Observatório da Cultura
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Cinema, Espiritualidade e Contemporaneidade

Quando o cinema nasceu, em 1895, a Igreja Católica interessou-se logo por este novo medium que tinha um enorme impacto sobre os espectadores. Mas, imediatamente, instalou-se um relação ambígua, porque se, por um lado, a sétima arte contribuía para a evangelização através da apresentação da vida de Cristo ou de filmes hagiográficos, por outro lado desenvolvia uma indústria promovendo filmes com valores morais contrários aos da Igreja.

Hoje, num mundo desiludido pelas falsas promessas de um suposto materialismo salvador e esvaziado pelo individualismo da indiferença, o cinema tem um lugar privilegiado no veículo de valores humanos e espirituais. Sendo a nossa sociedade constituída por jovens que cresceram imersos em imagens (e sons), elas tornaram-se os referentes da sua perceção e cada vez mais um lugar de descoberta e de inspiração. Se a sétima arte continua a fazer parte da indústria do entretenimento, assistimos a uma nova necessidade de utilização do cinema para questionar o ser humano e a sua relação com o mundo.

A linguagem fílmica, na sua diversidade, torna-se cada vez mais um espaço de diálogo e de procura de espiritualidade. A força do cinema reside na sua possibilidade de revelar a realidade ao espectador e, como disse o P. Amédée Ayfre a propósito do neorrealismo italiano, de o levar a uma “conver-são pelas imagens”. De facto, o cinema desperta a consciência e transforma a experiência que o espectador tem do mundo.

Como exprimir Deus no cinema? Não é seguramente o cinema mainstream que continua a apresentá-Lo como omnipotente e exterior ao ser humano. No cinema contemporâneo, a manifestação do sagrado e do transcendente manifesta-se sobretudo numa procura implícita de Deus: na relação com o outro, no encontro com a humildade e com o necessário baseados na esperança. A transversalidade entre o cinema e a religião desenvolve-se cada vez mais, seja no mundo académico ou nos festivais, para promover o despertar de uma espiritualidade que se tornou periférica mas que continua viva e desejosa de se revelar.

Ao longo da sua história, grandes realizadores como Carl Dreyer, Robert Bresson ou Andreï Tarkovski provaram que o cinema é muito mais do que um simples suporte para contar histórias ou reproduzir realidades visíveis do mundo.

A sétima arte é também a arte de expressão do invisível e do mistério, e por isso não se esgotou. Pelo contrário, o cinema está novamente a atualizar o debate em torno de uma humanidade que anseia por uma forma de existir que, vendo bem, está desenhada nos evangelhos.

 

Este artigo integra a edição n.º 21 do “Observatório da Cultura”.

 

Inês Mendes Gil
Cineasta, docente na Escola de Comunicação, Artes e Tecnologias da Informação (Universidade Lusófona)
© SNPC | 14.05.14

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Foto: D.R.

 

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