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Leitura: “Advento e Natal para crentes e não-crentes”

Leitura: “Advento e Natal para crentes e não-crentes”

Imagem Capa (det.) | D.R.

Assunção Cristas, deputada e dirigente partidária (CDS-PP), apresenta esta quarta-feira o livro “Advento e Natal para crentes e não-crentes”, recentemente publicado pela Paulus Editora.

Redigida por Isabel Figueiredo e Jorge Reis-Sá, a obra, «que dá continuidade à coleção «Para Crentes e Não-Crentes», apresenta meditações para cada domingo do Advento e Natal», refere uma nota enviada ao Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura.

Até ao domingo do Batismo de Jesus, passando pela Sagrada Família, o primeiro dia do ano, evocativo de Santa Maria, Mãe de Deus, e pela Epifania, um dos autores «escreve para quem crê, dando pistas de ações concretas no final de cada reflexão. O outro reflete sobre a vida, o amor, a família, a paternidade, a maternidade, o futuro partindo dos textos bíblicos que são propostos para esta quadra natalícia».

Isabel Figueiredo, licenciada em História, trabalha na Renascença desde 1990, e foi a partir do trabalho na emissora católica que surge a escrita, como a colaboração no livro “Vale a pena pensar nisto”, coletânea de reflexões para a RFM.

Jorge Reis-Sá é escritor de poesia, contos, crónicas e romances, coordenando na Paulus a coleção “Clássicos da Literatura Espiritual Portuguesa”. Licenciou-se em Biologia, fundou e editou a Quasi Edições, tendo passado por outras editoras. Como autor, publicou poesia, contos, crónicas e romances.



Fazer e refazer o presépio, ano após ano, ajuda-nos a viver o Natal. Pode ser um presépio gasto pelos anos, com a orelha do burro partida ou um pastor sem ovelhas. Pode ser o presépio que passa de geração em geração, cheio de detalhes que nos fazem sorrir e provocam inveja em quem nos visita



Com a presença dos autores, a sessão de apresentação de “Advento e Natal para crentes e não-crentes”, de que apresentamos um excerto, está marcada para as 18h30, na capela das Amoreiras, Centro Comercial das Amoreiras, Lisboa.

 

Natal do Senhor
Isabel Figueiredo, Jorge Reis-Sá
In “Advento e Natal para crentes e não-crentes”

[Crentes]
José estava cansado quando conseguiu empurrar a porta empenada do velho estábulo. Tinham deixado a segurança de Nazaré e subido devagar até à Judeia, à cidade de David, chamada Belém. Obedeciam às ordens de quem mandava, migrantes na sua própria terra. O fio de luz que entrava por uma janela estreita deixava ver alguns fardos de palha. Na penumbra tocou na pele macia de uma vaca e fixou as orelhas de um pequeno burro, atentas a todos os ruídos. José sentiu-se seguro e reclinou Maria, prestes a dar à luz. Horas mais tarde, todo o cansaço ficou esquecido quando José deitou o Menino nos braços de sua Mãe. E assim ficaram, numa solidão habitada pelo Amor de Deus, numa alegria plena da glória do Pai, numa expectativa tranquila, porque consciente da presença do Céu. Ouviram vozes ao longe. Eram pastores e os seus cajados batiam nas pedras dos mesmos caminhos por onde tinham caminhado. Pareciam apressados. Quando bateram à porta, destaparam as cabeças e ajoelharam. Nada os tinha preparado para aquela trouxinha de roupa agitada e aquela Mãe, que, inclinada para o seu Filho, parecia estar suspensa pela sua vida tão frágil, tão indefesa... Mas pressentiam que acabava de acontecer a promessa de Deus e estava ali o Salvador do mundo. O Natal é a espera que acontece. Foi longa a espera, cheia de palavras e de gestos. Cheia de inquietações e desejos, de vidas e de mortes. Mas a estrela que anunciou a paz brilhou na escuridão de todas as noites, resplandeceu na vida dos pobres, na distância dos ricos, na fidelidade dos ignorantes e dos sábios. A Espera aconteceu e é tempo de adorar o Menino.



Quando alguém nasce, é altura de renascermos com esse pequeno corpo. E interrogar tudo, colocar tudo em causa para perceber que efeito podemos modificar para melhor no nosso futuro. Nascer é o ato da criação. Renascer é um ato criativo



Fazer e refazer o presépio, ano após ano, ajuda-nos a viver o Natal. Pode ser um presépio gasto pelos anos, com a orelha do burro partida ou um pastor sem ovelhas. Pode ser o presépio que passa de geração em geração, cheio de detalhes que nos fazem sorrir e provocam inveja em quem nos visita. Pode ser pequeno, na simplicidade de um Menino deitado nas palhinhas. Pode estar por perto uma árvore enfeitada, luzes e brilhos, renas e presentes... É tempo de adorar o Menino, Jesus, filho de Maria, protegido desde sempre por José, envolvido em panos e deitado numa manjedoura.

 

[Não crentes]
Quando existe uma gestação existe também um nascimento. A bom termo, dizem os antigos. Terminar bem porque isso implica começar ainda melhor.

Quando alguém nasce, é altura de renascermos com esse pequeno corpo. E interrogar tudo, colocar tudo em causa para perceber que efeito podemos modificar para melhor no nosso futuro. Nascer é o ato da criação. Renascer é um ato criativo.

Quem sou eu? Que falhas foram as minhas neste tempo que já me passou? Há um mandamento: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo. Poderei eu amar se não crer? Amar sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo. Posso. Deus permitiria que o amássemos mesmo não crendo.



A vida que fui deverá ser a que serei? Ou o mar revolto tem-me imposto o abrigo e não tenho como ser melhor? Mesmo com as maiores ondas é possível levantar a cabeça ao futuro



Interrogar o passado para precaver o futuro. Não acreditemos em revoluções, porque não é delas que se fazem as verdadeiras mudanças. Acreditamos em conservar o bom e modificar o restante para melhor. O ónus é o da mudança, lembremos. Mas que este pensamento não seja sinónimo de imobilismo.

É a soma dos dias que foram, do presente que somos, das horas que seremos. E se o passado já foi, o presente ainda vai ser, sempre. Por isso é possível pensar se conseguiremos falhar melhor, como escreveram há anos. Tentar sempre. Falhar quase sempre, porque nos sabemos homens. Mas que isso nos permita falhar melhor pela aprendizagem. E de falha em falha conseguiremos cumprir o comprimento que as mede. E, assim, encher o futuro de algo onde possamos andar.

Dêmos um passeio junto ao mar. É inverno, é Natal, o mar está revolto. Mas nem por isso daremos um passeio ao seu lado. Ver as ondas a refugiar os peixes e as anémonas no mais forte rochedo e lembrar: A vida que fui deverá ser a que serei? Ou o mar revolto tem-me imposto o abrigo e não tenho como ser melhor? Mesmo com as maiores ondas é possível levantar a cabeça ao futuro.



 

 

Publicado em 23.11.2016

 

Título: Advento e Natal para crentes e não-crentes
Autor: Isabel Figueiredo, Jorge Reis-Sá
Editora: Paulus
Páginas: 64
Preço: 4,50 €
ISBN: 978-972-301-894-3

 

 
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