Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura - Logótipo
secretariado nacional da
pastoral da cultura
Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura - Logótipo
secretariado nacional da
pastoral da cultura

A paz faz-se com a cultura

Imagem Nicolau de Cusa

A paz faz-se com a cultura

De cada vez que penso no quanto os humanistas se mostraram abertos às culturas de outros povos, fico profundamente admirado. Já no séc. XV Nicolau de Cusa teve a genial intenção de convocar um concílio em que participariam não só os cristãos de cada confissão, mas também os representantes de outras religiões para discutirem sobre a «paz da fé». A sua intenção era estabelecer uma só religião na diversidade dos cultos.

Na mesma época o papa Pio II escreveu uma carta a Maomé II, sultão dos turcos, na qual confrontava muitas doutrinas cristãs com as islâmicas. Mas devemos limitar-nos à Igreja? Bastará passar os olhos pelos filósofos, como Pico della Mirandola, entre os italianos, Johann Reuchelin, entre os alemães, ou, pouco depois Jean Bodin, em França, que penetraram na literatura árabe, hebraica, caldeia, para compreender a raiz comum do humano conseguida juntamente com a paz universal.

O fenómeno é de extraordinária importância, e quase incrível, e vale a pena, hoje, indagar não tanto os seus efeitos, que foram os que foram, mas as causas. Se alguém pedisse a minha opinião sobre a origem daquele interesse, diria que, sem dúvida, um papel importante foi o ensinamento do grego.

Enquanto a língua grega foi quase desprezada como idioma dos cismáticos e dos pagãos, os católicos ficaram confinados ao recinto dos textos latinos, e neles, sobretudo, os escritos cristãos. Mas assim que tiveram a coragem de dar um passo em direção aos clássicos gregos, foi como se tivessem saltado espontaneamente uma parede na qual estavam fechados e ampliado com o olhar do espírito as fronteiras, que desde há muito sentiam como apertadas.

Pode então ler-se, não por intermédio de outros, mas por si próprio, a doçura da poesia homérica e de outros poetas, os tesouros de Platão e de Aristóteles. Com a curiosidade a crescer e tornados mais fortes na sua competência, avançaram e não se limitaram a indagar as próprias raízes, mas começaram a procurar as comuns e a considerar as visões que antes pareciam estranhas, se não mesmo hostis, como já mais próximas e, para o dizer numa palavra, humanas.

Este admirável exemplo do passado mostra-nos a força da cultura humanista no aplacar ódios e hostilidade; e talvez também hoje, quando vemos ressurgir tantos males, nos fizesse bem recordá-lo.

 

Luigi Miraglia
In "Avvenire"
Trad.: Rui Jorge Martins
Publicado em 20.09.2016

 

 
Imagem Nicolau de Cusa
Relacionados
Destaque
Pastoral da Cultura
Vemos, ouvimos e lemos
Perspetivas
Papa Francisco
Teologia e beleza
Impressão digital
Pedras angulares
Paisagens
Umbrais
Evangelho
Vídeos