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A vinda do Filho do homem na glória

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A vinda do Filho do homem na glória

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Naqueles dias, depois de uma grande aflição, o sol escurecerá e a lua não dará a sua claridade; as estrelas cairão do céu e as forças que há nos céus serão abaladas. Então, hão-de ver o Filho do homem vir sobre as nuvens, com grande poder e glória. Ele mandará os Anjos, para reunir os seus eleitos dos quatro pontos cardeais, da extremidade da terra à extremidade do céu. Aprendei a parábola da figueira: quando os seus ramos ficam tenros e brotam as folhas, sabeis que o Verão está próximo. Assim também, quando virdes acontecer estas coisas, sabei que o Filho do homem está perto, está mesmo à porta. Em verdade vos digo: Não passará esta geração sem que tudo isto aconteça. Passará o céu e a terra, mas as minhas palavras não passarão. Quanto a esse dia e a essa hora, ninguém os conhece: nem os Anjos do Céu, nem o Filho; só o Pai». (Evangelho do 33.º Domingo do Tempo Comum)

Com este domingo termina a leitura continuada do Evangelho segundo Marcos, que escutámos nas assembleias dominicais ao longo de todo o ano litúrgico B.

As palavras de Jesus são as que Ele pronunciou nos últimos dias da sua vida, antes da paixão e morte; palavras dor ele ditas no monte das Oliveiras aos quatro discípulos da primeira hora (cf. Mc 1,16-20), aqueles que dele eram mais próximos: Pedro, Tiago, João e André (cf. Mc 13,3).

O chamado "discurso escatológico", isto é, referente às realidades posteriores à vida terrestre, é muito longo - ocupa todo o capítulo 13 - e quer ser uma resposta à pergunta sobre o tempo que se segue à vida terrena de Jesus: o que sucederá?

Jesus profetiza que o templo de Jerusalém, que se erguia majestosa diante de si e dos discípulos, soçobrará em ruínas (cf. Marcos 13,2), que haverá acontecimentos que causarão grandes sofrimentos aos humanos (cf. Marcos 13,5-23) e que no fim - é o tema do excerto deste domingo - o Filho do homem virá na sua glória para cumprir o juízo último e definitivo (cf. Mateus 25,31-46).

Este discurso de Jesus é uma mensagem em linguagem codificada, segundo o género apocalíptico, linguagem que quer ser reveladora, profética, embora resultando por vezes algo obscuro, de difícil interpretação.

Aqui lemos precisamente a parte final, o anúncio da vinda gloriosa do Messias, quando se verificará a destruição do templo e passará o tempo da história, na qual guerras, calamidades e perseguições se farão dolorosamente presentes na vida dos homens e mulheres.

Após a terrível prova que investirá sobre toda a humanidade, o povo de Israel e a Igreja do Senhor, haverá um levantamento de todo a ordem do universo criado.

Não nos deixemos aterrorizar pelas palavras de Jesus, mas sim ter temor, porque elas revelam a "verdade" deste mundo que Deus criou, quis e sustentou, mas que terá um termo, um fim: como há um fim pessoal, a morte, assim haverá o fim deste mundo.

Jesus quer falar destes acontecimentos para revelar uma realidade de contornos indescritíveis. A criação sofrerá um processo de "des-criação", poderemos dizer um retorno ao princípio (cf. Génesis 1,1-2), mas em vista de uma nova criação, de um mundo novo, com céus e terra novos (cf. Isaías 65,17; 66,22; 2 Pedro 3,13; Apocalipse 21,1).

Estas imagens não querem significar destruição, decomposição, desaparecimento da matéria, mas o fim das atuais estruturas da criação, presas do sofrimento, do mal e da morte, que darão lugar a uma re-criação, uma transfiguração nem sequer conseguimos imaginar.

Eis, então, as imagens apocalípticas, inspiradas por fenómenos que o ser humano contempla, mas que são transitórias, e portanto não destruidores da vida: o sol que se eclipsa definitivamente, a lua que perde a sua luz, as estrelas que caem do céu... Imagens evocadoras da fragilidade da ordem do nosso universo, que não é eterno, que - como nos asseguram também as ciências - teve um início e terá um fim.

E todavia este universo, que aos olhos dos crentes no Senhor Jesus «geme e sofre as dores do parto» (Romanos 8,22), é um universo querido por Deus e que Deus salvará, transformando-o em morada do seu Reino.

É precisamente nesta "crise" cósmica que se manifestará o Filho do homem, fará a sua parusia (termo que no Novo Testamento ganhou o significado da segunda vinda de Cristo, no fim dos tempos) de modo glorioso, vindo dos céus, tendo como trono as nuvens (cf. Daniel 7,13), na luz definitiva que vencerá para sempre as trevas. Mesmo este acontecimento, quem poderá descrevê-lo?

