Nós, emigrantes da vida, quantas desatenções, quanto tempo perdido! Corre-se e busca-se com tensão, mas sem atenção. Há aqueles que não têm vontade de escutar, aqueles que dizem que não precisam disso, aqueles que escutam, mas compreendem à sua maneira, aqueles que não escutam porque são rebeldes, ou porque são indiferentes.
Faz dez anos que piso o tijolo da igreja de Romena. Cheguei desatento, só vi que dentro dela havia coisas a mais, tinha de tirar para dar essencialidade e beleza àquelas pedras. Removi, desloquei e coloquei as coisas no lugar que sentia onde deviam estar.
Desde então passaram anos de trabalhos, de organização, de corridas, de procura de ideias e de mestres para perceber, fora de Romena, onde levar Romena. Fiz e desfiz, cruzei meio mundo para encontrar ideias e soluções. Andei a correr durante anos.
Depois, numa manhã, cedo, com o Sol do oriente filtrado pelas pequenas fendas da igreja, assentei a atenção não àquilo que procurava, mas a onde estava. Tudo aquilo que tinha procurado em tantos anos já estava escrito ali, bastava estar atento.
Que surpresa dar-me conta de que, como todas as igrejas românicas, Romena devia permanecer um simples ponto de paragem para a peregrinação da vida, e se aquela igreja tinha sido construída em “tempore famis”, em tempo de carestia e de crise, era precisamente sobre cada crise do ser humano que eu devia fundar a mudança.
Além disso, aquelas pedras tão próximas diziam-me que este pequeno espaço devia tornar-se o sinal de um abraço, como de um pai para um filho, e oferecer simplesmente a quem passava por aqui duas ou três chaves para interpretar melhor a sua vida.
Naquela manhã, a igreja estava tão bela, que percebi o significado pleno do belo, aquela beleza feita de harmonia e de medidas certas, com as sete colunas da origem, as sete janelas e as catorze fileiras de pedra da abside. Compreendi que o dom que podíamos dar a cada pessoa que nos vinha encontrar ou que passava por aqui era poder ajudá-la a encontrar um mínimo de harmonia e equilíbrio.
Já tudo estava escrito e tudo me indicava a estrada que tinha de percorrer. Quem não tem cabeça tem pernas, ou melhor, quem não tem atenção tem pernas.
«Porque é que fazes assim, coração meu?», pergunto-me tantas vezes. Não te chegam os sinais que te rodeiam? Poderia Deus acrescentar perfeição à perfeição, beleza à beleza?
A desatenção é, verdadeiramente, o maior pecado do nosso tempo. Há pessoas que, se não estivermos atentos, não compreendermos o quanto são grandes, há problemas da vida em torno dos quais giramos sem fim sem nunca encontrar uma solução por causa da nossa desatenção.
A vida é feita de rebentos. A vida não é uma construção sólida, completa, precisa e definitiva, mas um rebento a que não te podes agarrar para encontrar segurança e derrotar o medo.
Cada sinal de vida deve ser protegido e cultivado, recordando-te de que ele está lá para ti e é já um fruto potencial que precisa de muita atenção.
Uma atenção que te ajude a não cair na indiferença ou na tibieza. Porque a indiferença e a tibieza esvaziam progressivamente a respiração do eterno que está em ti. E transformam a tua vida numa espiral sem sentido de ritos e de hábitos.