Para a segunda Páscoa marcada pela pandemia, o papa escolheu uma imagem eloquente para o tradicional postal de votos pascais: a célebre e majestosa escultura “Ressurreição”, realizada ao longo de cinco anos por Pericle Fazzini (1913-1987), que domina o maior auditório do Vaticano, a Sala/Aula Paulo VI.
A escolha de Francisco ocorre no ano em que se assinala o cinquentenário do espaço, inaugurado a 30 de junho de 1971, concebido por vontade do papa Montini, que lhe deu o nome, segundo projeto de Pier Luigi Nervi. Na arquitetura e na escultura do auditório manifesta-se a valorização que os pontífices concederam às artes dos seus tempos.
A escultura de 20 metros de comprimento, sete de altura e três de profundidade situa, ao centro, Cristo ressuscitado, que emerge de um caos indefinido, símbolo da morte, elevando-se de uma «cratera» que, segundo o autor, resulta de uma bomba nuclear.
Os longos cabelos e a barba de Cristo são impelidos por um vento que sopra da esquerda para a direita, os braços estão abertos, os dedos estendem-se para o alto, o rosto transparece sofrimento interior. A obra completa-se com um conjunto de elementos naturais fundidos entre eles e relativamente indefinidos, como rochas, ramos secos e raízes.
O trabalho de Fazzini é «declinado em massas plásticas fortemente salientes, numa instalação de complexa articulação, na qual também se destaca o domínio seguro da matéria e a rigorosa coerência do discurso», escreveu Vilma Torselli na página Artonweb.it.
A figura «monumental» e «única» de Cristo evoca «o testemunho confiado ao ministério apostólico, ser aquele Jesus que foi crucificado, constituído Senhor e Cristo, testemunho que o sucessor de Pedro com certeza e com humildade de fé quer proclamar», declarou S. Paulo VI a 28 de setembro de 1977, data da inauguração da escultura.
«Queremos atestar (…) que Cristo, ainda hoje, está na história do mundo; ainda hoje mais que nunca, Cristo está vivo, Cristo é real. Vivo e real, não na penumbra da dúvida e da incerteza, não na interpretação vã de um racionalismo míope e orgulhoso, que o coarta na medida dos fenómenos compreensíveis», mas na «excedente dimensão do seu Ser divino», afirmou na audiência geral.
Cada pessoa, prosseguiu S. Paulo VI, está «autorizada a chamá-lo pelo seu nome, não como personagem estranho, longínquo e inacessível, mas como o “Tu” do supremo e único amor», e por isso «é belo» que esteja representada uma obra evocadora da «presença transcendente e imanente de Cristo».
Mons. Leonardo Sapienza recorda, no álbum fotográfico dedicado ao auditório Paulo VI, que S. Paulo VI convidou, em 1964, Pier Luigi Nervi a construir um lugar apropriado para acolher as multidões cada vez mais numerosas de fiéis e peregrinos. O P. Sapienza escreve que o arquiteto perguntou ao papa se, estando a obra a poucos passos da cúpula de Miguel Ângelo, poderia ser ousado; a resposta foi clara: «Oh, sim! É preciso saber ousar no momento certo!».
De acordo com os cálculos publicados por Mons. Sapienza, em meio século, entre audiências e outras manifestações realizadas na presença de Montini, Luciani, Wojtyla, Ratzinger e Bergoglio, mais de 12 milhões de fiéis estiveram no auditório, número que transmite a ideia do que representou e representa um espaço onde pessoas de múltiplas línguas e culturas tem a oportunidade de ver e abraçar o papa.
D.R.