Os cristãos pintaram ou representaram em mosaicos nas absides das igrejas aquele que vem na glória, sentado sobre o arco-íris, juiz de todo o universo, "Pantokrator" (2 Coríntios 6,18; Apocalipse 1,8; 4,8), isto é, aquele que tem reunidas todas as coisas. Mas ao fazê-lo, tiveram de se inspirar na parusia, palavra que originalmente significava a chegada festiva de um rei aos seus domínios, revestindo o Filho de Deus com traços de uma glória humana.

Na realidade, não sabemos de que forma contemplaremos o Senhor que virá; podemos apenas dizer que então todos o reconheceremos, mesmo aqueles que durante a sua vida nunca o reconheceram no pobre, no doente, no estrangeiro, no preso, no despido (cf. Mateus 25, 31-46).

Mesmo aqueles que feriram Jesus ou feriram o pobre, a vítima, então reconhecê-lo-ão, baterão no peito (cf. Apocalipse 1,7) e compreenderão que as feridas infligidas ao outro, ao irmão ou à irmão, eram feridas que atingiam o Senhor, o qual agora se mostra juiz misericordioso mas temível.

Será essa também a hora da reunião de todos os eleitos, os justos, aqueles que viveram exercitando a confiança no outro, esperando junto aos outros, amando quem tinham perto de si e tornavam próximo. Os filhos de Deus dispersos serão finalmente uma comunhão, que não mais conhecerá nem a morte, nem o mal, nem o pecado (cf. Isaías 35,10; Apocalipse 21,4).

Quando sucederá isto (cf. Marcos 13,4)? Num dia que ninguém conhece, e todavia é um dia certo, é uma promessa de Deus que se realizará.

Os discípulos de Jesus não devem, por isso, perguntar «quando?», mas devem sobretudo perguntar-se se eles próprios estarão prontos a acolher esse acontecimento da parusia como salvação, se serão capazes de se alegrar diante da vinda do Filho do homem, se terão sabido esperar com perseverança aquela hora: uma hora que é um segredo, porque nem sequer o homem Jesus a conhecia, nem os anjos, mas só o Pai.

Por isso os crentes aprendem a observar a história com espírito de discernimento, lendo os "sinais dos tempos". A vinda do Filho do homem será como o verão que os agricultores sabem prever, olhando sobretudo a planta do figo: quando figo, através da subida da linfa, amacia os seus ramos e se abrem as gemas que durante todo o inverno permaneceram fechadas, então o verão está para rebentar.

Do mesmo modo, se o crente sabe ler a história, aderindo à realidade quotidiana da vida humana e escutando a Palavra de Deus que sempre ressoa no seu "hoje" (cf. Salmo 95,7), então estará pronto para a hora da vinda temível e misericordiosa do Senhor.

Trata-se, como se lê na conclusão do discurso (cf. Marcos 13,33-37), de estar vigilante, acordado, capaz de exercitar a inteligência para discernir, e não ser encontrado adormecido ou espiritualmente estonteado...

Será o fim? Sim, mas esse fim tem um nome: é o Senhor Jesus Cristo, Filho do homem e Filho de Deus, homem e Deus que veio ao mundo, de Deus que era (cf. Filipenses 2,6) para se fazer homem, e virá na glória para que o homem se torne Deus. Sim, toda a humanidade será em Deus, e cada um de nós será o Filho de Deus.

 

Enzo Bianchi
Prior do Mosteiro de Bose, Itália
In "Monastero di Bose"
Trad.: Rui Jorge Martins
Publicado em 13.11.2015 | Atualizado em 30.04.2023

 

 
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Não nos deixemos aterrorizar pelas palavras de Jesus, mas sim ter temor, porque elas revelam a "verdade" deste mundo que Deus criou, quis e sustentou, mas que terá um termo, um fim: como há um fim pessoal, a morte, assim haverá o fim deste mundo
Estas imagens não querem significar destruição, decomposição, desaparecimento da matéria, mas o fim das atuais estruturas da criação, presas do sofrimento, do mal e da morte, que darão lugar a uma re-criação, uma transfiguração nem sequer conseguimos imaginar
Mesmo aqueles que feriram Jesus ou feriram o pobre, a vítima, então reconhecê-lo-ão, baterão no peito e compreenderão que as feridas infligidas ao outro, ao irmão ou à irmão, eram feridas que atingiam o Senhor, o qual agora se mostra juiz misericordioso mas temível
Será essa também a hora da reunião de todos os eleitos, os justos, aqueles que viveram exercitando a confiança no outro, esperando junto aos outros, amando quem tinham perto de si e tornavam próximo
Os discípulos de Jesus não devem, por isso, perguntar «quando?», mas devem sobretudo perguntar-se se eles próprios estarão prontos a acolher esse acontecimento da parusia como salvação, se serão capazes de se alegrar diante da vinda do Filho do homem, se terão sabido esperar com perseverança aquela hora
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