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Em memória de António Freitas Leal (1927-2018) e António Flores Ribeiro (1934-2018)

Nos últimos tempos vimos partir dois importantes nomes da arquitetura religiosa em Portugal, António de Freitas Leal e António Flores Ribeiro. Dois colegas, dois amigos, que dedicaram a maior parte da sua vida à construção de igrejas modernas fiéis ao espírito do Concílio Vaticano II. Pela sua dedicação e trabalho no MRAR – Movimento de Renovação de Arte Religiosa e no SNIP – Secretariado das Novas Igrejas do Patriarcado, o património arquitetónico religioso em Portugal dos últimos 60 anos muito deve à sua reflexão e ao risco de suas mãos.

 

António Aires de Freitas Leal

Nasceu no Funchal em 1927. Em 1950 frequentou o curso de Sociologia e Ordenamento de Território da “Économie et Humanisme”, em L’Arbresle, Lyon. Participou no 1º Congresso dos Universitários Católicos, realizado em Lisboa em 1953, onde apresentou, juntamente com José Pedro Martins Barata, uma comunicação intitulada “Natureza e espiritualidade da profissão de arquiteto” (1). No ano letivo de 1953-45 organizou para os estudantes de Arquitetura um curso de Habitação e Urbanismo, e no ano seguinte lecionou a cadeira de Higiene e Urbanismo no Instituto de Serviço Social de Lisboa. Entre 1954 e 1957 foi professor contratado da Escola de Artes Decorativas António Arroio, em Lisboa.



Quando ainda não se pensava na criação do Movimento, fez parte do grupo de jovens arquitetos e estudantes de arquitetura liderado por Nuno Teotónio Pereira que em 1951 organizou um protesto contra o projeto inicial de Vasco Regaleira para a igreja de S. João de Brito, em Lisboa, que o levou a ser recebido pelo Cardeal-Patriarca



Paralelamente orientou o seminário de Estudos de Artes Plásticas dos alunos de Arquitetura da ESBAL de 1955 a 1957. Nessa escola concluiu, em 1956, o curso de Arquitetura com 17 valores, tendo sido o seu projeto de CODA a igreja de São Sebastião, em Mouriscas, Abrantes.

Foi consultor do Gabinete de Estudos e Planeamento da Ação Educativa do Ministério da Educação Nacional de 1966 a 1969, do SNIP entre 1968 a 1970 e da RTP para projetos de emissores e estúdios de televisão de 1965 e 1978.

A partir dos anos 1980 dedicou-se ao estudo do património construído medieval, tendo escrito e apresentado numerosas conferências sobre este tema. Foi ainda presidente do Centro de Reflexão Cristã de 1996 a 2003.

Durante a sua atividade como arquiteto realizou uma grande variedade de planos e projetos em Portugal Continental e ilhas, Angola, Moçambique, São Tomé e Macau, destacando-se o complexo industrial da Companhia de Celulose do Ultramar, no Alto Catumbela, em Angola (1958), três torres de habitação para os Olivais Sul, em Lisboa (1962), o Centro Helen Keller, em Lisboa e numerosas estações de tratamento de águas e emissores de televisão.



A sua grande dedicação ao MRAR manifestou-se quer na organização de numerosos encontros e conferências, quer na participação ativa nos corpos dirigentes



António de Freitas Leal esteve envolvido na fundação do MRAR desde os seus primeiros passos. Quando ainda não se pensava na criação do Movimento, fez parte do grupo de jovens arquitetos e estudantes de arquitetura liderado por Nuno Teotónio Pereira que em 1951 organizou um protesto contra o projeto inicial de Vasco Regaleira para a igreja de S. João de Brito, em Lisboa, que o levou a ser recebido pelo Cardeal-Patriarca.

Dois anos mais tarde, esteve no grupo que preparou a Exposição de Arquitetura Religiosa Contemporânea, que itinerou por várias cidades de Portugal Continental, Ilhas e Ultramar, e que depois de apresentada em Lisboa e no Porto, levou à formação do MRAR.

Sócio nº 1 do Movimento, foi um dos seus membros mais destacados, tendo sido, por isso, naturalmente chamado para o apresentar publicamente, como em entrevista concedida ao jornal Encontro (2)ou num artigo publicado na revista Vita Nova, da Juventude Independente Católica Feminina (3).

Presença assídua nas reuniões e encontros (4), a sua grande dedicação ao MRAR manifestou-se quer na organização de numerosos encontros e conferências, quer na participação ativa nos corpos dirigentes: foi presidente da Direção nos anos 1959-60 e secretário da Direção em 1961-62 e 1965-66. Em 1964 assumiu o cargo de presidente da Comissão Executiva do Concurso de Anteprojetos para a Catedral de Bragança organizado pelo MRAR.



