A Comissão Nacional Justiça e Paz considera que «o diálogo entre diferentes culturas e religiões se torna ainda mais importante, benéfico e urgente» na sequência dos «ataques terroristas de Paris e da Nigéria», que têm suscitado «dúvidas sobre a viabilidade da convivência pacífica e harmoniosa» entre pessoas de múltiplas pertenças religiosas na Europa.
Em comunicado enviado hoje ao Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, o organismo da Igreja católica sustenta que o diálogo é o que «mais facilita o acolhimento dos muçulmanos nas sociedades europeias (norteado por uma cultura do encontro e da hospitalidade) e é ele, por isso, o mais potente antídoto contra o terrorismo de matriz fundamentalista».
A comissão defende também que «a liberdade de expressão é um valor precioso das sociedades livres e democráticas», mas «tem limites»: a convivência supõe «a liberdade de debate de ideias e de crítica», mas esse âmbito é ultrapassado quando há «instigação à violência e à discriminação, o insulto, a provocação gratuita e a ofensa aos sentimentos religiosos dos outros».
«Há até quem se sinta mais gravemente ferido com uma ofensa a esses sentimentos do que com uma ofensa física ou verbal à sua pessoa», refere o documento, sublinhando, todavia, que as afrontas às crenças «nunca» podem «justificar o recurso à violência, e nem sequer atenua a gravidade de atentados contra a vida», que «tem sempre um valor supremo».
O texto salienta que «não podem confundir-se expressões marginais de fanatismo extremista, que instrumentaliza a religião islâmica em função de um projeto ideológico e político, com o sentir da maioria dos muçulmanos, nestes incluindo os que vivem em Portugal e os seus representantes».
«A estes também repugna o terrorismo, e, mais ainda, repugna a instrumentalização da sua fé para o justificar. Com estes podem os cristãos encontrar riquezas comuns (em torno dos princípios do amor a Deus e ao próximo) e criar laços de fraternidade», aponta a comissão, acrescentando que «o conflito de civilizações do passado» não tem de «reproduzir-se no futuro».
O organismo presidido por Pedro Vaz Patto acentua que «o choque de culturas» não se evita com a eliminação do espaço público das «manifestações religiosas, relegando-as para a esfera estritamente privada».
«Não pode pretender-se que os muçulmanos e outros crentes deixem de o ser, reneguem a sua fé, para poderem ser acolhidos nas sociedades europeias. Essa pretensão acabaria por favorecer o extremismo fundamentalista, que rejeita esse acolhimento», assinala o documento.
Por outro lado, a promoção «do encontro e da hospitalidade supõe a criação de condições materiais de vida conformes à dignidade humana», pelo que «tão urgente como o diálogo entre culturas e religiões é a remoção de fatores que conduzem à pobreza e exclusão social».
O comunicado realça, ainda, que o diálogo «não pode levar a esquecer as violações da liberdade religiosa e perseguições de que em muitos países são vítimas crentes de várias religiões e que atualmente atingem em grande número cristãos de várias denominações».
Rui Jorge Martins