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Ecologia: «Em Taizé ficamos impressionados ao ver o empenho de tantos jovens»

Há cinco anos, o papa Francisco publicava a sua encíclica “Laudato si’”, com a qual dirigia «um convite urgente a renovar o diálogo sobre a maneira como estamos a construir o futuro do planeta». Depois acrescentava: «Precisamos de um debate que nos una a todos, porque o desafio ambiental que vivemos, e as suas raízes humanas, dizem-nos respeito e têmimpacto sobre todos nós» (14).

Este convite é hoje mais urgente que nunca. E a crise criada pela pandemia de Covid-19 evidencia bruscamente como é vulnerável a nossa casa comum. Ao mesmo tempo, o imprevisto isolamento de metade da população humana e as drásticas decisões em matéria de saúde tomadas em muitos países também demonstraram que uma resposta política, social e económica era ainda possível, dada a gravidade dos problemas. Muitas vozes pedem que a vida das nossas sociedades não retomem simplesmente o seu curso normal, mas que aproveitem este momento para nos interrogarmos em profundidade.

Com aqueles que partilham a fé em Deus, dirigimo-nos a Ele na oração e súplica. Mas tenho a convicção interior que neste momento de provação também Deus nos suplica: “Despertai!”. Fala-nos porque nos ama. Quereria, talvez, dizer-nos: vejam o quanto dependeis uns dos outros, entre pessoas próximas, mas também entre países e povos; vede quanto tendes necessidade da fraternidade humana; descobri quanto é necessário cuidar da ciração para o vosso futuro comum. Sim, despertemos!

Depois do ritmo frenético das nossas sociedades se ter imprevistamente quase parado, agora há o risco de um caos social que ameaça. E aqueles que por ele serão atingidos serão, em primeiro lugar, os mais pobres, quer se trate de nações ou pessoas. Como eles, saberemos construir novas solidariedades, redescobrindo o valor da ajuda recíproca, como tantas pessoas o praticaram nas últimas semanas? Dado que o colapso da biodiversidade piora inelutavelmente e a emergência climática pressiona a humanidade, os cientistas e as jovens gerações convidam-nos a sacudir-nos. A infinita exploração de recursos limitados já não é possível. Tornar-nos-emos cada vez mais conscientes de que com todos os seres vivos «estamos unidos por laços invisíveis e formamos uma espécie de família universal (“Laudato si’”, 89)?



Após a crise pandémica, há a temer que as desigualdades aumentem e que a retoma económica tenha lugar sem ter suficientemente em conta a emergência climática. Mas temos também a imensa oportunidade de nos interrogarmos sobre o futuro que queremos



Em Taizé ficamos impressionados ao ver o empenho de tantos jovens pela salvaguarda do planeta. A estes jovens gostaria de dizer: não percais a coragem diante da lentidão e das hesitações que constatais. Com aqueles da minha geração, devemos pedir-vos perdão por ter negligenciado tanto esta responsabilidade. O consumismo ocupou demasiado espaço, como se a felicidade se reduzisse a isso. Tendes razão ao incitar-nos a mudar o nosso estilo de vida, de maneira que se torne mais sóbrio e mais centrado no essencial.

O que me dá esperança é ver emergir de base múltiplasiniciativas, feitas de compromissos muito concretos que, sem fornecer respostas sistémicas, manifestam o desejo de agir. Sem o qual nada será possível. E estas iniciativas parecem-me ter sempre mais impacto político. Para os crentes, acrescenta-se uma responsabilidade: o planeta é um dom que Deus nos confia; a preocupação pela criação é parte integrante da nossa fé. Diante destes desafios ambientais, um testemunho das confissões cristãs, e também das diferentes religiões, torna-se ainda mais importante, juntamente com todos aqueles que encontram a motivação para o seu compromisso noutro lugar que não a fé.

Após a crise pandémica, há a temer que as desigualdades aumentem e que a retoma económica tenha lugar sem ter suficientemente em conta a emergência climática. Mas temos também a imensa oportunidade de nos interrogarmos sobre o futuro que queremos. Seremos capazes de colher este momento?


 

Ir. Alois
Prior de Taizé
In L'Osservatore Romano
Trad.: Rui Jorge Martins
Imagem: Ir. Alois | D.R.
Publicado em 06.10.2023

 

 
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