Os apaixonados de música medieval esperavam-na há tempo e agora chegou, finalmente: a coleção que recolhe a integral das obras sacras de Hildegarda de Bingen (1098-1179) assinada pelo “ensemble” norte-americano Sequentia é um precioso documento que não pode faltar em nenhuma discoteca clássica.

E ainda que ao longo dos anos o ouvinte tenha recolhido com paciência cada nova edição, aqui pode encontrar-se reunida numa edição económica – com uma elegante embalagem e um novo ensaio introdutivo – os nove CD que compõem as peças de uma operação que ocupa um altíssimo valor histórico, artístico e espiritual.

Tudo começou no longínquo 1982, com a primeira gravação do “Ordo virtutum” (“O drama das virtudes”, uma das mais antigas de representação sacra que chegou até nós) e prosseguiu com a gravação completa dos 77 trechos compreendidos na monumental recolha “Symphonia harmoniae caelestium revelationum” (“Sinfonia da harmonia das revelações celestes”), escrita pela mística e santa alemã, proclamada Doutora da Igreja em 2012 por Bento XVI.

Sob a direção artística de Barbara Thornton (desaparecida em 1998) e com o cofundador Benjamin Bagby, o trabalho dos Sequentia esteve sempre em contacto estreito com os manuscritos originais e através do contínuo confronto com musicólogos e filólogos, envolvendo quase 60 pessoas entre os mais importantes cantores e instrumentistas do panorama internacional.

Interpretações intensas, reflexivas e ao mesmo tempo visionárias de música absolutamente extraordinária, caracterizada pela riqueza e originalidade de um estilo compositivo que, pela sua beleza e preciosidade, possui poucas comparações no repertório sacro de toda a Idade Média.

Em “Hildegard Von Bingen Edition” (Harmonia Mundi) os textos cantados em latim ao longo de quase 12 horas de música estão gratuitamente disponíveis na página do agrupamento em inglês, francês e alemão. Qualquer pessoa que tenha cantado a música de Hildegarda sabe que se conta entre o mais sublime, virtuoso e exigente repertório vocal alguma vez criado, lê-se no site do Sequentia.

Trata-se de trechos que, apesar de permanecerem confinados à rigorosa tradição do canto gregoriano, tocam pela profundidade de inspiração e imediatez expressiva, frutos espontâneos de uma devoção concretamente vivida.