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"Tão alto quanto os olhos alcançam": Diálogo entre arte sacra e contemporânea

"Tão alto quanto os olhos alcançam": Diálogo entre arte sacra e contemporânea

Imagem Exposição "Tão alto quanto os olhos alcançam" | D.R.

A Fundação Eugénio de Almeida, em Évora, apresenta até 15 de março a exposição "Tão alto quanto os olhos alcançam", que «propõe uma leitura cruzada entre a arte sacra e a arte contemporânea».

A iniciativa marca «o culminar de uma trajetória de mais de uma década de inventariação do património artístico da Arquidiocese de Évora e de divulgação da arte contemporânea», explica uma nota enviada ao Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura.


Imagem Exposição "Tão alto quanto os olhos alcançam" | D.R.

A mostra, comissariada por Delfim Sardo, expõe obras relevantes de pintura, escultura e paramentaria provenientes de instituições de culto, bem como de arte contemporânea, de artistas como Joseph Beuys, Michael Biberstein, José Pedro Croft e Fernando Calhau.

Delfim Sardo assinala que «transcendência, ritual, finitude» são as três «problemáticas» que a exposição tematiza, «na sua relação com a criação artística».


Imagem Stephan Balkenhol | Angel, Devil, World, 1994 | Madeira wawa e tinta | 285 x 84 x 97 cm (anjo), 285 x 61 x 51 cm (demónio), 150 x 27 x 31 cm (mundo) | Ellipse Foundation, Contemporary Art Collection | D.R.

A exposição nasce de «uma situação contemporânea dúplice», indicam os organizadores: «Por um lado, a arte a partir do modernismo foi perdendo a noção de transcendência em favor de uma missão derrisória e enfeudada às questões da crítica e da avaliação das suas condições de possibilidade enquanto arte; por outro lado, existe na arte contemporânea uma clara nostalgia em relação a uma capacidade da arte se dirigir a zonas mais densas da nossa relação com o mundo.»


Imagem Rui Chafes | A alma, prisão do corpo II, 2004 | Ferro | 13 x 45 x 45 cm | Colec. do autor | D.R.

«A transcendência, tomada no seu sentido mais amplo, como aquilo que nos ultrapassa, alimenta as zonas de diálogo da exposição. A arte é imanente por condição: as suas ferramentas, sejam elas imagens ou objetos, palavras, sons ou gestos, são sempre alterações produzidas no campo da imanência, vistas, ouvidas, tocadas. Por vezes, no entanto, os artistas trabalham na convicção de que as suas materialidades podem servir de passaporte para uma outra zona percetiva, cognitiva ou genericamente espiritual que não se esgota nas inferências ou nas interpretações que a presença convoca», acrescenta.


Imagem Esquerda: Michael Biberstein | S/Título, 1997 | Acrílico s. linho | 188 x 318,5 cm | Coleção Biberstein-Gusmão || Centro: Francisco Tropa | Gigante | Bronze, Corda | 2 elementos em Bronze | Dimensões variáveis aprox.1 elemento 20 x 20 x 20 cm | 1 elemento 60 x 30 x 30 cm || Direita: Jeff Wall | The Jewish Cemetery, 1980/1984 | Transparência Cibachrome em Caixa de luz | 48,3 x 137,2 x 20,4 cm || D.R.

O curador propõe como exemplo o percurso de Michael Biberstein, «artista, como ele próprio afirmava, militantemente agnóstico», que «possui na sua obra uma dimensão de procura do transcendente».

Depois de referir que os temas sugeridos constituem «campos que se cruzam no diálogo entre peças oriundas de contextos culturais, ideológicos e históricos muito diversos», Delfim Sardo salienta que a exposição «toma a questão da relação entre arte e transcendência como uma rede de relações complexas».

A mostra apresenta artistas e obras «que são testemunho da ponte entre imanência e transcendência que só o universo artístico pode corporalizar».


Imagem Esquerda: Frontal | Trabalho sino-português – Séculos XVI/XVII | Damasco de seda marfim (corpo); bordado direto em fios de seda policromos; veludo cortado liso, bordado com enchimento de fio de algodão e cordãozinho, fio metálico dourado (sebastos); galão tecido e galão franjado comprido | A. 91 cm x L. 226 cm | Igreja de Nossa Senhora da Graça | Cano || Centro: David Hammons | S/Título , 2002 | Kimono de teatro japonês, camisa de dormir com manchas de sangue e chupa-chupa (montados em vitrine pelo artista em 2002) | 190 x 55 cm (kimono), 198 x 149 x 23 cm (vitrine) | Ellipse Foundation, Contemporary Art Collection || Direita: Pluvial | Portugal – Século XVI | Fio de seda verde e amarelo, fio metálico dourado. Damasco; sebasto e capuz: veludo cortado liso Bordado de aplicação a pontos de ouro. Galão tecido, franjado, curto e comprido. Tafetá de linho. | A. 140 cm x L. 300 cm | A. 15 cm x L. 16 cm (firmal) | Igreja de São Lourenço | Galveias || D.R.

 

"Tão alto quanto os olhos alcançam"
Texto: Fundação Eugénio de Almeida


"Tão alto quanto os olhos alcançam" parte de uma situação contemporânea dúplice: por um lado, a arte a partir do modernismo foi perdendo a noção de transcendência em favor de uma missão derrisória e enfeudada às questões da crítica e da avaliação das suas condições de possibilidade enquanto arte; por outro lado, existe na arte contemporânea uma clara nostalgia em relação a uma capacidade da arte se dirigir a zonas mais densas da nossa relação com o mundo. Nesse sentido, a exposição "Tão alto quanto os olhos alcançam", comissariada por Delfim Sardo, faz um percurso por artistas e obras, num contexto internacional e globalizado, que são testemunho da ponte entre imanência e transcendência que só o universo artístico pode corporalizar.


