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Nos últimos tempos, pelas mais diversas razões, temos vivido tempos de mudança aos mais variados níveis. Vivemos tempos de mudança e de incerteza política e económica ao nível mundial e vivemos também a morte de diferentes pessoas mais ou menos próximas e familiares para todos nós. Por exemplo, muito recentemente, no espaço de poucas horas, vivemos o fim da vida de Mário Soares, Guilherme Pinto e Daniel Serrão. Vidas completamente diferentes, muitas vezes apoiadas, e tantas outras criticadas, mas na hora da morte destacadas e respeitadas de forma unânime.
É verdade que em Portugal parece existir o costume de todas as pessoas serem vistas como boas apenas depois de morrerem mas, nos casos referidos, este respeito e reconhecimento unânime, é bem mais profundo, social e humanamente enraizado porque radicado num aspecto comum: foram vidas vividas ao serviço do bem comum!
De facto quando nos focamos num bem maior, num bem comum, é muito mais o que nos une do que aquilo que nos separa. E hoje aquilo que provavelmente vivemos é mais uma transição de gerações, uma mudança de época, onde as marcas deixadas nos colocam desafios presentes e futuros. Viver ao serviço do bem comum implica muitas vezes construir apesar das divergências, sonhar e caminhar para lá das contingências, saber aceitar oposições e críticas, ser humilde nas decisões menos positivas. Com estes traços estas e outras vidas marcam-nos o desafio do inconformismo que combate a indiferença, e os falsos consensos, que mais não são do que unanimismos conjunturais e efémeros que evitam a discordância que pode levar a opções por caminhos diferentes mas para a mesma meta, para o mesmo fim, o Bem Comum como ideal.
E agora? Será provavelmente a pergunta que muitos faremos nestes momentos. Poderemos responder centrando-nos no saudosismo do passado porque “nesse tempo é que era bom”; poderemos centrar-nos no nosso bem-estar individual ficando indiferentes a tudo o mais; poderemos ficar na nossa impotência individualmente vivida; ou poderemos acreditar que “nenhuma dificuldade pode ser superior à nossa vontade de a vencer (...). Sei que não vencerei a morte mas estar vivo não é uma dificuldade, é um privilégio” (Prof. Daniel Serrão).
Agora é hora de sermos nós a assumir o privilégio de viver no contexto atual ao serviço do bem comum. É pelo bem comum que vamos, e que poderemos ser, na nossa diversidade e na nossa diferença, mas nunca na indiferença nem na desesperança. Gratos pelos vidas entregues sejamos capazes de com esperança continuar e aprofundar a construção de uma Vida digna para todos como bem comum.