espaço fechado. É uma escolha talvez compreensível, mas perdedora do ponto de vista histórico. Em vez de se limitar a apoiar alguns regimes políticos ou, pior ainda, a insistir no comércio das armas, teria sido muito mais útil se a União Europeia tivesse apoiado o desenvolvimento no campo da educação e da cultura. Mas para fazer isto é preciso compreensão recíproca e vontade de construir um mundo de paz. E a compreensão, por seu turno, é um facto cultural.

Moncef Ben Moussa é um dos convidados do Meeting de Rimini, que o movimento católico Comunhão e Libertação organiza naquela cidade italiana entre 19 e 25 de agosto, sobre o tema "Tu és um bem para mim".

Através de exposições, concertos, ópera, cinema e outras expressões artísticas, debates, testemunhos e torneios desportivos, a iniciativa, «com as suas várias linguagens, contará histórias de integração e perdão, colocará em discussão as grandes emergências de hoje, fará falar os protagonistas da cultura e da expressividade, confrontar-se-á com os desafios da tecnologia e da inovação, tentará olhar para o trabalho e para a economia sem demonizações moralistas», lê-se na página do encontro.

O Meeting, que vai ser inaugurado pelo Presidente da República italiano, Sergio Mattarella, conta com dezenas de debates, nos quais participam figuras como o prémio Nobel da Paz de 2015, o tunisino Mohamed Fadhel Mahfoudh, além de ministros, empresários, investigadores e responsáveis e agentes pastorais do país anfitrião e de várias proveniências do globo.

 

Rui Jorge Martins
Publicado em 22.07.2016 | Atualizado em 24.04.2023

 

 
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No ambiente estreito dos fundamentalismos vigora a regra pela qual se não estás comigo, se não pensas como eu, se não temos as mesmas convicções, então és diferentes, és um outro, e consequentemente és o inimigo, porque a verdade pertence-me e tu estás no erro. Isto já deixa de ser ignorância, é uma patologia mental
No Magreb, como em outras regiões do mundo, a ignorância arruinou gerações e gerações, fornecendo pretextos ao extremismo, ao fundamentalismo, à intolerância. São as questões que, a par da pobreza espalhada, derivada de escolhas políticas erradas, se tornam dramaticamente evidentes no fenómeno da emigração
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