Vinde Espírito Santo… a cada manhã peço um raio da sua luz.
Ao Espírito que sopra como o vente leve e imprevisível dos anoiteceres de primavera, peço que não me deixe que eu me engane ao viver o passado ou o futuro sem viver o hoje.
Peço ao Espírito para ser como o fogo que me aquece nos dias de inverno, esse fogo que me impele a ser forte comigo e com a vida, de me fazer violência quando o desejo não se torna vontade, e quando não forço o sonho a tornar-se realidade.
Peço ao Espírito que me faça falar com amor, com aquela única linguagem que todos compreendem, amigos e não amigos, crianças e idosos, crentes e não.
Peço ao Espírito Santo a unidade nas nossas diversidades, porque só se estivermos unidos o mundo se desarmará; um Espírito que desça sobre todos e seja para todos, que congregue as pequenas labaredas espalhadas neste mundo.
Peço ao Espírito a coragem de romper as nossas atitudes de defesa, o nosso estar atrás dos muros, o nosso medo que escondemos por trás das leis e das normas.
Peço aquele espírito nascido do último respiro de Jesus na cruz, que beija o mundo e nos recorda quanto é difícil permitir a Deus que nos ame.
O eco do “Vinde Santo Espírito” nas pedras da igreja, a cada manhã, diz-me que Ele entra se o deixo entrar, se vivo uma vida autêntica e se, como um verdadeiro profeta, me recordo do futuro. Diz-me para olhar para trás para recordar, mas sobretudo para ter a coragem de olhar em frente para inventar; sem a fantasia, a memória torna-se uma prisão.
O Espírito cria cada dia, é novo cada dia. Não devemos temer o novo que vem ao nosso encontro; aquilo que verdadeiramente devemos temer é uma vida sem um sentido e que não dá mal-estar a ninguém, uma vida tranquilizante que deixou de ter vontade de lutar.
Os apóstolos estavam fechados no cenáculo onde o único apoio era a feminilidade de Maria e o seu olhar de esperança. Esperava-se que o medo passasse e o calor do fogo da lareira se tornasse o fogo do coração. Uma manhã cedo, acompanhado pela estrela da manhã, o Espírito abre as portes para tirar o medo.
Por vezes pode chegar-se a abrir as portas, mas depois permanecer enjaulados num espírito de timidez que não testemunha, que não tem força, que não tem amor, que não tem atenção. Ao passo que o Espírito é força e liberdade e não se pode deter.
As portas do cenáculo, abertas para o mundo, continuam a dizer-nos que o Espírito sopra onde quer e quando quer, e que é preciso muita atenção, para lhe colher a sua leve presença.
Aquela porta aberta diz-nos também que não podemos contê-lo, mas só segui-lo e dar-lhe espaço.