A ligação de António Flores Ribeiro ao MRAR começou como sócio estudante nº (2) 53, passando depois a sócio auxiliar em 1961. A 26 de outubro de 1965 tornou-se sócio efetivo nº 33, e nos dois anos seguintes manteve-se uma presença assídua nas reuniões do Movimento



Tendo sido a arquitetura religiosa contemporânea o tema que mais o entusiasmou desde a sua formação até à década de 1980, acabou por reunir uma importante biblioteca específica sobre esta temática, compreendida maioritariamente por volumes internacionais (5), bem como realizar um número significativo de projetos e obras desta tipologia, de que se destacam:

1952-57. Igreja de São Sebastião, Mouriscas, Abrantes (CODA, não construída)
1953-56. Igreja de Santo António, Moscavide (com João de Almeida)
1956-61. Capela de N. Sra. de Fátima, Figueira, Vila do Bispo
1958-63. Igreja de N. Sra. da Piedade, Vidais, Caldas da Rainha
1960. Igreja de Santa Isabel, Lisboa (remodelação)
1963-66. Igreja dos Congregados, Braga (remodelação)
1964. Igreja de São João Baptista, Lisboa (remodelação, com António Flores Ribeiro)
1964-84. Igreja de N. Sra. da Vitória e Santa Rita, Funchal, Madeira
1966-67. Igreja de São Mamede, Lisboa (remodelação)
1966-1984. Igreja de S. Francisco, Calheta, Madeira
1988-89. Igreja de São Luís, Faro
António de Freitas Leal faleceu no passado dia 13 de Agosto de 2018.

 

António Flores Ribeiro

Nasceu em Ferreira do Zêzere em 1934. Em 1955 ingressou no curso de Arquitetura da ESBAL, que concluiu em 1962 com 17 valores. Ainda estudante, trabalhou com os arquitetos Pedro Cid, Manuel Laginha, João Vasconcelos Esteves e Manuel Martins Garrido.

Após o curso foi convidado para colaborar no SNIP – Secretariado das Novas Igrejas do Patriarcado, num gabinete de pequenos projetos. Paralelamente trabalhou no atelier de António Freitas Leal e depois na Canon – Centro de Estudos e Projetos, de Sebastião Formosinho Sanchez e Diogo Lino Pimentel, gabinete de que veio a ser sócio.

Em 2008 passou a trabalhar exclusivamente no SNIP. Neste serviço, foi co-autor com Diogo Lino Pimentel de várias dezenas de projetos de igrejas e capelas construídas por toda a diocese de Lisboa, sendo exemplo as igrejas de São Sebastião, Sobreiro, Mafra (1973), do Cristo Rei, Algés (1977), do Imaculado Coração de Maria, Casal Moinho, Peniche (1993), de Nossa Senhora dos Anjos, Coto, Caldas da Rainha (2002) ou de Nossa Senhora da Ajuda, Gaeiras, Óbidos (2013).

A sua ligação ao MRAR começou como sócio estudante nº (2) 53, passando depois a sócio auxiliar em 1961. A 26 de outubro de 1965 tornou-se sócio efetivo nº 33, e nos dois anos seguintes manteve-se uma presença assídua nas reuniões do Movimento. Faleceu no passado dia 29 de junho.


(1) O Pensamento Católico e a Universidade – I Congresso Nacional da Juventude Universitária Católica, Edição das Direcções Gerais da JUC e JUCF, Lisboa, (1953), pp.394-395.
(2) LEAL, António de Freitas, O MRAR – o que é?, Encontro, nº10-11, (abr.-mai.1957), p.10.
(3) LEAL, António de Freitas, O que é o Movimento de Renovação de Arte Religiosa, Vita Nova, nº70, (mar.-abr.1956), pp.12-13.
(4) Foi um dos membros representados no conhecido desenho de 1958 que José Escada realizou durante uma das reuniões do Movimento.
(5) Como SMITH, G.E. Kidder, Switzerland builds, The Architectural Press, Londres, (1950); BARTNING, Otto, WEYRES, Willy, Kirchen, Verlag Georg D.W. Callwey, Munique, (1959); SMITH, G.E. Kidder, The new churches of Europe, The Architectural Press, Londres, (1964).


Imagem Igreja de Casal do Moinho, Peniche | 1993 | Antonio Flores Ribeiro | D.R.

 

João Alves da Cunha
Arquiteto
Imagem: D.R.
Publicado em 17.08.2018 | Atualizado em 06.10.2023

 

 
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