Imagem São Sebastião | Portugal – Séculos XIV/XV | Escultura de vulto pleno em calcário (?) policromado | A. 65 cm x L. 22 cm x Pr. 22 cm | Igreja de Nossa Senhora da Graça | Monforte | D.R.

O título da exposição advém de uma referência ao artista norte-americano Lawrence Weiner. A corruptela para a metáfora do alto remete para uma dicotomia agostiniana, cruzada com a tradição das alegorias da visão tomada como órgão da transcendência – embora em arte seja da visão tátil, radicalmente imanente, que se trata.

Foram efetuadas encomendas de obras originais a José Pedro Croft e João Queirós.


Imagem Virgem e o Menino entre São Bartolomeu e Santo Antão, sob a Anunciação | Têmpera e ouro s/ madeira | Álvaro Pires de Évora | 1410-1415 d.C | A. 92,5 cm x L. 54,2 cm | Museu de Évora - Direção Regional de Cultura do Alentejo | D.R.

Alguma arte dos últimos 40 anos recolocou a questão da criação artística segundo o modelo do ritual, ora profano ora claramente de inspiração religiosa, encontrando formas diversas de relação com a ideia de verdade, de desvelamento, ou de manifestação de um transcendente. Por vezes o ritual é levado até à exploração de um limite do corpo, ou da sua possibilidade de desempenho, outras vezes encontrando tarefas que requerem uma exaustiva repetição de procedimentos, características que se cruzam com a noção de ritual tal como é entendido no contexto religioso. Outras vezes é a questão da repetição, essencial no plano do ritual, que estrutura a relação entre os objetos artísticos, quer pela serialidade, quer pelo valor performativo dos processos repetitivos. A título de exemplo, referem-se as obras de Joseph Beuys ou Tacita Dean.


Imagem José Pedro Croft | S/Título , 2012 | Ferro galvanizado espelho e fio de aço | 290x350x220 cm | D.R.

A transcendência, entendida como aquilo que nos ultrapassa, alimenta o diálogo da exposição. A arte é imanente por condição: as suas ferramentas, sejam elas imagens ou objetos, palavras, sons ou gestos, são sempre alterações produzidas no campo da imanência, vistas, ouvidas, tocadas.

Contudo, os artistas trabalham na convicção de que as suas materialidades podem servir de passaporte para uma outra zona percetiva, cognitiva ou genericamente espiritual que não se esgota nas inferências ou nas interpretações que a presença convoca.


Imagem Dormição da Virgem | Portugal – Século XVII/XVIII | Escultura de vulto pleno em madeira dourada, policromada, estofada, talha dourada | A. 140 cm x L. 71 cm x C. 250 cm | Santuário de Nossa Senhora da Conceição | Vila Viçosa | D.R.

Artistas como Robert Gober, Michael Biberstein e Pedro Croft, trabalham de forma diversa estas instâncias, construindo uma poética delicada e intensa. Muitos artistas tentaram, ao longo do último meio século, produzir arte que se descentra da visualidade para se concentrar, ou noutra formulação percetiva – no som, por exemplo -, ou na ocultação do objeto, ou da imagem.

A invisibilidade remete sempre para uma zona não artística, mas especulativa do processo de criação, bem como do processo de fruição, convocando o espetador para uma relação com a obra de arte que se define a partir do projetivo, da enorme acuidade percetiva, do jogo ou do processo claramente racional.

Neste sentido o apagamento da visão ou o seu questionamento, é aqui apresentado na obra de Fernando Calhau.


Imagem Tacita Dean | The Russian Ending, 2001 | Fotogravura sobre papel (20 elementos) | 54 x 79,5 cm | D.R.


Imagem Agnus Dei | Óleo sobre tela | Josefa de Ayala | 1660 – 1670 d.C | A. 87 cm x C. 116 cm | Museu de Évora- Direção Regional de Cultura do Alentejo | D.R.


Imagem Joseph Beuys | Elch , 1975/77 | Prova única litográfica sobre papel dobrada 3 vezes e assinada | Altura 73 cm x Largura 102 cm | Coleção particular | D.R.


Imagem Fernando Calhau | S/Título , 2000 | Óleo sobre Papel Arches | 76,40 cm x 58 cm | Col. CAM - Fundação Calouste Gulbenkian | D.R.


Imagem Esquerda: Joseph Beuys | Jedes Ding an Seinem Platz: Hasengrab, 1979 | Fotografia cor (Cibachrome), 11 unidades | 85 x 75 cm cada uma || Centro: Rui Chafes | Berço I | 1989/90, ferro, madeira e vidro acrílico | 35 x 38 x 170 cm | Colec. do autor || D.R.


Imagem João Queiroz | S/título, 2014 | Encaustica sobre madeira | 180 x 120 cm || S/título, 2014 | Encaustica sobre madeira | 180 x 120 cm || S/título, 2014 | Encaustica sobre madeira | 45 x 45 cm || D.R.


Imagem Robert Gober | S/Título , 2004-2005 | Bronze, cera de abelha, cristal e tinta de óleo | 48 x 119 x 62 cm | Ellipse Foundation, Contemporary Art Collection | D.R.


Imagem São Miguel Arcanjo | Portugal – Inicio do século XVII | Escultura de vulto pleno em madeira dourada, estofada, policromada, puncionada | A. 193 cm x L. 145 cm x Pr. 148 cm | Igreja de São Francisco | Estremoz | D.R.


Imagem João Onofre | Vídeo | S/ título (n'en finit plus) | 3'03 | 2010/11 | D.R.


 

Edição de texto e fotografia: Rui Jorge Martins
Publicado em 25.11.2014

 

 

 
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