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Leitura: "A arte da vida - O quotidiano na beleza"

Imagem Capa (det.) | D.R.

Leitura: "A arte da vida - O quotidiano na beleza"

«Quando o pensar, o habitar o espaço, o vestir-se, o comer, a educação, a imaginação, o trabalho e até mesmo o fracasso se tornam revelação da vida nova, da humanidade redimida, o ser humano volta a ser feliz e a fé torna-se a força da Beleza, a espiritualidade da Sabedoria, o esplendor da Luz sem ocaso.»

Este é o ponto de partida para "A arte da vida - O quotidiano na beleza", novo livro do religioso jesuíta esloveno Marko Ivan Rupnik (1954), autor do grande painel de mosaicos no interior da basílica da Santíssima Trindade, em Fátima, que a Editorial A.O. vai lançar proximamente.

"Educar e formar", "A imaginação", "Uma habitação segundo o homem novo", "A roupa", "A comida", "O fracasso" e "A conversão da mente à vida" são os temas dos capítulos desenvolvidos pelo autor, que além da criação artística é especialista nas relações culturais e religiosas entre Oriente e Ocidente da Europa.

 

A arte da vida
Prefácio à Edição Portuguesa
Marko Ivan Rupnik, S.J.

O que é que não pode acontecer à fé? Que esta se separe da vida, porque a fé cristã é uma experiência da vida nova.

O crente não persegue ideais mas torna-se manifestação de Deus, do seu amor pascal na sua humanidade, através da sua humanidade. A fé faz da nossa humanidade uma teofania. O Filho de Deus tinge-se das nossas cores. O crente não procura na sua vida espiritual ou moral a perfeição. A perfeição tem a ver com a forma, como nos ensina a arte clássica. Mas o crente caminha na direção do seu cumprimento, que tem a ver com a comunhão e com o amor. E a realização plena do amor na história é o tríduo pascal, pelo que o cumprimento da fé é pascal. Discernir este cumprimento em nós e na história é a arte da contemplação. Esta colhe a transfiguração que acontece quando um princípio pessoal do amor penetra na matéria deste mundo, penetra a história, todos os acontecimentos. O nosso olhar sobre os acontecimentos que se sucedem, seja na nossa vida ou na vida do mundo, não é um olhar de simples análise, mas é antes um olhar que, partindo do cumprimento e à luz desse mesmo cumprimento, experimenta e colhe o sentido e o significado de tudo o que nos acontece. Um olhar litúrgico, lavado pela experiência do "éschaton", é o olhar da fé que liberta e que nos leva a um conhecimento que se traduz na vida. Traz consigo o dom da vida. Ver dentro das coisas, dentro da história e descobrir uma outra história, descobrir um olhar com o qual nos sentimos unidos, esta é a via real da fé que é a via do símbolo. Não separar os dois mundos, não indicar uma outra realidade, mas encontrar dentro daquilo que se vive e que está à nossa volta a abertura ao Reino. A unidade e a comunhão são sinónimos de ser redimidos e são a participação no Espírito Santo que é a vida como união e como amor.

Estes são alguns acenos daquilo que será aprofundado neste livro, que escrevi ao longo de muitos anos. Não pretende ser um livro exaustivo, mas antes um livro que abre seriamente algumas das questões que considero fundamentais e essenciais para recuperar uma visão íntegra e superar fraturas nas quais jaz a nossa consciência cristã de hoje: a teologia, ou melhor, as teologias vão por um lado, a pastoral apresenta-se como uma questão de metodologia separada do conteúdo; a espiritualidade como uma espécie de processo psicocultural secularizado com devocionismos para satisfazer as exigências religiosas; a liturgia e a eclesiologia submetidas à gestão dos gostos subjetivos; a construção de igrejas como espelho de uma identidade perdida.

Quero colocar em evidência que para superar esta situação não ajudam os alinhamentos entre aqueles que querem o Cristianismo com uma forma secularizada aderente ao gosto das maiorias, nem aqueles que sonham com um Cristianismo para-estatal, imperial e dominante. É necessária a manifestação de uma vida nova, que exige uma inteligência nova e também que a cultura não seja simplesmente um produto do homem, mas tecida de sinergia divino-humana. Esta é a beleza, «a verdade revelada é o amor, o amor realizado é a beleza». A beleza requer um ímpeto criativo e a criatividade, em sentido teológico, é uma subida de nível da qualidade de vida, no sentido definitivo, isto é, retirar a vida à corrupção e dar-lhe o caráter definitivo. A verdadeira criatividade pertence só à Igreja que, com os seus sacramentos, transfigura a vida humana na vida divino-humana. A criatividade é, portanto, comunicar e revelar com a própria vida a verdade, isto é, dar corpo ao Logos e dar corpo ao Bem, ao Amor. Tornamo-nos belos quando somos a carne do Verdadeiro e do Bom. «A beleza é a carne do Verdadeiro e do Bom».

Uma Igreja sem beleza pode ser cosmética, porque procura agradar ao mundo, mas por fim desilude. Pode ser capaz, diligente, organizada, culturalmente ágil, academicamente preparada, mas nunca será atraente e não aliciará ninguém. Ninguém se apaixonará e ninguém se meterá a caminho na sua direção.

Não escondo a alegria pela tradução deste livro em português. Já há muitos anos que a amizade me une a muitos portugueses, mas sobretudo o mosaico da basílica da Santíssima Trindade em Fátima faz-me sentir uma espécie de parente vosso, ó portugueses.

 

Edição: Rui Jorge Martins
Publicado em 23.10.2015

 

Título: A arte da vida - O quotidiano na beleza
Autor: Marko Ivan Rupnik, S.J.
Editora: Editorial A.O.
Páginas: 216
Preço: 12,00 €
ISBN: 978-972-39-0799-5

 

 
Imagem Capa | D.R.
O crente não procura na sua vida espiritual ou moral a perfeição. A perfeição tem a ver com a forma, como nos ensina a arte clássica. Mas o crente caminha na direção do seu cumprimento, que tem a ver com a comunhão e com o amor
Ver dentro das coisas, dentro da história e descobrir uma outra história, descobrir um olhar com o qual nos sentimos unidos, esta é a via real da fé que é a via do símbolo. Não separar os dois mundos, não indicar uma outra realidade, mas encontrar dentro daquilo que se vive e que está à nossa volta a abertura ao Reino
É necessária a manifestação de uma vida nova, que exige uma inteligência nova e também que a cultura não seja simplesmente um produto do homem, mas tecida de sinergia divino-humana. Esta é a beleza, «a verdade revelada é o amor, o amor realizado é a beleza»
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