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Eu, não crente, tenho esperança na «Igreja do exemplo»: Daniel Oliveira, Adriano Moreira e Tolentino Mendonça escrevem sobre o papa

Eu, não crente, tenho esperança na «Igreja do exemplo»: Daniel Oliveira, Adriano Moreira e Tolentino Mendonça escrevem sobre o papa

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O Museu da Presidência, em Lisboa, apresenta até domingo a exposição "Um peregrino entre peregrinos - Encontros entre Portugal e a Santa Sé (1967-2017)", para a qual pediu textos sobre Francisco a Daniel Oliveira, Adriano Moreira e José Tolentino Mendonça.

«O exemplo do Papa Francisco não é apenas uma mensagem para fora da Igreja. É, antes de tudo, uma mensagem para dentro. Um enorme desafio pelo exemplo», sublinha Daniel Oliveira.

O papa tem dedicado «muitíssimo mais atenção aos problemas sociais, reforçando a mensagem de tolerância, de solidariedade e combate pelos pobres, que marca a natureza singular e revolucionária do cristianismo em relação a outras religiões», assinala.

«A sua mensagem política é radical, como é sempre a mensagem profética. Numa história carregada de contradições, o Papa Francisco escolheu, nas muitas igrejas que há na Igreja, a Igreja libertadora à Igreja castigadora, a Igreja dos pobres à Igreja do poder», sublinha o texto, intitulado "O papa do exemplo".



«É tentador desenhar Francisco como a grande alma do Ocidente ou um cavaleiro solitário do espírito e do humanitarismo, mas isso, se for só isso, não deixa de diminuí-lo e comprometer o seu impacto. Francisco é mais do que isso»



Para Daniel Oliveira, «o povo que Francisco abraça antes de todos os outros é o povo que quase todos ignoram: os do fundo do fundo. O povo do fim da linha a quem a mensagem de Cristo sempre se dirigiu», e junto do qual «muitas vezes só se encontra «além de algumas franjas políticas, a Igreja».

«Eu, não crente desde sempre e dificilmente convertível, deposito imensa esperança na "Igreja do exemplo" que este Papa nos promete. Sei que não sou o único. E sei que uma igreja que se quer universal não se dirige apenas aos seus», conclui.

Por seu lado, Adriano Moreira, presidente do Instituto de Altos Estudos da Academia das Ciências de Lisboa, está convicto de que a «conversa íntima» do papa com S. Francisco «deve ser intensa».

«A fé o traz a Fátima, um dos mais importantes centros mundiais de apelo à comunhão nos valores, não apenas religiosos, mas mobilizadores da ação de toda a comunidade que os partilha», tornando-se «premissas da substituição dos confrontos militares destruidores pelo diálogo que leva aos consensos, da simples tolerância afrontosa das diferentes etnias, culturais, e religiosas, pelo respeito mútuo, pelo reconhecimento de que a igual dignidade de todos os homens é sempre a de cada um ser um acontecimento único na história da humanidade», aponta o professor universitário emérito, distinguido pela Igreja católica com o prémio Árvore da Vida-Padre Manuel Antunes.



Para compreender o papa «é essencial ler os Evangelhos ou contactar com a poética radical de Francisco de Assis», entender «o conceito de biopolítica de Foucault, e da sua denúncia de que, no neoliberalismo, a liberdade produz-se negando-se»



José Tolentino Mendonça considera que Francisco não é um OVNI, desde logo pelo fundamental do seu discurso, que tem três alicerces: «a identidade, a comunidade e a universalidade».

«Esses têm sido, e não por acaso, os temas maiores da filosofia europeia, desde que a derrocada do comunismo se tornou óbvia e se iniciou também uma revisão crítica do individualismo neoliberal. É tentador desenhar Francisco como a grande alma do Ocidente ou um cavaleiro solitário do espírito e do humanitarismo, mas isso, se for só isso, não deixa de diminuí-lo e comprometer o seu impacto. Francisco é mais do que isso», acentua o primeiro diretor do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura.

Para compreender o papa «é essencial ler os Evangelhos ou contactar com a poética radical de Francisco de Assis», entender «o conceito de biopolítica de Foucault, e da sua denúncia de que, no neoliberalismo, a liberdade produz-se negando-se» e conhecer o pensamento de autores como Giorgio Agamben, Roberto Esposito, Zygmunt Bauman e Michael Burawoy.



«Longe de a transição para a Democracia ter trazido um novo agastamento com a Santa Sé, fruto de uma habilidade e sensibilidade, de ambas as partes, que nunca é demais enaltecer, após a revolução dos cravos, Portugal manteria uma salutar relação com os Sumo Pontífices»



«O Papa não fala sozinho e isso reforça e torna ainda mais urgentemente necessária a sua voz», acentua o vice-reitor da Universidade Católica.

O livro que acompanha a exposição do Museu da Presidência termina com o texto "Portugal e a Santa Sé, uma relação no tempo, na cultura e nas identidades", de Paulo Mendes Pinto.

«Longe de a transição para a Democracia ter trazido um novo agastamento com a Santa Sé, fruto de uma habilidade e sensibilidade, de ambas as partes, que nunca é demais enaltecer, após a revolução dos cravos, Portugal manteria uma salutar relação com os Sumo Pontífices, espelhada nas várias visitas de governantes e Chefes do Estado a Roma, assim como no caloroso acolhimento que todos os Papas posteriores tiveram nas suas visitas a Portugal», observa o coordenador da área de Ciência das Religiões da Universidade Lusófona.



 

SNPC
Publicado em 25.05.2017 | Atualizado em 25.04.2023

 

 

 
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