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Faculdade de Letras organiza curso livre de literatura e religião

Imagem Chamamento de S. Mateus | Caravaggio | 1599-1600 | Igreja de S. Luís dos Franceses, Roma, Itália | D.R.

Faculdade de Letras organiza curso livre de literatura e religião

Do Génesis à agonia de Jesus, do misticismo a Pascal, do epicurismo a Wittgenstein, de Miguel Ângelo a Flannery O'Connor: estes são alguns dos temas e autores a desvendar no curso "Literatura e religião", que decorre no mês de fevereiro, em Lisboa.

Composta por dez aulas, a formação organizada pelo programa de Teoria em Literatura da Faculdade de Letras da Universidade em Lisboa visa «analisar várias obras que, de uma forma ou de outra, se relacionem com Religião», refere a nota de apresentação.

«Embora partindo de um tema central comum», as sessões, com duas horas de duração e entrada livre, «serão suficientemente heterogéneas, de tal forma que se discutirão contos, poemas, frescos e passagens do Evangelho».

No primeiro encontro, a 2 de fevereiro, o padre dominicano Filipe Rodrigues centra-se sobre o primeiro capítulo do livro que abre a Bíblia, o Génesis.

«Partindo do axioma teológico-filosófico “homo capax Dei” (Aristóteles – São Tomás de Aquino), propõe-se abordar o poema bíblico da criação, quer sob o ponto de vista literário quer teológico, para falar das origens do mundo e do ser humano e chegar à eternidade de Deus», procurando perceber «a importância de Deus para o homem e do homem para Deus».

No dia 3, Maria Rita Furtado reflete sobre o Misticismo: «No "Tractatus Logico-Philosophicus", Wittgenstein afirma famosamente que, "acerca daquilo de que não se pode falar, tem que se ficar em silêncio". Ora, para místicos como São João da Cruz, o problema da comunicação subjaz a todas as descrições que fazem das suas experiências místicas: Deus está acima das coisas humanas e, portanto, da linguagem, o que implica que a comunicação com o divino não pode ser proposicional.

«Assim, procurar-se-á ler excertos curtos de autores tão diferentes como São João da Cruz, William James, Ralph Waldo Emerson e Simone Weil, tentando perceber melhor o problema da comunicação e da linguagem para questões de misticismo e experiências religiosas.»

O "fragmento 130" dos "Pensamentos" de Pascal é tema da sessão do dia 4, com Simão Lucas Pires, que analisará igualmente o texto "L'Entretien de M. Pascal et M. de Sacy": ambos se referem «ao caráter contraditório da existência humana, à dupla natureza que constitui o homem».

«Tentar-se-á explicar o que está em causa naquilo a que Pascal chama "princípio de grandeza" e "princípio de miséria", e propõe-se também explicar em que medida o diagnóstico antropológico assim traçado pode ser um sinal a favor da religião cristã.»

O ciclo prossegue a 5 de fevereiro com o estoicismo e o epicurismo, com Nuno Amado a propor-se «mostrar as pequenas diferenças entre as duas filosofias, quase todas consequência direta da escolha de vida específica que as caracteriza».

«Partindo, portanto, dessa diferença fundamental, procurar-se-á evidenciar de que modo buscar o prazer ou buscar a virtude levam a que a Epistemologia, a Teologia, a Ética, a Física e a Filosofia Prática dos epicuristas seja necessariamente distinta da dos estoicos.»

A primeira semana do curso termina com o relato da oração de Jesus no Getsémani, em Mateus 26, 36-46: Alberto Arruda focará os momentos em que o Filho se dirige ao Pai, sinalizando «a dimensão moral» desses momentos, «ou seja, a importância da compatibilidade entre aquilo que se quer» e o que é «requerido» a cada pessoa.

«Por fim, tentar-se-á oferecer algumas reflexões relativas às implicações práticas que fortemente qualificam a ideia de liberdade e a forma como esta é experienciada pelas pessoas.»

A 9 de fevereiro, Jean Pierre de Roo desafia os ouvintes para "uma experiência singular de Wittgenstein", para quem «os barulhos religiosos, fazendo parte de formas de vida, inscrevem-se na história natural da espécie».

«A partir da leitura de «Uma experiência singular», relato de uma visão mística ocorrida em 1922, procurar-se-á perceber o processo de naturalização das crenças religiosas», terminando a aula com uma interrogação: «Para um adepto da filosofia da linguagem o que pode significar ter uma revelação religiosa na sua própria forma de vida?»

Sobre "O juízo final", de Miguel Ângelo, detém-se Jorge Almeida, no dia 10, que analisa o livro "La Cava: the line of faith in Michelangelo’s painting (1980), de Leo Steinberg, ensaio sobre a intuição segundo a qual existe na pintura  um autorretrato do artista na pele que se encontra na mão do mártir S. Bartolomeu».

«Em seguida, tentar-se-á responder a uma pergunta que Steinberg faz no seu ensaio – “but why a skin?” -, mas à qual o crítico parece nunca dar uma resposta satisfatória. A tentativa de resposta que será apresentada na aula passará pela análise de vários textos, desde a exegese bíblica de Agostinho até versos de John Milton.»

"Um bom homem é difícil de encontrar", de Flannery O'Connor, é a leitura programada para o dia 11, com João Pedro Vala, que parte de uma examina a personagem principal e o final da obra «para se estabelecer um paralelo com a narração da crucificação de Jesus».

«Finalmente, sugerir-se-á que o momento final do conto propõe uma visão particularmente otimista do mundo.»

A 12 de fevereiro, Miguel Tamen apresenta a sua perspetiva sobre a parábola do filho pródigo, «quase sempre considerada difícil; e muitas vezes considerada incompreensível», dificuldade que «tem sobretudo a ver com um entendimento muito frequente do conceito de justiça».

«Perceber uma parábola não é assim exatamente como perceber outra história qualquer; o critério da interpretação correta é a alteração do modo como até aí tínhamos visto as coisas; e coisas de que a parábola não fala.»

O curso conclui-se a 13 de fevereiro com a apresentação de Maria Mendes sobre o poema "The anatomie of baseness: or the foure quarters of a knaue" (1615), de John Andrewes, em que o clérigo «descreve as quatro características de um patife», entre as quais «lisonja» e «difamação», a que serão prestadas particular atenção.

As aulas decorrem a partir das 18h00 na sala 6.5. Os interessados podem frequentar as sessões que entenderem. Está disponível um certificado de participação, reservado a quem se inscrever na secretaria da Faculdade de Letras.

 

Rui Jorge Martins
Publicado em 12.01.2015

 

Informações: cliteraturaereligiao@gmail.com

 

 
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A primeira semana do curso termina com o relato da oração de Jesus no Getsémani, em Mateus 26, 36-46: Alberto Arruda focará os momentos em que o Filho se dirige ao Pai, sinalizando «a dimensão moral» desses momentos, «ou seja, a importância da compatibilidade entre aquilo que se quer» e o que é «requerido» a cada pessoa
Miguel Tamen apresenta a sua perspetiva sobre a parábola do filho pródigo, «quase sempre considerada difícil; e muitas vezes considerada incompreensível», dificuldade que «tem sobretudo a ver com um entendimento muito frequente do conceito de justiça»
Perceber uma parábola não é assim exatamente como perceber outra história qualquer; o critério da interpretação correta é a alteração do modo como até aí tínhamos visto as coisas; e coisas de que a parábola não fala
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