Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura - Logótipo
secretariado nacional da
pastoral da cultura
Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura - Logótipo
secretariado nacional da
pastoral da cultura

“Em memória de mim”: Deus e homem, Espírito e Eucaristia

“Em memória de mim”: Deus e homem, Espírito e Eucaristia

Imagem Ettore Frani | D.R.

Por ocasião das celebrações conclusivas do Congresso Eucarístico da diocese italiana de Bolonha, a galeria Raccolta Lercaro convidou o jovem artista Ettore Frani a refletir sobre o mistério eucarístico, tema complexo e de profundas implicações teológicas, antropológicas e filosóficas que atravessa a história do Oriente e Ocidente cristãos. A obra realizada – “Em memória de mim” – é um esplêndido tríptico que o museu expôs até ao fim de outubro.

O apurado plasticismo da pintura, que parece realmente materializar-se diante do olhar, é alcançado usando apenas a cor preta, espalhada em diferentes intensidades para criar, de tempos em tempos, profundidade ou sufusões. O seu oposto – o branco – emerge diretamente do fundo da obra: a sua presença e carga luminosa estão ligadas a um trabalho preciso de "subtração" do preto que o artista realiza na superfície da mesa.

O espaço pictórico é subdividido em três painéis, distintos mas correspondentes ao momento único e incindível em que a Igreja ora ao Pai para enviar o Espírito, a fim de que esse pão e vinho oferecidos se tornem Corpo e Sangue do seu Filho, tornando aqueles que participam na Eucaristia uma unidade real, física e espiritual. Embora mantendo a identidade de cada uma, cada mesa adquire pleno significado através de uma leitura unificada.



Imagem Ettore Frani | D.R.


Nos lados da composição estão uma forma redonda de pão cozido e um simples cálice desgastado que, apoiados silenciosamente sobre uma mesa, definem duas realidades essenciais para a vida, familiares a cada ser humano. A sua presença é leve, discreta. Atrás deles, um pano de fundo preto oculta a profundidade do espaço que se estende além da mesa: para além dela tudo está envolvido numa escuridão insondável, mas, do alto, uma luz impalpável desce, vibra na atmosfera e na silenciosa suspensão do tempo.

No centro do tríptico, a mesma luz explode no espaço e, atravessando a obscuridade, torna-se epifania, sopro de vida que recria cada coisa: é na descida luminosa do Espírito Santo que Deus encontra o ser humano. A sua luz propaga-se transversalmente ao longo da superfície da mesa, estendida além dos limites da pintura, e dilatando-se até aos confins do mundo. Ela é a protagonista da obra: uma luz que não ilumina simplesmente, mas que se faz aparição, revelação. Presença.

Da indistinção de um caos abissal, chega-se, através do Espírito, à luz de um cosmo em que as coisas ganham vida e são restituídas à sua beleza... à sua verdade. Claro, o pão e o vinho nascem da intervenção do homem, do seu cuidado com a natureza, do seu crescimento e da sua plenitude. Assim, se o grão de trigo a ser transformado em pão tem de ser esmagado e reduzido a farinha, misturado com outros grãos, amassado, levedado e, finalmente, temperado com fogo, também os bagos de uva só se tornam vinho se forem esmagados, divididos e deixados a fermentar.



Imagem Ettore Frani | D.R.


No entanto, aquele pão e aquele vinho não são simplesmente alimentos: oferecidos no altar e transformados pelo poder do Espírito, contam ao homem o mistério de Deus, a sua vida, morte e ressurreição. É então que a mesa, inundada de luz, pode tornar-se um altar e é lá, nesse altar, que cada fragmentação, cada morte, se torna passagem para a vida. Se o trabalho do homem parte o grão de trigo e o transforma em pão, a graça de Deus faz do mesmo pão o corpo partido de Jesus, que da morte é trazido de volta à vida. Restituído como dom, de cada vez é partido novamente para ser compartilhado com todos, na história, tornando-se memória e presença.

Neste poema extraordinário de luz que é o tríptico “Em memória de mim”, Frani confronta-se com o mistério da vida, exprimindo com extraordinária eficácia a manifestação do Espírito.

Nessa mesma luminosidade, ao mesmo tempo poderosa e delicada, o olhar do ser humano pode reconhecer a antecipação daquilo que lhe é prometido: aquela luz que, no fim dos tempos, se tornará num encontro definitivo, rosto a contemplar e amar... o próprio rosto de Deus. Para que à nossa volta nos transformemos em luz radiosa.



 

In "Thema"
Trad. / edição: SNPC
Publicado em 16.12.2017

 

 
Relacionados
Destaque
Pastoral da Cultura
Vemos, ouvimos e lemos
Perspetivas
Papa Francisco
Teologia e beleza
Impressão digital
Pedras angulares
Paisagens
Umbrais
Mais Cultura
Vídeos